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Os títulos de renda fixa costumam ser vistos como alternativas de proteção da carteira dos investidores e, via de regra, sugere-se que sejam levados até o vencimento para garantir a rentabilidade. Esta é a orientação de especialistas para a maioria dos investidores. Porém, há quem prefira “desafiar” as regras e correr riscos para buscar lucros maiores – e no curto prazo – com esses ativos.
Os “especuladores” da renda fixa são investidores que compram títulos públicos e privados já pensando em vendê-los antecipadamente. Nessa estratégia, eles tentam usar a marcação a mercado a seu favor.
“Marcar a mercado” nada mais é do que atualizar o valor dos títulos segundo os preços pelos quais estão sendo negociados atualmente. Por exemplo: se um investidor tem um título prefixado que paga 10% ao ano e, seis meses depois, os prefixados de mesmo vencimento estão pagando 8% ao ano, o papel valoriza no mercado, pois oferece uma taxa maior.
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E aí aparece a possibilidade de vendê-lo com lucro, sem carregar até o fim.
É isso que o engenheiro de produção Jefferson Ferreira tenta fazer: “Por que vou carregar um título até 2035 se não sei se estarei vivo até lá?”, questiona o investidor. Ele é um ferrenho defensor do trade com títulos de renda fixa e diz que “marcação a mercado é vida”.
A primeira experiência de Ferreira com a marcação a mercado tinha tudo para ser negativa. “Coloquei tudo no Tesouro IPCA+ 2035, estava perdendo dinheiro [porque as taxas dos títulos de inflação estavam subindo] e pensei em vender”. O ponto de virada veio após se deparar com a recomendação de uma especialista: ela dizia que o melhor título para o momento era justamente o que ele tinha na carteira.
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Três anos após comprar o papel, Ferreira saiu da aplicação e diz não ter se arrependido. “Tive valorização de Bolsa, a mais alta que já capturei”. Foi aí que o investidor viu a possibilidade de tirar proveito da marcação a mercado e passou a aplicar em renda fixa pensando apenas na valorização dos títulos para a venda.
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Alexandre Yamamoto, analista de renda fixa da Levante, reconhece que a mentalidade dominante nos investimentos em renda fixa é de levar os títulos até o vencimento, mas pondera: “Não recomendo títulos públicos somente para carregar até o fim”. O especialista afirma que estratégias como a de Jefferson são válidas e variam conforme o ciclo econômico.
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Os títulos prefixados e atrelados à inflação – quem têm parte da remuneração prefixada – são os mais usados no trade de renda fixa. Isso porque quando há expectativa de corte na taxa básica de juros, os prefixados tendem a valorizar, já que a taxa desses papéis tende a cair e os que pagam mais são procurados pelo mercado.
Em ciclos de alta da Selic, os pós-fixados, como o Tesouro Selic, podem ser boas opções, mas Rodrigo Caetano, analista da Toro Investimentos, avisa que “há pouca movimentação no prêmio desses títulos e o efeito da marcação a mercado não é tão grande”.
Aqui, um dos fatores importantes a considerar aparece: a marcação a mercado pode ser muito benéfica, mas tende a ser mais lucrativa enquanto o mercado espera queda na Selic. Portanto, após capturar ganhos na renda fixa, o investidor pode se ver sem boas opções para esse tipo de movimentação.
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É comum ver investidores realizando lucro na renda fixa e, logo depois, migrando para a Bolsa
Rodrigo Caetano, analista da Toro Investimentos
Para quem a especulação é indicada?
A marcação a mercado geralmente atrai investidores mais arrojados, já que se expor à variação nos preços pode trazer prejuízo, mesmo na renda fixa. Quem tem perfil mais conservador e gosta de previsibilidade tende a se sentir mais confortável com a segurança de resgatar a aplicação somente no vencimento.
É o caso de Nino Reppucci, engenheiro civil que foca no longo prazo. “Eu compro de forma lenta, mas frequente; às vezes pego boas taxas, outras compro com taxas mais baixas, mas estou sempre investindo, sem pausa”.
Além de arrojado, o investidor que quer especular com títulos de renda fixa precisa ter tempo e disposição para acompanhar o noticiário econômico. Isso porque o cenário pode mudar rapidamente, o que força o investidor a repensar sua estratégia.
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Além do noticiário brasileiro, é preciso saber o que está acontecendo no exterior: “Somos uma economia emergente, que está sujeita a riscos internos e ao risco de países desenvolvidos apertarem muito os juros, por exemplo, é preciso saber o que está acontecendo lá fora”, diz Yamamoto.
Jefferson Ferreira conta que tira algumas horas aos sábados e domingos para acompanhar o noticiário e traçar estratégias. “Eu trabalho para mim aos fins de semana, vendo tudo o que aconteceu na semana e planejando o que farei na próxima”, explica.
Estratégia precisa ser bem definida
Investir em renda fixa já pensando na venda exige do investidor uma camada extra no planejamento estratégico. Além de saber o que comprar e quando investir, é preciso planejar o momento da venda de um ativo.
Yamamoto aconselha pensar na venda antes mesmo de comprar. Ao traçar um cenário-base, o investidor pode fixar um preço-alvo de venda para o ativo. “É preciso, ainda, comparar os ganhos com o CDI para saber se o retorno é grande”, comenta o especialista.
Outro ponto importante na estratégia é não depender no dinheiro investido para alguma compra ou reserva de emergência. Afinal, se a ideia é lucrar com a marcação a mercado, o investidor que conta com o dinheiro investido pode perder dinheiro se precisar sair das aplicações cedo demais.
“Se você tem uma reserva de emergência constituída, tudo bem, mas se precisa de liquidez, essa estratégia não é indicada”, afirma Caetano, da Toro.
O especialista diz que é preciso estar preparado para qualquer cenário, inclusive um incomum para esse tipo de investidor: “Se a janela de oportunidade prevista não aconteceu e não é possível capturar o ganho que se espera, não dá para desmontar a posição, e o mais indicado é carregar o título até seu vencimento”.
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