Milionários mantêm R$ 55 bi na poupança e deixam de ganhar até R$ 3 bi ao ano

Simulação compara quanto o montante renderia em outras aplicações de renda fixa

Equipe InfoMoney

Fonte: Shutterstock
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Os milionários da poupança – pessoas com mais de R$ 1 milhão aplicados na caderneta – estão deixando de ganhar somas também milionárias ou até mesmo bilionárias com essa aplicação. Uma simulação feita pela Ouro Preto Investimentos dá conta dos montantes que esses investidores vêm deixando na mesa, e que se tornam mais evidentes à medida que o tempo passa.

O levantamento levou em consideração os R$ 55 bilhões que pertencem aos investidores com mais de R$ 1 milhão aplicado na poupança e comparou o rendimento desses recursos com outras aplicações de renda fixa de diferentes rentabilidades, como CDBs, LCIs e LCAs, títulos públicos (Tesouro Selic, Tesouro Prefixado e Tesouro IPCA), CRAs e CRIs.

Considerando o período de um mês, esses R$ 55 bilhões aplicados na caderneta renderiam cerca de R$ 332 milhões. É o rendimento mais baixo de todos – nas demais aplicações em renda fixa, esses mesmos R$ 55 bilhões renderiam de R$ 381 milhões (na aplicação alternativa com rendimento mais baixo, a LCI/ LCA pagando 80% do CDI) a R$ 540 milhões (opção com maior rendimento, o Tesouro Prefixado 2031), conforme a tabela abaixo. Os cálculos foram feitos por Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.

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Com o passar do tempo, a diferença de rendimentos deixa de ser milionária e se torna bilionária. Considerando um prazo de aplicação de três anos, se esses investidores tivessem optado pela aplicação alternativa com rendimento mais baixo (LCI/ LCA pagando 80% do CDI), teriam ganhado R$ 2 bilhões a mais do que se o dinheiro tivesse ficado na poupança. E, considerando a melhor alternativa (Tesouro Prefixado 2031), o teriam ganhado R$ 9 bilhões – em média R$ 3 bilhões ao ano – a mais do que na poupança (veja diferentes simulações na tabela abaixo).

Quanto mais o tempo passa, maior é a diferença por conta do efeito da capitalização dos juros (rendimentos que incidem sobre o patrimônio aplicado e os rendimentos do passado). Assim, se for levada em conta a aplicação por cinco anos, os R$ 55 bilhões renderiam R$ 4 bilhões a mais do que na pior aplicação alternativa e R$ 18 bilhões na melhor.

O estudo levou em conta as rentabilidades brutas. Mas, mesmo considerando que os rendimentos das demais aplicações são tributados (à exceção das LCIs e LCAs, que também são isentas) eles ainda saem ganhando de lavada da poupança – as alíquotas variam de 22,5% a 15%, conforme o prazo de aplicação. Isso ocorre porque, atualmente, a remuneração da poupança é de 0,5% ao mês (6,17% ao ano) mais a Taxa Referencial (TR), que nos últimos 12 meses foi de 1,24%. Ou seja, a remuneração da caderneta é bem inferior à atual taxa Selic, de 10,5% e ao CDI, que está em torno de 10,4% ao ano. Quando a Selic cair abaixo de 8,5%, a regra muda e a caderneta passa a render 70% da Selic mais a TR.

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“A questão é cultural. Poucas pessoas sabem que podem abrir o aplicativo do banco e ver que há várias outras opções disponíveis, como o CDB. Ainda falta educação financeira”, avalia Lima, da Ouro Preto Investimentos. Para ele, a falta de informação explica porque até mesmo pessoas com mais de R$ 1 milhão disponíveis para investir – e que têm acesso a bons produtos de investimento – continuam aplicando na caderneta. Há, também, “apego à tranquilidade”, considera.

Lima lembra também que o investidor deve levar em conta o ganho real, ou seja, o quanto obtém acima da inflação. No caso de todas as aplicações de renda fixa, mas da poupança em especial por conta da baixa rentabilidade, há o risco de o investidor perder para a inflação, ou seja, que o dinheiro aplicado não consiga nem manter o valor de compra. Isso porque a “gordura” de rendimento acima da inflação – que hoje estaria em torno de 3,7%, considerando uma projeção para o IPCA no ano que vem – pode ser facilmente corroída se houver uma surpresa negativa, um repique inflacionário.

João Pedro Silva, head da mesa renda fixa da Status Invest, também atribui a manutenção dos recursos dos milionários na caderneta ao fator cultural e geracional: “As gerações anteriores não tiveram tanto acesso à informação como temos agora. A poupança é sinônimo de segurança e rentabilidade certa, embora existam vários investimentos com risco equivalente e rentabilidades superiores. O que dificulta é a falta de educação financeira”, avalia.

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Silva lembra que o risco que o investidor corre na poupança é o mesmo que corre no CDB ou numa LCI ou LCA: é o risco da instituição financeira onde aplicou. Todas as três modalidades de investimento, aliás, contam com a garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que cobre perdas de até R$ 250 mil por CPF e por instituição, limitadas a R$ 1 milhão e renováveis por um prazo de 4 anos. Ou seja, caso ocorra a quebra de um banco onde o cliente tem 4 aplicações diferentes (LCI, LCA, CDB e poupança) de R$ 250 mil cada, o FGC irá reembolsar o investidor.

O ano de 2020 foi o último em que a caderneta de poupança apresentou captação líquida positiva, ou seja, que as aplicações superaram os saques – vale lembrar que foi um ano atípico por conta da pandemia, que levou as pessoas a guardarem mais dinheiro. A captação líquida ficou negativa em R$ 35,4 bilhões, R$ 103 bilhões e R$ 87,8 bilhões em 2021, 2022 e 2023 (os números levam em conta a caderneta do SBPE e a poupança rural). No início do ano atual, segue a tendência de resgates maiores que aplicações: a caderneta estava com captação negativa em quase R$ 24 bilhões até o fim de abril. Em maio, a captação estava positiva em cerca de R$ 3 bilhões até o dia 17.