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A resiliência do agronegócio – favorecido pelo crescimento da China e a queda no preço dos insumos – aliada aos juros ainda altos garantiram mais um mês de dividendos elevados para os Fiagros (fundos que investem nas cadeias produtivas agroindustriais). Eles voltaram a oferecer retornos acima do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), principal referência de rendimento para a renda fixa.
Em abril, a taxa de retorno com dividendos (dividend yield) média dos Fiagros tipo FII (que reproduzem a estrutura dos fundos imobiliários) foi de 1,38%, acima do 1,28% registrado em março. O resultado equivale a uma taxa de 177% do CDI no mês, considerando o número de dias úteis de abril, revela levantamento da Órama antecipado ao InfoMoney.
Considerando o gross-up da tributação, dado que os Fiagros são isentos de Imposto de Renda, esse retorno equivale a uma taxa de 1,63% no mês, a maior da série histórica apurada pela Órama. Gross-up é um cálculo que permite a comparação de investimentos isentos e não isentos de impostos.
O LSAG11, da gestora Leste, dominou a lista, com um dividend yield de 1,60% em abril. O fundo pagou R$ 1,68 por cota.
Nos últimos 12 meses, o dividend yield médio dos Fiagros tipo FII sempre superou 1% ao mês, com destaque para julho de 2022 e janeiro deste ano, quando houve um pico nos dividendos, que alcançaram 1,62% (com gross-up).
Em fevereiro e março, houve uma queda média nos rendimentos, por conta do número menor de dias úteis, que afetou o acumulo diário das taxas que rentabilizam os CRA (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) presentes nas carteiras dos Fiagros, explica Anna Clara Tenan, especialista em Fiagros da Órama.
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Contudo, segundo a especialista, o patamar de 1,63% poderia ser o “normal” da indústria neste ano, após amadurecimento dos Fiagros com boa parte dos recursos captados em alocação. Há também esforço dos gestores de trazer previsibilidade aos seus investidores, segurando caixa e linearizando as distribuições ao longo do ano.
No entanto, uma queda da taxa de juros poderia também afetar a taxa média de dividendos dos Fiagros, esclarece a especialista, ressaltando que mudanças abruptas não são esperadas em 2023.
Confira os Fiagros que pagaram os maiores dividendos em abril de 2023:
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Fiagro | Gestor | Segmento | Dividendos pagos em abril/2023 | Dividend yield em abril/2023 | Data de Pagamento | Regra de Distribuição |
LSAG11 | Leste | CRAs | R$ 1,68 | 1,60% | 17/04/2023 | No 10º dia útil do mês subsequente. |
AAZQ11 | AZ Quest | CRAs | R$ 0,15 | 1,60% | 17/04/2023 | Não informado |
EGAF11 | Eco Agro | CRAs | R$ 1,54 | 1,54% | 17/04/2023 | Até o 10º dia útil do mês subsequente. |
CPTR11 | Capitânia Investimentos | CRAs | R$ 1,45 | 1,53% | 20/04/2023 | Não informado |
VGIA11 | Valora Investimentos | CRAs | R$ 0,15 | 1,52% | 20/04/2023 | Até o 13º dia útil dos meses de fevereiro e agosto. |
XPCA11 | XP Asset Management | CRAs | R$ 0,15 | 1,52% | 17/04/2023 | Até o 10º dia útil. |
BBGO11 | BB Asset Management | CRAs | R$ 1,20 | 1,51% | 17/04/2023 | Não informado |
OIAG11 | Fator Ore Asset | CRAs | R$ 0,15 | 1,50% | 17/04/2023 | No 10º dia útil de cada mês. |
VCRA11 | Vectis Gestão | CRAs | R$ 1,50 | 1,49% | 14/04/2023 | No 9º dia útil do mês subsequente. |
CRAA11 | Sparta Fundos de Investimento | CRAs | R$ 1,50 | 1,48% | 17/04/2023 | Não informado |
AGRX11 | Exes Gestora de Recursos | CRAs | R$ 0,16 | 1,47% | 17/04/2023 | No 10º dia útil do mês subsequente. |
JGPX11 | JGP | CRAs | R$ 1,40 | 1,45% | 17/04/2023 | No 10º dia útil do mês subsequente. |
FGAA11 | FG/A Gestora | CRAs | R$ 0,14 | 1,45% | 17/04/2023 | No 10º dia útil do mês subsequente. |
