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Mais de 40 dias após a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de restringir os lastros e prazos de ativos isentos de Imposto de Renda, o mercado ainda calcula o impacto das mudanças nesses instrumentos. No caso das Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e Imobiliário (LCIs), o efeito inicial chama atenção: enquanto as emissões de de LCIs “secaram”, as LCAs caminharam em sentido oposto e o volume mais que dobrou. Já a rentabilidade subiu em ambos os ativos.
A informação está em levantamento da Quantum Finance, realizado a pedido do InfoMoney, com os dados de emissões dos papéis em janeiro, antes da resolução do CMN, e fevereiro, exatamente um mês após o aperto nas emissões.
Em janeiro, as LCIs foram mais representativas, com 1302 papéis contra 208 novas LCAs. Em fevereiro, porém, houve queda brusca de LCIs: apenas 17 foram emitidas, enquanto 688 LCAs foram lançadas ao mercado – aumento de 230% na comparação com janeiro.
LCAs emitidas em janeiro, ANTES das restrições do governo:
Indexadas ao CDI | |||||
Prazo | Taxa mínima | Taxa média | Taxa máxima | Número de títulos | Emissor da maior taxa |
3 | 86,00% | 86,63% | 88,00% | 4 | ABC Brasil |
6 | 79,50% | 85,20% | 93,00% | 102 | Banco da Amazônia |
12 | 80,00% | 83,29% | 97,00% | 70 | Santander |
24 | 80,00% | 83,12% | 95,00% | 13 | Bradesco |
36 | 80,00% | 81,92% | 95,00% | 19 | ABC Brasil |
LCAs emitidas em fevereiro, APÓS as restrições do governo:
Indexadas ao CDI | |||||
Prazo | Taxa mínima | Taxa média | Taxa máxima | Número de títulos | Emissor da maior taxa |
3 | 86,00% | 87,00% | 88,00% | 3 | ABC Brasil |
6 | 81,50% | 87,60% | 90,50% | 5 | Banco da Amazônia |
12 | 80,00% | 88,36% | 93,00% | 160 | ABC Brasil |
24 | 80,50% | 92,67% | 96,00% | 124 | ABC Brasil |
36 | 80,00% | 93,94% | 99,00% | 140 | ABC Brasil |
Indexadas ao IPCA | |||||
Prazo | Taxa mínima | Taxa média | Taxa máxima | Número de títulos | Emissor da maior taxa |
12 | 3,25% | 3,48% | 3,70% | 47 | ABC Brasil |
Prefixadas | |||||
Prazo | Taxa mínima | Taxa média | Taxa máxima | Número de títulos | Emissor da maior taxa |
3 | 8,85% | 8,96% | 9,10% | 7 | ABC Brasil |
12 | 8,05% | 8,37% | 9,14% | 78 | Banco Original |
24 | 8,30% | 8,53% | 8,71% | 53 | ABC Brasil |
36 | 8,65% | 8,94% | 9,25% | 71 | ABC Brasil |
Fonte: Quantum Finance
Os movimentos contrários entre si têm explicação: “nas LCIs, a normativa trouxe restrição imediata de diversos lastros, o que limitou as emissões; já as LCAs têm um período de transição para a restrição, o que gerou sentimento de urgência nos emissores”, diz Fabrício Silvestre, analista de renda fixa da Levante Corp.
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Vinicius Romano, especialista em renda fixa da Suno Research, ainda lembra que o prazo mínimo foi mais restritivo para as LCIs – 12 meses contra 9 para LCAs –, o que também contribuiu para o número menor de emissões.
Taxas valem a pena?
Depois das mudanças, as taxas médias dos papéis subiram, contrariando, ao menos no primeiro momento, a expectativa de analistas logo após o anúncio do CMN.
A taxa média das LCAs pós-fixadas emitidas em janeiro foi de 83,29% do CDI para os papéis com vencimento em 12 meses. Os títulos com a mesmas características pagaram 88,36% do CDI em fevereiro. Ao analisar esses papéis, é importante lembrar que os títulos são isentos de IR.
