Multimercados priorizam apostas táticas e de curto prazo após eleição, enquanto ficam de olho no exterior

Márcio Fontes, diretor da Asa Investimentos, diz que recuo em ações como as da Petrobras pode ser oportunidade de se fazer uma "posição pequena”

Neide Martingo

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O mercado estava ávido pela conclusão do segundo turno da eleição. Mas agora, apesar de já se saber que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltará ao Palácio do Planalto para um terceiro mandato doze anos depois de ter deixado o cargo, as incertezas continuam em alta.

Márcio Fontes, diretor da gestora Asa Investimentos, afirma ter uma visão “equilibrada e ponderada” com relação ao tema. Para ele, a boa opção é aquela em que “ganha-se muito e perde-se pouco”.

Em edição especial do Infomorning nesta manhã, Fontes afirmou que as ações da Petrobras sofreriam nesta segunda-feira (31) por conta do resultado da eleições. O presidente Jair Bolsonaro (PL) acenava com a possibilidade de privatizar a empresa num segundo mandato, enquanto que Lula seria mais inclinado a regular os preços dos combustíveis. “Pode ser uma oportunidade de se fazer uma posição pequena”, disse Fontes. “Com cautela, algumas empresas do setor de bancos podem ser interessantes, já que teremos juros altos por algum tempo”, completou.

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O executivo da Asa não tem claro o momento em que a Selic, taxa básica de juros, começará a ser reduzida pelo Banco Central. Para ele, o Brasil está na frente do mercado internacional, no que se refere ao ajuste monetário. Mas as incertezas com relação às medidas para que a inflação seja debelada no mundo podem respingar na nossa economia, disse o especialista.

O governo já conhecido, diz ele, precisa mostrar como vai lidar com a trajetória fiscal e com a eleição.  Fontes destacou que o mercado precisa saber quem será o ministro da Economia no novo governo.  “Os nomes que estão circulando, de Henrique Meirelles e Marcos Lisboa, deixam o mercado mais tranquilo”.

Fontes destacou o “lado positivo” da vitória do candidato do PT. “Há a bandeira ecológica, com a proteção da Amazônia, que amealha muito apoio por parte dos parceiros internacionais, que pode trazer resultados práticos que favoreçam o Brasil”, disse.

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De olho na cena externa

Assim como o gestor da Asa, que no momento vê apenas a possibilidade de ajustes táticos e de curto prazo na carteira, outros agentes de mercado estimam que os multimercados não deverão passar por grandes mudanças no portfólio.

“A maioria dos multimercados está pessimista com o mercado americano. Isso pode resultar numa posição tomada em juros, esperando que as taxas subam, e até vendidas em bolsa, esperando que as ações caiam”, diz Bruno Komura analista da Ouro Preto Investimentos. “Na Europa, o cenário da maioria dos fundos também é negativo, sem falar no problema inflacionário, por conta dos estímulos da guerra [entre Rússia e Ucrânia], que afetam os preços de energia ainda mais”.

Na China, há o temor do que pode acontecer no futuro. Recém-confirmado para conduzir o país em seu terceiro mandato, o presidente Xi Jinping não tem sucessor e poderia tentar até um quarto mandato. “Ele deve beneficiar os setores ligados a consumo, energia renovável e inteligência artificial”, afirma Komura.

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Atualmente, na visão do especialista, os gestores de multimercados têm apostado mais nas teses globais de investimentos do que propriamente nas domésticas. Antes de se posicionar por aqui, os eles esperam que exista maior visibilidade. “O novo presidente precisa esclarecer qual será a nova âncora fiscal e quem vai compor a equipe econômica, o que ficará no lugar do viés liberal”, questiona.

Carlos Macedo, economista e especialista em alocação de investimentos da Warren, afirma que os fundos multimercado, em geral, vem carregando posições pessimistas em relação ao cenário externo, como posições compradas em taxa americana e vendidas em ações do mesmo país e, só recentemente, passaram a aumentar gradualmente o risco alocado no Brasil. “Continuamos vendo a classe com importante contribuição ao balanceamento das carteiras de investimento”.

Para ele, o posicionamento internacional pessimista auxilia na proteção das carteiras, no caso de forte aversão a risco no exterior. E o baixo posicionamento ainda no Brasil diminui a correlação com os fundos de ações locais. Além disso, a alta volatilidade favorece estratégias que possuem um horizonte de investimento mais curto, como boa parte dos multimercados.

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Para Thiago Calestine, economista e sócio da Dom Investimentos, os multimercados podem ser os curingas da carteira, já que são interessantes em tempos de volatilidade, mas também rentáveis em momentos de calmaria. “Os fundos permitem que se atue em vários ativos, como ações, títulos, juros e moedas. Não é porque enfrentamos um ambiente volátil, com uma transição significativa, da direita para a esquerda, politicamente falando, que eliminaremos esse produto”, afirma Calestine.

Segundo ele, se o ambiente for mais negativo do que o esperado,  é possível optar pelo “hedge dos hedges”: o dólar.

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Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney