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“Made in Mexico”? Moeda, ETF e até REIT são opções para investir no país visto como alternativa à China

Investimento estrangeiro no México somou US$ 18,6 bilhões até março, 48% maior na comparação anual, a medida que as empresas expandem suas operações no país

Monique Lima

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As notícias de que o México ultrapassou a China e se tornou o maior parceiro comercial dos Estados Unidos neste ano despertaram atenção dos investidores. A atração de US$ 18,6 bilhões em investimento estrangeiro direto (IED) no primeiro trimestre do ano, 48% que em 2022, evidenciou a tendência de boom industrial pode mudar o “Made in China” para “Made in Mexico”.

São consequências do chamado nearshoring – o deslocamento da produção para um local mais próximo de onde a mercadoria é vendida, para reduzir custos e dificuldades logísticas. O movimento envolvendo o México começou em 2018, mas cresceu mesmo após a pandemia.

O nearshoring pode ajudar o México a adicionar mais 3% ao seu PIB nos próximos cinco anos, como calcula a Deloitte – e os investidores brasileiros podem abocanhar parte desse crescimento com suas aplicações no exterior. Analistas vislumbram ganhos iniciais com instrumentos como câmbio, fundos de índice e mercado imobiliário já a partir deste ano.

“Quando um país tem bons resultados econômicos e vive um crescimento, a sua moeda sempre é valorizada”, diz Lucas Freddo, analista da Kinea Investimentos. O peso mexicano avançou cerca de 16,4% frente ao dólar até julho.

Segundo Freddo, nos próximos 4 a 6 anos, os investimentos diretos líquidos no país podem alcançar um montante acumulado entre US$ 60 e US$ 100 bilhões.

É uma tendência que envolve o ganho de riqueza em muitas áreas, com a criação de empregos, melhorias de infraestrutura e o próprio movimento de negócios, com importações e exportações

Lucas Freddo, analista da Kinea Investimentos

Made in Mexico?

Durante a pandemia, o aumento no preço do transporte, principalmente o marítimo, elevou os custos de logística em cerca de 500%, segundo a Deloitte. Com a China sendo a principal exportadora do mundo, a disponibilidade de mercadorias e os prazos de entrega acabaram comprometidos em toda parte.

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A dependência da China já era uma preocupação dos Estados Unidos. Em 2018, quando o país impôs tarifas maiores aos produtos chineses, o objetivo já era levar as empresas a buscar alternativas – e encontraram no México.

Empresas americanas corresponderam a 43% do IED no México em 2022, totalizando US$ 12,24 bilhões em aportes. Além do país dividir fronteira com os EUA, outro fator que torna o nearshoring por lá particularmente interessante é o acordo comercial firmado entre os EUA e seus dois vizinhos: Canadá e México.

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“É, basicamente, um tratado de livre comércio que permite exportações e importações com taxas muito reduzidas, ou nulas, entre os três países”, diz Freddo, da Kinea. “Esse acordo é crucial para a escolha das empresas de aumentar ou iniciar suas produções no México.”

Como navegar nessa onda

Freddo indica duas possibilidades para os brasileiros acompanharem a tendência mexicana. A primeira é por meio do mercado de câmbio, com o peso mexicano.

O Bank of America vê a resiliência da moeda mexicana atrelada ao bom desempenho dos Estados Unidos nos próximos meses. “A economia dos EUA mais forte é positiva para remessas financeiras e investimentos nearshoring, os quais são amplamente vistos como fatores que dão suporte ao peso”, diz um relatório de julho do banco.

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Outro suporte à moeda são os juros mais altos no país. Atualmente as taxas estão em 11,25% ao ano, e a análise do BofA é de que o banco central do país as manterão em reunião nesta quinta-feira (10).

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“A economia superaquecida continuará pressionando a inflação no México e impedirá que o Banxico inicie o ciclo de flexibilização em breve (…), o que efetivamente estende o período de spreads amplos em relação às taxas dos EUA. Como resultado, esperamos que a sobrevalorização do MXN [peso mexicano] persista por mais tempo do que inicialmente pensado.”

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Essa aposta no câmbio pode ficar para lá na frente, considerando que o nearshoring é uma tendência de médio e longo prazo. Atualmente, o BofA aposta em uma desvalorização da moeda entre 2023 e 2024. O principal risco é o desaquecimento da economia dos EUA, que acarretaria na depreciação do peso. Os analistas veem o dólar cotado a 18 pesos mexicanos no final de 2023 e a 19,50 no final de 2024. Hoje (09/08), o dólar está cotado a 17,06 pesos mexicanos. Para o BofA, embora não seja mais esperada uma recessão profunda, a possibilidade de uma recessão não pode ser descartada.

A outra forma de ter exposição ao México é por meio de ETFs (fundos de índice). O iShares MSCI Mexico ETF (EWW), da BlackRock, é o principal para a economia mexicana. Neste ano, o fundo registra uma valorização de 22,67%. Ele é listado na Bolsa de Nova York e está disponível por meio de corretoras internacionais.

Também é uma opção o investimento direto nos ativos listados na BMV, a Bolsa Mexicana de Valores. Para esse tipo de aplicação, no entanto, é necessário ter conta em corretoras locais, que operem na BMV.

O Bradesco BBI, por exemplo, é um que adicionou ativos listados na bolsa mexicana nas suas posições, revistas em julho. Entrou na lista o REIT Fibra Macquarie. “O nearshoring deve continuar e o Fibra Macquarie tem exposição material à região industrial do norte do México, além de avaliações atraentes e forte equipe de gerenciamento”, diz relatório assinado por Rodolfo Ramos.

Cruzando o oceano

Daniel Zaga e Alessandra Ortiz, analistas da Deloitte, identificaram dois grupos de empresas que estão realocando suas produções para o México. O primeiro é de companhias americanas que já tinham operações no país e agora estão expandindo suas capacidades. O segundo é prioritariamente composto por empresas chinesas, que buscam produzir na América do Norte para diminuir seus custos e riscos na cadeia de suprimentos.

No ano passado, as empresas chinesas somaram US$ 406 milhões em investimentos nearshoring no México. Alguns nomes que já desembarcaram no país foram a multinacional eletrônica Hisense, a fabricante de autopeças Hangzhou XZB e a fabricante de rodas Lizhong.

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Além da China e dos EUA, outros países com investimentos relevantes em 2022 foram Canadá, Japão, Coréia do Sul, Hong Kong, Reino Unido e França.

O setor que lidera essa mudança é o automotivo. As principais montadoras do mundo já têm operações no país, nomes como Toyota, General Motors, Ford, BMW e Audi. Recentemente, a Tesla anunciou um investimento bilionário para construir sua primeira fábrica no México, que, segundo o CEO Elon Musk, produzirá veículos elétricos de última geração.

A região norte do México, que concentra a atividade de nearshoring, contava com cerca de 70 projetos até maio deste ano, somando US$ 10,94 bilhões, conforme dados da Deloitte. Para a Fitch e o Bank of America, este boom industrial é um dos impulsionadores da economia mexicana neste ano e nos próximos.

A Fitch revisou em junho a projeção para o PIB do México neste ano, para 3,0%. O Bank of America é ainda mais otimista, com uma expectativa de 3,2%. Para o BofA, os aportes financeiros que vem do nearshoring e a criação de empregos já foram impactados e terão um papel importante para a atividade econômica do país.