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Até o início de fevereiro deste ano, os investidores brasileiros tinham à sua disposição ativos bancários extremamente vantajosos, as LCIs e LCAs. Mas uma decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) alterou as regras para esses instrumentos e fez com que os investimentos perdessem parte da atratividade.
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De acordo o Censo Mensal do FGC (Fundo Garantidor de Créditos), o número de investidores destes produtos tem caído nos últimos meses. A última atualização do balanço confirma o recuo em abril – último dado disponível. A queda repete o que já havia acontecido em fevereiro, mês do anúncio das mudanças.
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No caso das LCIs, a base de investidores caiu aproximadamente 17% entre fevereiro (2.645.462) e abril (2.202.168). Confira na tabela:
LCI – Letras de crédito imobiliário
Mês | Número de investidores | % de investidores com recursos cobertos pelo FGC |
abr/24 | 2.202.168 | 0,37% |
mar/24 | 2.458.646 | 0,42% |
fev/24 | 2.645.462 | 0,45% |
LCA – Letras de crédito do agronegócio
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Mês | Número de investidores | % de investidores com recursos cobertos pelo FGC |
abr/24 | 2.432.599 | 0,40% |
mar/24 | 2.485.530 | 0,42% |
fev/24 | 2.520.205 | 0,43% |
Quatro meses após a restrição nos lastros e vencimentos das letras de crédito, os investidores ainda buscam alternativas, de acordo com Matheus Volpato, head comercial de distribuição da XP. “Víamos muitos investidores que só aplicavam em LCI e LCA; a pessoa física precisou atualizar seu leque de opções ou aceitar condições inferiores ao que tinha antes”, diz
Por que LCIs e LCAs estão menos atrativas?
As condições inferiores são medidas por dois fatores: liquidez e remuneração. Como o CMN proibiu que esses instrumentos tenham vencimento inferior a 9 (LCAs) e 12 meses (LCIs), o investidor precisa carregar os ativos por mais tempo, uma mudança importante, já que antes esse mercado oferecia liquidez diária após 90 dias, por exemplo.
Do lado do pagamento, analisar o estoque ajuda a entender por que a rentabilidade está mais baixa. O nível de captação dos bancos por esses instrumentos tinha forte crescimento desde 2018. Porém, de dezembro do ano passado a maio deste ano, o ritmo de crescimento teve diminuição acentuada, de apenas R$ 11 bilhões nas LCAs.
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Outro dado importante do Censo Mensal do FGC mostra que os investimentos nas letras vêm caindo desde janeiro. Em janeiro, os investimentos cobertos pelo Fundo em LCAs somava R$ 410,04 bilhões, montante que caiu para R$ 399,97 bilhões em abril. Nas LCIs, a queda foi um pouco menor, de R$ 352,07 bilhões para R$ 345,95 bilhões.
Com a oferta de títulos mais restrita, os bancos diminuíram a rentabilidade. “Hoje, para conseguir taxas boas é preciso ir para dois a três anos de prazo final; se antes era 98% do CDI, hoje é 95%”, diz Leonardo Ono, gestor de crédito privado da Legacy.
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O investimento deixou de valer a pena?
A avaliação dos especialistas é que esses instrumentos não oferecem tantas vantagens ao investidor pessoa física quanto antes, mas, ainda assim, são bons ativos para compor a carteira de renda fixa.
“Seguem como bons ativos para o investidor que consegue abrir mão de 9 ou 12 meses de liquidez, por conta do incentivo fiscal. Tem o risco do banco, que gostamos muito, já que é um setor de baixo risco, com um Banco Central muito forte”, diz Daniela Gamboa, head de crédito privado e imobiliário da SulAmérica Investimentos.
Leandro Ormond, analista da Aware Investments, diz que para quem tem um horizonte de investimentos de um a dois anos, a procura por LCIs e LCAs ainda é alta, já que nesse período as alíquotas de Imposto de Renda ainda são grandes, o que aumenta a atratividade dos não tributados. “Mas é preciso sempre fazer conta e comparar a rentabilidade com um ativo tributado, que, em alguns casos, entregam rendimento líquido maior, mesmo com a incidência do IR”, lembra o especialista.
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Os vencedores
Com as mudanças promovidas pelo CMN, ativos de crédito privado vêm ganhando relevância, principalmente os incentivados. Nesse contexto, os CRIs e CRAs e debêntures incentivadas se apresentam como opções para o investidor.
Para os analistas, esses instrumentos não superam a demanda absorvida pelos CDBs, os “substitutos diretos” de LCIs e LCAs, segundo Volpato. Porém, a limitação das letras de crédito fizeram os investidores olharem para o crédito privado com mais apetite. “É um processo educacional, os títulos de dívida corporativa têm horizonte de vencimento longo, mas podem ser negociados no mercado secundário, o movimento é positivo para trazer mais demanda e liquidez para o mercado”, diz o especialista da XP.
De janeiro a maio, as ofertas no mercado de capitais – que inclui debêntures, CRIs e CRAs – atingiram R$ 268,2 bilhões, recorde para o período, com crescimento de 150,3% no mesmo período de 2023. As debêntures foram responsáveis por 67,4% das emissões.
Os fundos de debêntures incentivadas fazem parte dos beneficiados pelas mudanças, já que o investidor ainda quer ativos isentos de Imposto de Renda e que pagam bem. “Investir em debêntures via fundos tem vantagens gritantes, como a diversificação de papéis, o monitoramento da saúde financeira das empresas e o preço de execução, já que o preço que eu compro e vendo os papéis não é o mesmo do investidor pessoa física, é um preço melhor”, explica Ono, da Legacy.
Esses fundos registram recordes de captação desde fevereiro, quando as mudanças nos ativos imobiliários e do agronegócio foram promovidas. Os grandes bancos fecharam seus fundos de debêntures incentivadas para captação, com o objetivo de preservar a rentabilidade aos investidores, já que eles são obrigados a investir 85% em incentivadas e encontrar papéis atrativos vai se tornando uma tarefa mais difícil conforme o patrimônio cresce. Bradesco, Itaú, Santander, Kinea e Sparta fecharam fundos para captação, o que mostra a força que esse mercado ganhou nos últimos meses.
Já o mercado de CRIs cresceu 81%, enquanto o volume de emissões de CRAs mais que dobrou, com alta de 144%. Apesar de também receber restrições do CMN, o mercado de certificados de recebíveis se adaptou rapidamente. “Foi uma surpresa positiva, vemos emissões realmente relacionadas ao agronegócio e ao setor imobiliário”, avalia Gamboa.