Luz amarela para os FIIs? Mercado avalia impacto da escalada dos juros nos fundos

Aversão ao risco pode influenciar cotações, mas geração de dividendos no longo prazo deve ser considerada, sugerem especialistas

Wellington Carvalho

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O mercado de fundos imobiliários acumula cinco meses consecutivos de ganhos, estimulado principalmente pelo ciclo de cortes da taxa Selic. Em abril, porém, o segmento opera no negativo e acompanha com atenção a escalada dos juros longos.

“Esta questão que chamamos tecnicamente de abertura da curva de juros com certeza acaba influenciado o mercado, especialmente os fundos de ‘tijolo’”, reconhece Thiago Otuki, economista do Clube FII. “Pelo menos no curto prazo, isso deve refletir no preço das cotas”, prevê.

Isso porque a abertura da curva de juros eleva a rentabilidade, por exemplo, dos títulos públicos, que chegaram a quase 12% ao ano nos últimos dias – no caso dos prefixados. Os papéis indexados à inflação estão oferecendo aproximadamente IPCA + 6%.

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A rentabilidade – em alguns papéis perto de 1% ao mês – estimularia a migração de investidores da renda variável para ativos de menor risco, como os títulos do Tesouro Direto. O movimento colaboraria para uma desvalorização das cotas dos FIIs.

Mas mesmo com a concorrência mais acirrada dos ativos que acompanham a variação dos juros futuros, os fundos imobiliários seguem atrativos, na avaliação de Érica Souza, da Vinci Partners.

“Estávamos observando a redução da curva de juros e agora temos um pequeno solavanco no meio do caminho”, disse a gestora em entrevista ao Liga de FIIs. “É sempre um ponto de atenção dada a correlação dos FIIs com os juros, mas o mercado imobiliário no Brasil sempre conviveu com taxas elevadas”, pontua.

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A confiança de uma relação risco e retorno favorável dos FIIs passa também pelo atual ciclo de cortes da Selic, taxa básica de juros da economia nacional – que caiu de 13,75% ao ano para 10,75% desde agosto do ano passado.

“A atual situação fiscal e a ameaça inflacionária pressionam a curva de juros e podem reduzir o espaço para cortes na Selic, afetando o ritmo esperado de queda do indicador”, avalia Fábio Idoeta, diretor de relações com investidores da Sequóia Properties. “Espero uma desaceleração, mas não acredito que a migração de fluxo para a renda fixa possa interromper o movimento de alta dos fundos imobiliários”, projeta.

Em 12 meses, o Ifix – índice dos FIIs mais negociados na Bolsa – acumula valorização de 20,71%. No ano, o indicador sobe 2,4% e supera, por exemplo, o Ibovespa, que registra perdas de quase 7% no período. Em abril, o Ifix tem queda de quase 1%.

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Para Marcos Baroni, head de pesquisa em FIIs da Suno, o momento de maior aversão ao risco pode elevar a volatilidade dos fundos imobiliários, mas o investidor deve levar em consideração o longo prazo e a estratégia inicial de investimento.

“Acho importante também o investidor renunciar um pouco ao preço da cota e olhar para a capacidade do dividendo no médio e no longo prazo”, orienta o analista em live da Suno. “[Além disso], é importante também calibrar os aportes em diferentes tipos de ativos, sem perder o foco da estratégia inicial”, finaliza.

De acordo com o último Boletim Focus, do Banco Central, a estimativa para a Selic no final de 2024 – que permanecia estável há 15 semanas – passou de 9% para 9,13%. Para 2025, a projeção é de um índice de 8,25%.

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Wellington Carvalho

Repórter de fundos imobiliários do InfoMoney. Acompanha as principais informações que influenciam no desempenho dos FIIs e do índice Ifix.