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Com o mercado à espera de um corte de juros a partir de agosto, encontrar retornos acima de 1% na renda fixa pode ficar mais difícil. Na renda variável, por outro lado, os Fiagros (fundos que investem nas cadeias produtivas agroindustriais) ainda batem a taxa do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) e mantêm retorno em dividendos de até 1,62% por mês.
Segundo um levantamento da Órama, o dividend yield (taxa de retorno em dividendos) médio dos Fiagros tipo FII (que reproduzem a estrutura dos fundos imobiliários) foi de 1,36% em junho, acima do 1,34% registrado em maio. O resultado equivale a uma taxa de 142,3% do CDI no mês.
Considerando o gross-up da tributação, dado que os Fiagros são isentos de Imposto de Renda, o retorno equivale a uma taxa de 1,60% em junho. Gross-up é um cálculo que permite a comparação de investimentos isentos e não isentos de tributos.
Os Fiagros são isentos desde que sejam negociados na B3 e possuam, no mínimo, 50 cotistas. Confira abaixo a evolução do retorno dos fundos em relação à renda fixa:
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Os Fiagros que lideraram o ranking em junho
Entre os melhores pagadores de proventos em junho, o AGRX11, da Exes Gestora, lidera com dividend yield de 1,62% e R$ 0,18 por cota.
No passado, o fundo fazia distribuições menores, em torno a R$ 0,10 por cota, pois ainda estava em período de carência dos juros dos CRAs (certificados de recebíveis do agronegócio) em que investe. Assim, não recebia 100% dos rendimentos dos papéis.
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Mas a carência chegou ao fim, e o Fiagro passou a pagar dividendos mais altos, o que deve permanecer, dizem analistas. A carteira do fundo é mista, com uma rentabilidade média de CDI mais 5,5% ao ano em 88% dos ativos e de IPCA mais 7,9% ao ano em 12% do portfólio.
Pelo menos 79% da carteira está relacionada a grãos. O fundo também origina muitos dos CRAs investidos, o que o permite vendê-los com ganho de capital.
O dividendo pago em junho é fruto das movimentações feitas pelo Fiagro em maio. O AGRX11 vendeu ativos com possibilidade de recompra posterior. A estratégia gerou maior liquidez e permitiu maior celeridade na alocação de ativos.
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De acordo com o relatório gerencial, foram vendidos três ativos: debêntures da Hinove, CRA Diana e CRA Santa Helena. Em contrapartida, o AGRX11 adquiriu R$ 6 milhões do CRA Valéria, com uma taxa de CDI mais 7,50% ao ano.
O segundo Fiagro que mais pagou dividendos foi o LSAG11, da gestora Leste, remunerando os investidores com R$ 1,70 por cota, equivalente a um dividend yield de 1,61%.
O fundo tem perfil high yield (de maior risco) por conta de os CRAs terem dívidas pulverizadas, com vários produtores e cooperativas. Os CRAs investidos pelo Fiagro são todos indexados ao CDI, com spreads que variam de entre 6% e 8,25% ao ano.
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Entre os produtos financiados pelo Fiagro, destaque para defensivos agrícolas e sementes, com 30,7% e 23,2% do patrimônio. Em relação a culturas, destaque para soja, com 50,6% da exposição do fundo e milho com 20,6%.
O Fiagro Leste também sentiu os efeitos do risco de crédito, que proliferou na Bolsa nos últimos meses. Em relatório da gestão, o LSAG11 informou que tem uma operação inadimplente na carteira, que representa 1,28% do seu patrimônio líquido.
“O administrador do fundo já provisionou o equivalente a 50% do saldo devedor deste CRA em razão do deferimento do processo de recuperação judicial da empresa devedora. O gestor está tomando as medidas judiciais necessárias em conjunto com a securitizadora para a cobrança do devedor”, apontou a gestora.
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O fundo está finalizando uma oferta para captar recursos, no entanto, já deixou claro que as operações em que será investido o capital devem seguir o mesmo perfil dos CRA existentes.
