Fiagro de “terra” lidera ranking de dividendos pela primeira vez – mas por uma razão técnica; entenda

Retorno médio dos Fiagros foi de 1,34% em maio, abaixo do 1,38% registrado em abril; resultado equivale a 139% do CDI no mês

Katherine Rivas

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A rentabilidade dos Fiagros (fundos que investem nas cadeias produtivas agroindustriais) diminuiu em maio, mas continuou superando a taxa do CDI – e com folga.

O retorno com dividendos (dividend yield) médio dos Fiagros tipo FII (que reproduzem a estrutura dos fundos imobiliários) foi de 1,34% no mês, abaixo do 1,38% registrado em abril. O resultado equivale a uma taxa de 139% do CDI no mês, mostra levantamento da Órama.

Considerando o gross-up da tributação, dado que os Fiagros são isentos de Imposto de Renda, o retorno equivale a uma taxa de 1,57% no mês. Gross-up é um cálculo que permite a comparação de investimentos isentos e não isentos de tributos.

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Pela primeira vez, um Fiagro de “terra” dominou a lista. O FZDA11, da 051 Capital, teve um dividend yield de 1,90% em maio. O fundo pagou R$ 2,26 por cota.

Diferente dos Fiagros de “papel”, que investem prioritariamente em CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), o Fiagro de “terra” investe diretamente em fazendas. O FZDA11, por exemplo, possui apenas uma propriedade no portfólio, a fazenda Xingu, dividida em seis imóveis.

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A Fazenda Xingu fica no município de Balsas, no Maranhão, na região conhecida como Matopiba – uma das últimas fronteiras agrícolas do Brasil. O perfil do Fiagro é high yield (de maior risco) por investir em equity e ter uma concentração de ativos, avaliam analistas.

Segundo Danilo Carvalho, analista de Fiagros da Ticker Research, o FZDA11 tem uma estratégia diferente, já que sua receita é fruto do arrendamento da propriedade, visando a valorização das terras no médio e longo prazo. “O fundo buscará uma janela favorável para a saída, realizando a venda das fazendas e retornando o capital aos acionistas”, comenta.

Fora isso, uma razão técnica ajuda a entender o desempenho “fora da curva” deste mês: como a distribuição de rendimentos do FZDA11 é anual, é natural que o pagamento e o dividend yield de maio tenham sido superiores aos dos pares, avalia Carvalho.

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Confira os Fiagros que pagaram os maiores dividendos em maio de 2023:

