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Agentes do mercado esperam que a semana comece com um pregão volátil nesta segunda-feira (9), após a capital federal ter sido invadida por bolsonaristas golpistas neste domingo (8), depredando os prédios do STF (Supremo Tribunal Federal), do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional.
O episódio remete à invasão do Capitólio de Washington, sede do Legislativo americano, em 6 de janeiro de 2021, por apoiadores do ex-presidente dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump, para tentar impedir a certificação da vitória eleitoral do democrata Joe Biden na eleição presidencial de 2020.
No fim da tarde de ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decretou intervenção federal da segurança pública do Distrito Federal, destacando que a invasão só aconteceu porque houve “má-fé”, “maldade” ou “incompetência” das forças de segurança locais. À noite, em entrevista coletiva , Flávio Dino, ministro da Justiça, afirmou que 200 pessoas haviam sido presas em flagrante e 40 ônibus, apreendidos.
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“Estamos diante de uma situação grave de instabilidade institucional no Brasil, de tal modo que o mercado deve refletir isso nos preços. Os preços aqui devem expressar aí uma preocupação sobre essa questão, da mesma forma que observamos no episódio da invasão do Capitólio, quando o mercado piorou um pouco por lá. O mesmo deve acontecer aqui”, diz Marcio Fontes, gestor do fundo Asa Hedge.
Para Felipe Paletta, sócio da Monett, a invasão tende a aumentar a preocupação dos investidores estrangeiros, que já vinham recuando na B3 nos últimos meses dada a volatilidade causada desde as eleições presidenciais de outubro. “[Os acontecimentos] devem pesar principalmente no câmbio e nos juros. Na Bolsa, devemos ver volatilidade bastante grande num primeiro momento”, avalia.
“Os mercados ainda estão fechados lá fora, mas com certeza nas próximas horas todo mundo vai olhar pra o EWZ [fundo de índice de ações brasileiras negociado na Bolsa de Nova York] para entender qual a magnitude dessa preocupação”, diz Paletta.
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Rodrigo Romero, economista da Levante Investimentos e da Inside Research, lembra que de 50% a 60% do volume da B3 são negociados por investidores estrangeiros. “O gringo vai entender que teve uma eleição, que teve um ganhador e que teve uma invasão aos três poderes. Os acontecimentos foram antidemocráticos, então é bastante ruim”, avalia.
Há, ainda, um ponto de atenção institucional. Segundo Romero, a invasão a Brasília exige uma reação por parte do novo governo – seja acionando militares ou outras forças de segurança. “Já há uma crise institucional ali semi-instaurada entre o governo e os militares. Se eles não responderem como seria o esperado a uma ordem da Presidência da República, [o problema] pode perdurar por um período mais longo e ter um debate institucional mais intenso no curto e médio prazo”.
Paletta, da Monett, também acredita que o desempenho da Bolsa pode ser afetado não apenas por um dia, mas ao longo da semana e do mês, a depender dos desdobramentos dos atos de domingo. “Tudo vai depender do posicionamento e das falas do novo governo, o que vai ser feito nas próximas semanas, quais serão os reflexos maiores daquilo que a gente observou”, afirma.
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Embora acredite que os ataques irão gerar ruído e volatilidade nos mercados, Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, afirma que não se trata de algo estrutural. “Não vemos risco institucional nem ameaças aos resultados das eleições. De qualquer forma, qualquer ato que seja antidemocrático ou não seja pacífico gera volatilidade”, diz.
Em sua visão, o cenário mais provável é de dólar “estressando”, curva de juros abrindo e Bolsa caindo. “Deve haver um impacto geral, e não apenas setores específicos. Vamos começar a semana de forma turbulenta, mas não achamos que o ato terá continuidade, então vemos impactos apenas no curtíssimo prazo”.
Um risco a mais em uma cesta com vários outros
Na visão de Romero, o episódio deste domingo é mais um elemento somado a vários outros que já vinham causando estresse no mercado há várias semanas – caso do temor quanto à situação fiscal do País, dada a expectativa de ampliação de gastos durante o governo Lula.
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“O todo que vem acontecendo no Brasil, com os riscos fiscais, os riscos inflacionários, as questões de caráter administrativo do novo governo, em relação às estatais, tudo isso é muito mais amplo do que o que ocorreu em Brasília”.
Fontes, do Asa Hedge, acredita que, olhando à frente, a situação pode ter implicações políticas. “Poderia até ser usada politicamente para trabalhar algumas pautas – não na questão dos costumes, mas na questão econômica, com menos resistências. Há uma turma do Congresso mais alinhada com os movimentos radicais de direita, que ficaria um pouco mais silenciada”, avalia.
Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central e presidente do Conselho da Jive Investments, acredita que os impactos sobre o mercado serão limitados. “Em princípio, se houver algum impacto nos mercados, é pequeno”, afirmou. “Em nenhum momento está sendo levantada alguma discussão com relação a risco institucional, que é a questão maior”.