Completando o pódio está o IAGR11, da SFI Investimentos, que pagou em junho dividendos de R$ 1,55 aos cotistas, equivalente a um dividend yield de 1,60%.
A carteira do fundo é mista, com uma rentabilidade média de CDI mais 7,90% ao ano em 47,29% dos ativos e de IPCA mais 12,25% em 52,71% do portfólio.
O IAGR11 investe principalmente em grãos, com 77% do portfólio, sendo os 23% restantes em algodão. Segundo a gestora, um dos CRAs da carteira do fundo, o Pelanda, fez um pré-pagamento voluntariamente, gerando uma multa de antecipação de 5% do saldo devedor.
A gestão do fundo se mostrou confiante nas perspectivas do agronegócio em 2023 e nas oportunidades de investimento nos segmentos de processamento primário dos produtos e armazenagem. Recentemente, o IAGR11 fez uma segunda oferta pública, com foco no investidor qualificado.
Confira os Fiagros que pagaram os maiores dividendos em junho de 2023:
Fiagro | Gestor | Segmento | Periodicidade dos dividendos | Dividendo pagos em jun/23 | Dividend yield em jun/23 | Data de Pagamento | Regra de Distribuição |
AGRX11 | Exes Gestora de Recursos | CRAs | Mensal | R$ 0,18 | 1,62% | 15/06/2023 | No 10º dia útil do mês subsequente. |
LSAG11 | Leste | CRAs | Mensal | R$ 1,70 | 1,61% | 15/06/2023 | No 10º dia útil do mês subsequente. |
IAGR11 | SFI Investimentos | CRAs | Mensal | R$ 1,55 | 1,60% | 15/06/2023 | Até o 10º dia útil do mês subsequente. |
EGAF11 | Eco Agro | CRAs | Mensal | R$ 1,47 | 1,47% | 15/06/2023 | Até o 10º dia útil do mês subsequente. |
NCRA11 | NCH Capital Brasil | CRAs | Mensal | R$ 0,15 | 1,45% | 26/06/2023 | No 17º dia útil do mês subsequente. |
CRAA11 | Sparta Fundos de Investimento | CRAs | Mensal | R$ 1,50 | 1,45% | 15/06/2023 | Não informado |
DCRA11 | Devant Asset | CRAs | Mensal | R$ 0,13 | 1,45% | 15/06/2023 | No 10º dia útil após o encerramento do período de apuração. |
FGAA11 | FG/A Gestora | CRAs | Mensal | R$ 0,14 | 1,44% | 15/06/2023 | No 10º dia útil do mês subsequente. |
CPTR11 | Capitânia Investimentos | CRAs | Mensal | R$ 1,40 | 1,44% | 20/06/2023 | Não informado |
VGIA11 | Valora Investimentos | CRAs | Mensal | R$ 0,14 | 1,43% | 20/06/2023 | Até o 13º dia útil dos meses de fevereiro e agosto. |
VCRA11 | Vectis Gestão | CRAs | Mensal | R$ 1,37 | 1,41% | 14/06/2023 | No 9º dia útil do mês subsequente. |
JGPX11 | JGP | CRAs | Mensal | R$ 1,35 | 1,40% | 14/06/2023 | No 10º dia útil do mês subsequente. |
AAZQ11 | AZ Quest | CRAs | Mensal | R$ 0,13 | 1,36% | 15/06/2023 | Não informado |
RURA11 | Itaú Asset Management | CRAs | Mensal | R$ 0,14 | 1,36% | 07/06/2023 | No 5º dia útil do mês subsequente. |
KNCA11 | Kinea Investimentos | CRAs | Mensal | R$ 1,40 | 1,34% | 14/06/2023 | Não informado |
RZAG11 | Riza Asset Management | CRAs | Mensal | R$ 0,13 | 1,34% | 15/06/2023 | No 10º dia útil do mês subsequente. |
GCRA11 | Galapagos Capital | CRAs | Mensal | R$ 1,20 | 1,28% | 15/06/2023 | No 10º dia útil dos meses de fevereiro e agosto. |
PLCA11 | Genial Investimentos | CRAs | Mensal | R$ 1,13 | 1,25% | 15/06/2023 | No 10º dia útil do mês subsequente. |
SNAG11 | Suno Asset | Híbrido | Mensal | R$ 1,20 | 1,20% | 23/06/2023 | Não informado |
GRWA11 | Greenwich Investimentos | CRAs | Mensal | R$ 0,12 | 1,18% | 15/06/2023 | Não informado |
OIAG11 | Fator Ore Asset | CRAs | Mensal | R$ 0,11 | 1,15% | 15/06/2023 | No 10º dia útil de cada mês. |
XPCA11 | XP Asset Management | CRAs | Mensal | R$ 0,11 | 1,14% | 15/06/2023 | Até o 10º dia útil. |
HGAG11 | HGI Capital | CRAs | Mensal | R$ 0,35 | 1,09% | 25/05/2023 | Não informado |
BBGO11 | BB Asset Management | CRAs | Mensal | R$ 0,90 | 1,07% | 15/06/2023 | Não informado |
FZDA11 | 051 Capital | Híbrido | Anual | – | – | – | Não informado |
Fonte: Órama, com dados da Quantum Axis. Dados coletados no dia 16/06/2023.