Fiagro Gestor Segmento Periodicidade dos dividendos Dividendos pagos em maio/2023 Dividend yield em maio/2023  Data de Pagamento Regra de Distribuição
FZDA11 051 Capital Híbrido Anual R$ 2,26 1,90% 08/05/2023 Não informado
AGRX11 Exes Gestora de Recursos CRAs Mensal R$ 0,18 1,65% 15/05/2023 No 10º dia útil do mês subsequente.
CRAA11 Sparta Fundos de Investimento CRAs Mensal R$ 1,70 1,65% 15/05/2023 Não informado
LSAG11 Leste CRAs Mensal R$ 1,75 1,64% 15/05/2023 No 10º dia útil do mês subsequente.
IAGR11 SFI Investimentos CRAs Mensal R$ 1,55 1,56% 15/05/2023 Até o 10º dia útil do mês subsequente.
AAZQ11 AZ Quest CRAs Mensal R$ 0,14 1,44% 15/05/2023 Não informado
RZAG11 Riza Asset Management CRAs Mensal R$ 0,13 1,42% 15/05/2023 No 10º dia útil do mês subsequente.
CPTR11 Capitânia Investimentos CRAs Mensal R$ 1,35 1,41% 18/05/2023 Não informado
VGIA11 Valora Investimentos CRAs Mensal R$ 0,13 1,39% 18/05/2023 Até o 13º dia útil dos meses de fevereiro e agosto.
GCRA11 Galapagos Capital CRAs Mensal R$ 1,28 1,38% 15/05/2023 No 10º dia útil dos meses de fevereiro e agosto.
FGAA11 FG/A Gestora CRAs Mensal R$ 0,13 1,37% 15/05/2023 No 10º dia útil do mês subsequente.
DCRA11 Devant Asset CRAs Mensal R$ 0,12 1,36% 15/05/2023 No 10º dia útil após o encerramento do período de apuração.
PLCA11 Genial Investimentos CRAs Mensal R$ 1,12 1,35% 15/05/2023 No 10º dia útil do mês subsequente.
XPCA11 XP Asset Management CRAs Mensal R$ 0,13 1,33% 15/05/2023 Até o 10º dia útil.
BBGO11 BB Asset Management CRAs Mensal R$ 1,02 1,27% 15/05/2023 Não informado
JGPX11 JGP CRAs Mensal R$ 1,17 1,21% 15/05/2023 No 10º dia útil do mês subsequente.
EGAF11 Eco Agro CRAs Mensal R$ 1,20 1,20% 15/05/2023 Até o 10º dia útil do mês subsequente.
HGAG11 HGI Capital CRAs Mensal R$ 0,46 1,20% 08/05/2023 Não informado
RURA11 Itaú Asset Management CRAs Mensal R$ 0,12 1,19% 08/05/2023 No 5º dia útil do mês subsequente.
VCRA11 Vectis Gestão CRAs Mensal R$ 1,19 1,18% 12/05/2023 No 9º dia útil do mês subsequente.
OIAG11 Fator Ore Asset CRAs Mensal R$ 0,11 1,16% 15/05/2023 No 10º dia útil de cada mês.
KNCA11 Kinea Investimentos CRAs Mensal R$ 1,13 1,08% 12/05/2023 Não informado
SNAG11 Suno Asset Híbrido Mensal R$ 1,06 1,05% 25/05/2023 Não informado
GRWA11 Greenwich Investimentos CRAs Mensal R$ 0,10 1,00% 15/05/2023  Não informado
NCRA11 NCH Capital Brasil CRAs Mensal R$ 0,10 0,99% 24/05/2023 No 17º dia útil do mês subsequente.

Fonte: Órama, com dados da Quantum Axis. Dados coletados no dia 16/05/2023

Fiagros de “papel” também se destacam

O Fiagro AGRX11, da Exes Gestora, foi o segundo da lista de maiores dividendos de maio, pagando R$ 0,18 por cota, um dividend yield de 1,65% no mês.

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No passado, o fundo fazia distribuições menores, em torno a R$ 0,10 por cota, pois ainda estava em período de carência dos juros dos CRAs. Assim, não recebia 100% dos rendimentos dos papéis.

Mas a carência chegou ao fim, e o Fiagro deve passar a pagar dividendos mais altos nos próximos meses, dizem analistas. A carteira do fundo é mista, com uma rentabilidade média de CDI mais 5,1% ao ano em 88% dos ativos e de IPCA mais 7,9% ao ano em 12% do portfólio.

Pelo menos 80% da carteira está relacionada a grãos. O fundo também origina muitos dos CRAs investidos, o que o permite vendê-los com ganho de capital. Cada operação investida possui garantias diversas, o que traz segurança ao investidor.

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“O AGRX11 está embelezando a noiva por conta da nova emissão de cotas”, aponta um analista, que prefere não se identificar, explicando que este é um processo natural entre os Fiagros: entregar dividend yield elevado para agradar (e manter) os investidores, preservando o valor da cota antes da emissão.

O novato CRAA11, da gestora Sparta, que estreou na B3 em abril, também foi um dos maiores pagadores do mês: foram R$ 1,70 por cota, equivalente a um dividend yield de 1,65%.