GCRA11 | Galapagos Capital | CRAs | R$ 1,27 | 1,39% | 17/04/2023 | No 10º dia útil dos meses de fevereiro e agosto. |
IAGR11 | SFI Investimentos | CRAs | R$ 1,36 | 1,39% | 11/04/2023 | Até o 10º dia útil do mês subsequente. |
DCRA11 | Devant Asset | CRAs | R$ 0,12 | 1,38% | 17/04/2023 | No 10º dia útil após o encerramento do período de apuração. |
HGAG11 | HGI Capital | CRAs | R$ 0,51 | 1,34% | 10/04/2023 | Não informado |
KNCA11 | Kinea Investimentos | CRAs | R$ 1,40 | 1,34% | 14/04/2023 | Não informado |
NCRA11 | NCH Capital Brasil | CRAs | R$ 0,14 | 1,33% | 27/04/2023 | No 17º dia útil do mês subsequente. |
PLCA11 | Genial Investimentos | CRAs | R$ 1,12 | 1,29% | 17/04/2023 | No 10º dia útil do mês subsequente. |
RZAG11 | Riza Asset Management | CRAs | R$ 0,11 | 1,23% | 17/04/2023 | No 10º dia útil do mês subsequente. |
SNAG11 | Suno Asset | Híbrido | R$ 1,20 | 1,19% | 25/04/2023 | Não informado |
RURA11 | Itaú Asset Management | CRAs | R$ 0,09 | 0,88% | 10/04/2023 | No 5º dia útil do mês subsequente. |
GRWA11 | Greenwich Investimentos | CRAs | R$ 0,08 | 0,79% | 17/04/2023 | Não informado |
Fonte: Órama, com dados da Quantum Axis. Dados coletados no dia 19/04/2023. Periodicidade dos dividendos: mensal.
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Dividendos elevados até quando?
Embora a economia brasileira já esteja dando sinais de asfixia pelos juros elevados, gerando a percepção de risco de crédito que contaminou a indústria, a expectativa de Anna Clara é de que os Fiagros ainda tenham dividendos acima de 1% ao mês ao longo de 2023, principalmente enquanto a Selic permanecer no patamar de 13,75% ao ano.
Segundo a Órama, a taxa básica de juros deve recuar na segunda metade do ano, finalizando 2023 aos 12%. Para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na próxima semana, a expectativa é de manutenção dos juros em 13,75%.
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Além da correção pelo CDI ou pelo IPCA, os Fiagros oferecem um spread (taxa adicional) que empurra o retorno para um patamar superior ao dos juros atuais. Os fundos embutem ainda o benefício da isenção de Imposto de Renda – desde que sejam negociados na Bolsa e possuam, no mínimo, 50 cotistas. “Os rendimentos devem superar os dos FIIs em 2023”, afirma Anna Clara.
Os três Fiagros que mais pagaram dividendos em abril
O Fiagro que mais pagou dividendos em abril foi o LSAG11, remunerando os investidores com R$ 1,68 por cota, equivalente a um dividend yield de 1,60%. Anna Clara explica que o fundo tem um perfil mais arriscado (high yield) por conta de os CRAs terem dívidas pulverizadas, com vários produtores e cooperativas.
A taxa média da carteira do fundo atualmente é de CDI mais 6,95% ao ano, uma das maiores entre os Fiagros, o que justifica os dividendos elevados.
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Segundo Anna Clara, outro motivo que contribuiu com o aumento da remuneração é que o Fiagro está aumentando a alocação da carteira investindo em novos CRAs. “Se antes ele tinha dinheiro parado em caixa, rendendo 100% do CDI, agora esse recurso está rendendo CDI mais 6,95%, aumentando os dividendos”, explica.
A especialista lembra ainda que o LSAG11 anunciou, em dezembro, que teve um problema de inadimplência com uma empresa de alimentos do portfólio, que atualmente representa 1,26% do seu patrimônio líquido.
No entanto, a Leste está tentando contornar o problema. Com a companhia devedora em recuperação judicial, os administradores provisionaram 50% do saldo devedor.
Na segunda posição entre os maiores pagadores está o AAZQ11, Fiagro da gestora AZ Quest que chegou na Bolsa em dezembro de 2022. O fundo pagou R$ 0,15 por cota em abril, equivalente a um dividend yield de 1,60%.
Anna Clara comenta que a carteira do AAZQ11 tem uma taxa média de CDI mais 6,77% ao ano.
