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Um último respiro, antes de um período de baixa prolongado – um bear market, no jargão financeiro. Esse é o cenário que Jim Rogers – investidor e empresário, que décadas atrás criou o Quantum Fund com George Soros – vislumbra para os mercados quando a guerra entre Rússia e Ucrânia terminar.
“O mercado vê que essa não será a Terceira Guerra Mundial, bombas atômicas não serão lançadas”, disse, em entrevista exclusiva ao InfoMoney. “Os russos querem a paz, os ucranianos com certeza querem a paz, então espero que tenhamos a paz em breve”.
Os movimentos recentes das bolsas – que em poucas semanas recuperaram as fortes perdas que se seguiram à invasão da Ucrânia, nos últimos dias de fevereiro – indicam que essa é a expectativa dos agentes financeiros. Se (e quando) o conflito chegar ao fim, mais investidores – hoje ainda arredios em função das incertezas – respirarão “aliviados” e voltarão a comprar novos ativos.
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“Haverá um movimento de alta, porque todo mundo vai estar feliz, mas ele provavelmente será o último”, afirma Rogers. Embora seja difícil precisar, o cenário negativo poderia se instalar até o fim deste ano ou no próximo, diz.
O investidor argumenta que o momento atual é o período mais longo sem uma recessão nos Estados Unidos. A última ocorreu no país entre 2008 e 2009, como consequência de uma grande crise no segmento de hipotecas de alto risco – o chamado subprime. “Não tem que acontecer, mas sempre acontece”, afirma.
Em 2008 e 2009, os problemas da economia se agravaram por causa do grande volume de dívidas em circulação, diz Rogers. “E desde 2009, elas subiram. As dívidas explodiram em todos os lugares”, afirma. “Na próxima vez que tivermos uma recessão, ela vai ser a pior da minha vida, porque as dívidas são muito maiores hoje”.
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Juros nos Estados Unidos
Embora afirme que o Federal Reserve (Fed), banco central americano, deveria elevar forte e rapidamente os juros no país, Rogers não acredita que o movimento da autoridade monetária se dará a contento.
“Embora eu espere que aumentem os juros muitas vezes, duvido que o farão”, diz o investidor. Em sua visão, depois de duas ou três altas, quando os mercados começarem a “ficar preocupados” com a redução da atividade econômica e as bolsas caírem, o Fed vai parar.
“Com certeza teremos seis ou sete altas [de juros] nos próximos dois a três anos”, diz Rogers, pois a inflação “é a pior em décadas” – só que isso não acontecerá na velocidade que o mercado espera (ou deseja).
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Fim do dólar?
Para Rogers, as sanções estabelecidas pelos Estados Unidos à Rússia, dificultando o acesso a suas reservas em dólar, são um problema para a moeda americana.
“Quando você tem a moeda de reserva do mundo, ela deve ser neutra. O dólar americano deve ser completamente neutro para que qualquer um, em qualquer lugar, possa usá-lo para qualquer coisa”, afirma.
Na sua visão, os Estados Unidos estão alterando esse princípio e, por isso, há quem esteja buscando alternativas ao dólar. “O mundo teve muitas moedas de reserva nos últimos mil anos, nenhuma durou mais que 100 ou 150 anos. O tempo está acabando para o dólar americano”, afirma.
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O dólar não vai desaparecer, diz Rogers, mas tende a perder o status de moeda de reserva do mundo – um lugar que ainda é difícil dizer quem ocupará.
Ouro, prata e outras commodities
Para lidar com a volatilidade do momento nos mercados, Rogers sugere investir em ouro, prata e commodities.
“Quando as pessoas perdem a confiança, seja no dinheiro ou no governo, elas compram ouro e prata”, diz. “Sou um velho plebeu. Para nós, quando algo vai mal, é bom ter prata embaixo do colchão e um pouco de ouro no armário”.
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O investidor argumenta que o preço da prata caiu cerca de 50% desde sua máxima, que foi de US$ 50 a onça. “Para mim, uma hora vai voltar a esse patamar. Espero estar certo”, diz.
Ouro também é uma alternativa, mas há um porém. “O ouro está perto de sua máxima histórica, e a prata está mais barata. Eu compraria mais dos dois, porém mais prata, porque está mais em baixa”, afirma.
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Rogers também tem investido em outras commodities por meio de ETFs (fundos de índices) com carteiras diversificadas. “Ao longo da história, quando se imprime muito dinheiro, quando há muitos empréstimos e gastos, temos inflação e as commodities sobem”, afirma, destacando que esse é seu cenário atual também.
O investidor afirma que não tem comprado ações – embora identifique oportunidades até mesmo em mercados como a Rússia. “A Rússia existe há alguns milhares de anos e suspeito que irá sobreviver. Também suspeito que haverá paz novamente um dia”, diz.
Segundo Rogers, assim como Estados Unidos e Japão já foram inimigos de guerra – e investidores seguiram aportando recursos nos dois mercados – o mesmo deve acontecer com a Rússia.
“As relações exteriores sempre mudaram”, diz. “Como acho que a Rússia vai sobreviver, de alguma forma, eu gostaria de encontrar oportunidades lá. Sou atraído por desastres quando os vejo”.
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