Carvalho explica que o CRAA11 não é um Fiagro setorial. Ele investe em toda a cadeia produtiva do agronegócio, incluindo insumos (como fertilizantes, defensivos e sementes) e até varejo. “Eles têm uma gestão ativa e atuam fortemente no mercado secundário, onde compram e vendem os CRAs”, comenta o analista.

O Fiagro não origina e nem estrutura seus próprios CRAs como outros fundos, mas segundo o analista pode vir a participar do mercado primário com parcerias. Carvalho aponta que o lucro contábil por cota do fundo foi de R$ 1,08 em abril. Para depositar R$ 1,70 em maio, o fundo usou uma reserva de rendimentos acumulados. “Ainda restam R$ 0,48 por cota nessa reserva, que poderão ser utilizados em próximas distribuições”. O perfil do fundo é de risco moderado (middle grade).

Dividendos elevados até dezembro?

Nos últimos 12 meses, o dividend yield médio dos Fiagros tipo FII sempre superou 1% ao mês, com destaque para julho de 2022 e janeiro deste ano, quando houve um pico nas distribuições. Em fevereiro e março, os rendimentos médios caíram, por conta do número menor de dias úteis, que afetou o acúmulo diário das taxas que rentabilizam os CRAs comprados pelos Fiagros, explica Anna Clara Tenan, especialista em Fiagros da Órama.

Segundo Anna Clara, os Fiagros têm amadurecido, com boa parte dos recursos captados em alocação. Há também esforço dos gestores de trazer previsibilidade aos investidores, segurando caixa e linearizando as distribuições ao longo do ano.

Embora o mercado espere que a taxa de juros recue no segundo semestre, na Órama a expectativa é de que os Fiagros ainda tenham dividendos acima de 1% ao mês ao longo de 2023.

Segundo a casa, a taxa básica de juros deve recuar na segunda metade do ano, finalizando 2023 aos 12%. Para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em junho, a expectativa é de manutenção da Selic em 13,75% ao ano.

Além da correção pelo CDI ou pelo IPCA, os Fiagros oferecem um spread (taxa adicional) que mantém o retorno acima dos juros atuais. Os fundos embutem ainda o benefício da isenção de Imposto de Renda – desde que sejam negociados na Bolsa e possuam, no mínimo, 50 cotistas. “Os rendimentos devem superar os dos FIIs em 2023”, afirma Anna Clara.

Por que o rendimento dos Fiagros está superando o CDI?

A maior parte dos Fiagros investem em CRAs que, historicamente, apresentam mais operações atreladas ao CDI. Por isso, segundo Anna Clara, esses fundos geram rendimentos recorrentes mais altos do que aqueles que investem diretamente em terras. “No cenário de juros em patamares elevados ainda para os próximos meses, essas carteiras conseguem se destacar”, explica.

De acordo com o levantamento, 86% das carteiras dos Fiagros ofereciam CDI mais um spread médio de 5,09% ao ano em abril. Já a parcela de Fiagros com carteiras indexadas ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) era menor: apenas 14% dos fundos ofereciam inflação mais 9,35% ao ano, em média.

O cenário para os Fiagros é promissor, segundo a especialista, já que o agronegócio representa cerca de 25% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil. Ela destaca que o crédito subsidiado não é suficiente diante da demanda e, por esse motivo, o mercado de capitais se tornou uma alternativa para empresas e produtores rurais, principalmente de menor porte.

Outra boa notícia é que se prevê uma safra recorde em 2023, de 302,1 milhões de toneladas de grãos, segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) de abril, do IBGE. É esperado um crescimento de 14,81% na safra de grãos em relação a 2022, com destaque para soja e milho.

Para Anna Clara, safra recorde significa que empresas e produtores do setor deverão captar mais recursos para continuar investindo, sem deixar de honrar dívidas anteriores. “Isso é bom para a qualidade de crédito como um todo”, diz.

Em abril, a captação líquida dos Fiagros chegou ao patamar de R$ 658,2 milhões, segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

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Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.