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A leitura de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) poderia amenizar a alta dos juros nos Estados Unidos, aliada à visão de que, por aqui, o Banco Central já teria encerrado o ciclo de elevação da taxa Selic, ajudaram a impulsionar o desempenho da Bolsa brasileira e a atrair capital estrangeiro para a renda variável local no último mês. O reflexo disso foi o avanço de quase 9% do Ibovespa nos últimos 30 dias, até o pregão de segunda-feira (29).
A subida do índice, no entanto, não parece ter sido acompanhada por um aumento de exposição à Bolsa pelos gestores de fundos multimercados do tipo macro. Até aqui, não houve um aumento de posições compradas, que apostam na alta das ações locais, nem o encerramento de alocações vendidas (que embutem expectativa de queda dos papéis). A avaliação é de Fernando Siqueira, head de research da Guide Investimentos.
Segundo monitoramento feito por Siqueira, Rodrigo Crespi e Gabriel Garcia, da corretora Guide, nos últimos 30 dias até 19 de agosto, a alocação de fundos multimercados do tipo macro em Bolsa brasileira era de apenas 4,8%, abaixo da média de 12% registrada nos últimos cinco anos.
Para o estudo, o especialista analisou a correlação entre o Índice de Hedge Funds Anbima (IHFA) – que oferece uma média dos retornos de multimercados de gestão ativa no Brasil – e o desempenho do Ibovespa no período.
O levantamento mostrou ainda que a posição em renda variável local e externa dos multimercados do tipo macro também estava bem abaixo da média dos últimos três anos. Nos cálculos dos especialistas da Guide, a alocação atual dos portfólios no Ibovespa e no S&P500 é menor do que 10% (4,8% para o Ibovespa e 2,3% para o S&P500), ante uma média de quase 25% nos últimos três anos.
Baixa exposição: cenário externo e local
Para Siqueira, o motivo para a baixa exposição à renda variável local pode estar no fato de que gestores estão à espera de mais dados que mostrem que a inflação no Brasil deve recuar, assim como previsões que apontem possibilidade maior de o Banco Central iniciar cortes de juros no ano que vem.
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Segundo as projeções dos economistas da Guide, a autoridade monetária pode ter condições de realizar o primeiro corte a partir do segundo trimestre de 2023, diante dos recuos nas projeções de inflação. Boa parcela do mercado, no entanto, ainda acredita que o corte só poderá ser feito a partir do segundo semestre do ano que vem.
O Relatório Focus divulgado nesta semana confirma o recuo nas projeções para a inflação. Segundo o documento, o ponto médio das projeções dos economistas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é de 6,70% neste ano. Um mês atrás, a mediana das estimativas estava em 7,15%.
Da mesma forma, as estimativas para a inflação oficial em 2023 também caíram levemente – pela segunda semana seguida – e agora estão em 5,30%. Quatro semanas atrás, as projeções estavam em 5,33%.
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Embora alguns índices demonstrem certo recuo nas pressões inflacionárias, Marcelo Ferman, CEO e gestor da Parcitas Investimentos, prefere ser cauteloso e defende que a volta dos multimercados da casa para a Bolsa local estaria condicionada ao arrefecimento da inflação de maneira mais sustentável. O executivo também mostra-se preocupado com possíveis discursos que demonstrem forte desejo de ingerência em empresas estatais negociadas em Bolsa.
Leia mais:
• Relatório Focus: cai expectativa de inflação para 2022 e 2023
Ainda que o mercado siga cauteloso, preocupações em torno das eleições não parecem ter afetado o desempenho de papéis de estatais. “Estamos vendo as ações de Petrobras e Banco do Brasil subirem. Se a visão com as eleições fosse mais negativa, as duas ações não estariam subindo, e sim caindo”, pondera Siqueira.
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No último mês, até o pregão desta segunda, as ações preferenciais da Petrobras (PETR4) avançaram 18,55%, enquanto as ordinárias do Banco do Brasil (BBAS3) registraram alta de 20,29%.
Na avaliação do especialista da Guide, a vitória de qualquer um dos dois candidatos mais fortes hoje nas pesquisas – Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou de Jair Bolsonaro (PL) – não deve trazer grandes surpresas ao mercado, porque ambos já são figuras conhecidas dos agentes financeiros.
“Acho difícil que Lula seja eleito e faça algo diferente do que fez nos governos anteriores. Anteriormente, ele insistiu para ter um ministro da Economia forte e deve adotar um primeiro ano de mandato mais ortodoxo”, avalia o especialista.
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Já se o eleito for Bolsonaro, Siqueira defende que não deve haver grande estresse, já que historicamente o mercado costuma preferir governos de direita e os agentes já conseguem ter uma ideia de como será o próximo mandato com base no atual.
Enquanto isso, do lado externo, o profissional explica que o mercado parece aguardar uma “estabilização do cenário”. Ele afirma que os dados econômicos nos Estados Unidos mostraram sinais “confusos” e que a leitura é que é preciso ter um pouco mais de convicção para voltar a alocar.
Ainda que Fed tenha adotado um discurso mais hawkish (inclinado ao aperto monetário) na última sexta-feira (26), Siqueira afirma que o mercado está precificando que os juros subam até 3,5%.
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“Acredito que o juro americano pode ir para 4%. Logo, o ajuste adicional que teria que ser feito é pouco em relação aos 3,5% que já são precificados hoje”, defende, dizendo que essa alteração pode ser menos prejudicial ao mercado de renda variável nos EUA.
Mas há quem ainda veja um cenário bastante nebuloso nos Estados Unidos. Para Ferman, da Parcitas, o retorno para uma alocação significativa em Bolsa americana – hoje a casa está com posição praticamente zerada – estaria ligada à uma sinalização mais forte do Fed e de outros bancos centrais de países desenvolvidos acerca da taxa que eles iriam adotar até o fim do ciclo de aperto monetário.
“O ciclo de cortes nos EUA parece mais distante agora. Seguimos tomados em juros americanos. Está difícil ver a recessão, ela está sendo postergada, com a atividade econômica se mostrando robusta. Com isso, o Fed terá que seguir puxando os juros de forma mais dura”, destaca o CEO da Parcitas.
É hora de alocar em Bolsa?
Embora a cautela pareça predominar entre os gestores, Siqueira acredita que não há como “esperar uma correção muito grande” dos ativos para voltar a alocar, a não ser que haja um evento muito fora do radar.
“Eles correm o risco de ficar muito para trás. Para um mês em que a Bolsa subiu tanto, chama atenção que o rendimento médio dos fundos multimercados esteja apenas um pouco acima do CDI”, pondera o especialista da Guide.
A título de comparação, neste mês, o Ibovespa avançou 8,88%, enquanto o IHFA – que representa a média dos fundos multimercados – subiu 2,14% e o CDI (taxa de referência dos multimercados) teve alta de 1,07%.
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