Ainda vai superar 1% até dezembro?
Nos últimos 12 meses, o dividend yield médio dos Fiagros tipo FII sempre superou 1% ao mês, com destaque para julho de 2022 e janeiro deste ano, quando houve um pico nas distribuições.
Em fevereiro e março, os rendimentos médios caíram, por conta do número menor de dias úteis, que afetou o acúmulo diário das taxas que rentabilizam os CRAs comprados pelos Fiagros, explica Anna Clara Tenan, especialista em Fiagros da Órama.
Segundo ela, os Fiagros têm amadurecido, com boa parte dos recursos captados em alocação. Há também esforço dos gestores de trazer previsibilidade aos investidores, segurando caixa e linearizando as distribuições ao longo do ano.
Embora o mercado espere que a taxa de juros recue no segundo semestre, na Órama a expectativa é de que os Fiagros ainda tenham dividendos acima de 1% ao mês ao longo de 2023. Segundo a casa, a taxa básica de juros deve recuar a partir de agosto, finalizando 2023 aos 12,25% ao ano.
Como os Fiagros superam o CDI?
A maior parte dos Fiagros investem em CRAs que, historicamente, apresentam mais operações atreladas ao CDI. Por isso, esses fundos geram rendimentos recorrentes mais altos do que aqueles que investem diretamente em terras. “No cenário de juros em patamares elevados ainda para os próximos meses, essas carteiras conseguem se destacar”, explica Anna Clara.
De acordo com o levantamento, 87% das carteiras dos Fiagros ofereciam CDI mais um spread médio de 4,89% ao ano em maio. Já a parcela de Fiagros com carteiras indexadas ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) era menor: apenas 13% dos fundos ofereciam inflação mais 10,52% ao ano, em média.
O cenário para os Fiagros é promissor, segundo a Órama, que destaca o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil no primeiro trimestre deste ano, com a maior contribuição vindo da agropecuária. “O crescimento expressivo no agro já era esperado pelos analistas, porém, a magnitude foi surpreendente, sendo a maior desde 1996”, diz a casa.
A Órama reforça que o crédito subsidiado não é suficiente diante da demanda e, por esse motivo, o mercado de capitais se tornou uma alternativa para empresas e produtores rurais, principalmente de menor porte.
Outra boa notícia é que se prevê uma safra recorde em 2023, de 305,4 milhões de toneladas de grãos, segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) de maio, do IBGE. É esperado um crescimento de 16,05% na safra de grãos em relação a 2022, com recorde para soja e milho.
Para Anna Clara, safra recorde significa que empresas e produtores do setor deverão captar mais recursos para continuar investindo, sem deixar de honrar dívidas anteriores. “Isso é bom para a qualidade de crédito como um todo”, diz.
A Órama também está otimista com a melhora das condições climáticas, queda no preço dos insumos, novos acordos comerciais e retomada do crescimento da China, que deve impulsionar ainda mais o agro.
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