Multimercado, crédito ou FIIs? Veja como investir em fundos com a Selic em 10,50%

Por outro lado, especialistas aproveitaram momento para reduzir exposição em multimercados após janela mais difícil em termos de retorno

Bruna Furlani

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Diante do tom mais duro adotado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em decisão desta quarta-feira (31) que manteve a Selic elevada por um período mais longo do que o previsto, fundos ligados a crédito privado e inflação têm sido as principais apostas entre alocadores neste momento.

“O CDI vai ficar alto por mais tempo. Vai ser difícil ver a Selic ir para um dígito baixo agora”, diz Catherine Cruz, CIO da Integrity Wealth Management, que tem alocado em fundos tradicionais de crédito privado e crédito estruturado (produtos que envolvem operações um pouco mais complexas e que tratam de papéis não convencionais).

A preferência é por fundos com resgates mais longos — pelo menos, a partir de 45 dias, sendo que 180 dias seria o ideal. “Num momento de crise, os primeiros fundos que o investidor pede resgate são os mais curtos e o gestor é obrigado a vender a papéis a ‘preço de banana’. Se ele tiver seis meses para honrar com os resgates, ele não corre tanto esse risco de destruição de valor”, acrescenta a executiva.

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De olho em um CDI ainda elevado, Tatiana Guedes, gerente de produtos da InvestSmart, conta que aumentou a posição em ativos pós-fixados por meio de alocações em fundos DI e fundos de crédito privado. Mesmo com spreads (juros adicionais que um ativo de crédito oferece em relação ao papéis públicos) menores nos papéis de crédito privado, a profissional diz que vê boas oportunidades de carrego.

Fundos Incentivados de Investimento em Infraestrutura (FI-Infras) engordam a lista de apostas de casas como a Integrity. Cruz explica que esse tipo de produto possui a isenção de Imposto de Renda sobre os dividendos e sobre o ganho de capital e que os fundos poderiam se beneficiar de um eventual fechamento (recuo) das taxas de juros reais.

“No curto prazo, pode ter volatilidade, mas é um investimento bom para um horizonte de um ou dois anos porque o carrego está muito alto. Outro ponto é que não há risco de estresse com a venda forçada de papéis pelo gestor, como em fundos não listados”, observa.

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Por outro lado, há quem prefira fundos que investem em títulos públicos atrelados ao IPCA, como a Est Gestão de Patrimônio. André Freitas, especialista de portfólio na casa, explica que um dos grandes destaques desses tipos de produtos é que o retorno oferecido por eles esteve acima do CDI em boa parte das janelas ao longo dos últimos 10 anos. “Estamos um pouco acima do neutro nessa classe e carregamos esse tipo de fundo para todo tipo de cliente”, observa.

Menos multimercados nas carteiras

Ao mesmo tempo em que as casas aproveitaram os últimos meses para elevar posições em fundos de crédito privado e em produtos que alocam em papéis atrelados à inflação, as gestoras optaram por reduzir alocações em multimercados após janelas piores de retornos nos últimos 12 meses.

Freitas, da Est, defende que a gestora preferiu reduzir a exposição para entender como os gestores vão se reorganizar nos próximos meses, mas que acredita que a alocação “faz sentido” para os portfólios por causa da agilidade que os produtos podem ter. “É uma classe que sempre gerou valor, só que está passando por um momento complexo. É difícil entender o porquê. Vamos tirar o pé e ver como as coisas se ajeitam”.

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Cruz, da Integrity, reforça que o momento exige uma espécie de “fund picking“, ou seja, uma seleção mais criteriosa dos gestores que serão colocados na carteira. “Gostamos de multimercados mais macro com estratégias de ‘tiro mais curto’. Se o gestor errar, ele não perde o ano”, resume.

Mário Okazuka Jr, CEO da GCB Capital, acrescenta que a indústria de multimercados é ampla, mas que os fundos brasileiros acabam tendo uma correlação muito grande entre si. Nesse caso, diz, a sugestão é que o investidor busque teses de investimento mais diferentes e que procure entender o modelo de gestão e as principais apostas das casas.

Há oportunidades em FIIs

Embora ativos de risco como fundos imobiliários (FIIs) tenham sofrido ao longo deste ano, algumas casas têm discutido um eventual aumento da alocação, como a Est. Freitas diz que o dividend yield (retorno com dividendos) dos produtos está num patamar “interessante” e sugere um mix entre fundos de tijolos (que investem em imóveis físicos) e fundos de papel (que alocam em títulos de dívida imobiliária) para incrementar os retornos da carteira.

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A alocadora da Integrity também diz ver oportunidades em vários FIIs que estão com as cotas bastante descontadas, mas pondera que o investidor precisa ter paciência ao entrar nesse tipo de mercado. “É um mercado em que há muita pessoa física. Fundos podem ser penalizados mesmo que os fundamentos estejam bons”, resume.