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Os dados da Quantum ainda mostram como o aumento dos prazos de LCAs teve impacto positivo no mercado: em janeiro, foram emitidos 102 papéis pós-fixados com vencimento em seis meses. No mês seguinte, apenas cinco vieram ao mercado.
As comparações de taxas das LCIs ficaram prejudicadas pela seca de ativos em fevereiro. O número de pós-fixados de 36 meses saiu de 122 em janeiro para apenas dois no mês passado.
Para Silvestre, uma remuneração acima de 87% do CDI “começa a fazer sentido”, especialmente quando instituições financeiras com nota de crédito elevada são as emissoras. Prazos inferiores a dois anos são os preferidos do especialista.
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Já Sophia Annicchino, gerente institucional da Bloxs Investimentos, exige mais prêmio: “vemos títulos remunerando entre 93% e 98% do CDI que, considerando a isenção fiscal, parecem ser atrativos”.
LCIs emitidas em janeiro, ANTES das restrições do governo:
Indexadas ao CDI | |||||
Prazo | Taxa mínima | Taxa média | Taxa máxima | Número de títulos | Emissor da maior taxa |
3 | 84,25% | 87,86% | 100,00% | 161 | Banco BRB |
6 | 88,00% | 89,81% | 93,00% | 212 | ABC Brasil |
12 | 90,00% | 91,78% | 95,00% | 147 | ABC Brasil |
24 | 91,25% | 94,68% | 98,00% | 167 | ABC Brasil |
36 | 93,25% | 96,56% | 100,00% | 122 | ABC Brasil |
Indexadas ao IPCA | |||||
Prazo | Taxa mínima | Taxa média | Taxa máxima | Número de títulos | Emissor da maior taxa |
12 | 3,15% | 3,52% | 4,50% | 80 | ABC Brasil |
Prefixadas | |||||
Prazo | Taxa mínima | Taxa média | Taxa máxima | Número de títulos | Emissor da maior taxa |
3 | 8,77% | 9,21% | 9,78% | 171 | ABC Brasil |
6 | 8,65% | 9,02% | 9,41% | 157 | ABC Brasil |
12 | 8,21% | 8,63% | 9,45% | 58 | ABC Brasil |
24 | 8,48% | 8,68% | 8,98% | 11 | ABC Brasil |
36 | 8,65% | 8,93% | 9,15% | 16 | ABC Brasil |
LCIs emitidas em janeiro, APÓS as restrições do governo:
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Indexadas ao CDI | |||||
Prazo | Taxa mínima | Taxa média | Taxa máxima | Número de títulos | Emissor da maior taxa |
3 | 88,00% | 88,30% | 88,60% | 2 | ABC Brasil |
6 | 89,00% | 90,25% | 92,00% | 4 | ABC Brasil |
12 | 91,00% | 92,00% | 93,00% | 3 | ABC Brasil |
24 | 95,00% | 96,00% | 97,00% | 2 | ABC Brasil |
36 | 97,00% | 97,00% | 97,00% | 2 | ABC Brasil |
Prefixadas | |||||
Prazo | Taxa mínima | Taxa média | Taxa máxima | Número de títulos | Emissor da maior taxa |
3 | 9,06% | 9,11% | 9,17% | 3 | ABC Brasil |
6 | 9,14% | 9,14% | 9,14% | 1 | ABC Brasil |
Fonte: Quantum Finance
Relembre o cerco contra isentos
As LCIs e LCAs, junto com outros investimentos isentos de IR, tiveram suas emissões restringidas por meio de resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN). O governo já monitorava a forte adesão a esses ativos, conforme o InfoMoney havia antecipado, e via distorções na natureza de alguns emissores, considerados não ligados aos mercados imobiliário e do agronegócio, que são os focos do estímulo via benefício fiscal. Mais tarde, o CMN ajustou a regra e voltou a flexibilizar emissões de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e Imobiliários (CRIs).