Danilo Carvalho, analista de Fiagros da Ticker Research, explica que o AAZQ11 reúne na sua gestão pessoas com experiência no mercado de capitais e no agronegócio e financiamentos, um ponto a favor do fundo. Idalício Silva, sócio da AZ Quest, por exemplo, teve passagens pelo Bradesco, BV, EcoAgro, Naia Capital, além do Ministério da Economia, onde trabalhou no programa de desestatização do governo federal entre 2019 e 2020.
Outro ponto a favor do AAZQ11, segundo Carvalho, é que a casa origina e estrutura os próprios CRAs em que investe, o que permite criar estruturas personalizadas para as empresas, ter garantias adequadas com a visão do fundo e conseguir taxas melhores. “O AAZQ11 é um Fiagro multisetorial, que investe em toda a cadeia produtiva do agronegócio, antes, dentro e depois da porteira, chegando até ao agrosserviço e varejo”, diz.
Anna Clara lembra ainda que o foco do Fiagro é em pequenas e médias empresas que estão começando ou em crescimento, para ajudar na redução de dívida, na melhoria da companhia e obter taxas melhores dos CRAs no secundário no futuro.
Carvalho alerta para um risco: por trabalhar com CRAs pulverizados, que podem reunir várias pequenas e médias empresas como devedores de um mesmo CRA, o Fiagro inclui também algumas classes de ativos que ficam no final da fila de pagamento em caso de calote.
O terceiro Fiagro que mais pagou dividendos é o EGAF11, da Ecoagro, que entregou R$ 1,54 por cota, equivalente a um dividend yield de 1,54%. A carteira do fundo tem uma taxa média de CDI mais 5,13% ao ano.
Carvalho explica que o EGAF11 não empresta dinheiro diretamente para produtores rurais, e, sim, para cooperativas e distribuidoras – que, por sua vez, financiam os produtores. Segundo o analista, é uma vantagem, porque o produtor rural é o segmento mais arriscado do agronegócio, sujeito à inadimplência quando uma safra tem problemas.
Embora emprestar dinheiro para cooperativa renda um spread baixo, segundo Carvalho, o fato de a Ecoagro originar os próprios CRAs traz conforto para as taxas do fundo.
No passado, a Ecoagro pagava dividendos trimestrais, mas a partir de fevereiro a remuneração começou a ser mensal. A meta da gestão do EGAF11 é ter um rendimento mensal de pelo menos CDI mais 4%.
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Por que o rendimento dos Fiagros está superando o CDI?
A maior parte dos Fiagros investem em CRAs que, historicamente, apresentam mais operações atreladas ao CDI. Por isso, segundo Anna Clara, esses fundos geram rendimentos recorrentes mais altos do que aqueles que investem diretamente em terras.
“No cenário de juros em patamares elevados ainda para os próximos meses, essas carteiras conseguem se destacar”, explica a especialista. Segundo ela, os gestores têm preferido este tipo de Fiagro, por conta da demanda dos investidores por dividendos regulares.
De acordo com o levantamento, 89% das carteiras dos Fiagros ofereciam CDI mais um spread médio de 5,04% ao ano em março, contra 5,08% em fevereiro.
Já a parcela de Fiagros com carteiras indexadas ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) era menor em março: apenas 11% dos fundos ofereciam inflação mais 9,21% ao ano, em média, contra 9,22% ao ano em fevereiro.
O cenário para os Fiagros é considerado promissor, segundo a especialista, já que o agronegócio representa cerca de 25% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil. Ela destaca que o crédito subsidiado não é suficiente diante da demanda e, por esse motivo, o mercado de capitais se tornou uma alternativa para empresas e produtores rurais, principalmente de menor porte.
A boa notícia é que se prevê uma safra recorde em 2023, segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) de março, do IBGE. A estimativa é de um crescimento de 13,87% na colheita de grãos, no grupo de cereais, leguminosas e oleaginosas, em relação a 2022.
Segundo a equipe de macroeconomia da Órama, esse crescimento representaria uma safra recorde de 299,6 milhões de toneladas de grãos, 35 milhões a mais do que a produção do ano passado.
Para Anna Clara, isso significa que empresas e produtores do setor deverão captar mais recursos para continuar investindo, sem deixar de honrar dívidas anteriores. “Isso é bom para a qualidade de crédito como um todo”, diz.
A equipe de economia da Órama tem uma visão muito positiva para o agro e espera que o PIB da agropecuária cresça 5,3% em 2023. Do lado da demanda, favorece um acordo assinado entre o Brasil e a China, em novembro de 2022, para autorizar a exportação de milho para o país asiático.
A proximidade diplomática do governo Lula com a China também é positiva para o agronegócio, avalia a Órama.
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