Isa Cteep (TRPL4) quer participar de leilões, investir e manter dividendos; vai ser possível?

Equilíbrio entre investimentos, dividendos de 75% do lucro e alavancagem controlada virou palavra de ordem na transmissora

Katherine Rivas

Rui Chammas, CEO da Isa Cteep
Foto: Cauê Diniz
Rui Chammas, CEO da Isa Cteep Foto: Cauê Diniz

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Os tempos das vacas magras parecem estar chegando ao fim para Isa Cteep (TRPL4). A transmissora de energia – que registrou lucro líquido de R$ 306 milhões no primeiro trimestre de 2023, 171,9% acima dos R$ 112,5 milhões registrados no mesmo período de 2022 – está perto de normalizar os recebimentos da Rede Básica Sistema Existente (RBSE), uma indenização às transmissoras devido à renovação antecipada dos seus contratos em 2012.

No ano passado, a transmissora teve os dividendos pressionados pela diminuição dos recursos da RBSE na receita, somado ao fato de ter antecipado proventos em 2021, por receio de mudanças na tributação.

Os recebimentos da RBSE, que deviam ter acontecido em oito ciclo tarifários, foram alongados para onze ciclos, entre 2018 e 2028. Contudo, a normalização está prevista para julho deste ano, quando a receita vinda da RBSE representará R$ 1,990 bilhão para Isa Cteep até julho de 2028.

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Alguns efeitos já foram sentidos na receita do primeiro trimestre, quando a recomposição parcial da receita da RBSE, junto com a atualização da RAP (Receita Anual Permitida) pelo IPCA, contribuíram para a empresa alcançar receita operacional bruta de R$ 1,032 bilhão.

Para os executivos da companhia, a notícia é boa. Mas eles reforçam que a RBSE não será o único pilar de crescimento e geração de valor para os acionistas em 2023.

Rui Chammas, CEO da Isa Cteep, afirmou ao InfoMoney que a companhia busca equilíbrio entre investimentos em novos projetos e concessões, por meio de leilões, reforços e melhorias nos ativos existentes, manter o endividamento controlado e assegurar no mínimo dividendos de 75% do lucro líquido regulatório, que é a prática da companhia.

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Remunerar bem os seus acionistas no presente, enquanto investe em leilões para gerar valor no futuro, parece um plano ousado à primeira vista. Mas os executivos apontam que a Isa Cteep está nos trilhos em função da disciplina financeira dos últimos meses.

Os novos projetos entregues e aqueles que foram entrando em operação também acabaram ajudando os resultados da transmissora, antes mesmo do fluxo de pagamentos da RBSE normalizar, explica Carisa Portela Cristal, CFO da Isa Cteep. “Essas duas receitas fazem com que o Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização] aumente, diminuindo a pressão da alavancagem”, diz.

Segundo a CFO, o endividamento da empresa chegou a superar o nível de três vezes a dívida líquida sobre o Ebitda em alguns trimestres de 2022, mas recuou para 2,74 vezes no primeiro trimestre deste ano. “A tendência é que essa alavancagem se mantenha tendo em vista o crescimento que a empresa está tendo”, reforça.

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Recursos como a RBSE devem funcionar como combustível para Isa Cteep acelerar seus investimentos, segundo Carisa, principalmente no leilão de transmissão previsto para junho. “Quando olhamos essa alavancagem, temos tranquilidade para seguir no nosso equilíbrio entre crescimento e rentabilidade ao acionista”, afirma.

Chammas acrescenta que a Isa Cteep tem atualmente R$ 10 bilhões de Capex (investimento) comprometidos para os próximos cinco anos, metade em novos projetos greenfield e novas concessões, e outra metade em reforços e melhorias.

No último ano, a companhia entregou cinco projetos – Paraguaçu, Aimorés, Ivaí, Biguaçu e Três Lagoas – e deve entregar mais um no segundo semestre, o Triângulo Mineiro. Além destes, há mais cinco projetos em execução, segundo o CEO.

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Além do Triângulo Mineiro, a interligação Elétrica Itaúnas, atualmente em operação parcial de 66%, também pode contribuir com a receita. A previsão é de que esteja 100% operacional no segundo trimestre. Em julho, a companhia também deve ter mais um reajuste tarifário pela inflação.

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Leilão e dividendos?

Os executivos manifestaram o seu interesse em participar dos dois leilões de transmissão em 2023, em junho e outubro, e apontaram que se encontram em fase de estudos dos potenciais lotes. A decisão final ainda não foi tomada.

“Estamos buscando crescimento com valor responsável e sem metas de marketshare [participação de mercado]. Entendemos que há oportunidades grandes, queremos seguir crescendo, mas buscando rentabilidade”, comenta Chammas. O CEO lembra que nos lotes entregues em 2022, a Isa Cteep conseguiu uma TIR (taxa interna de retorno) média superior a 10%.

Sobre eventual impacto da participação em leilões sobre a distribuição proventos, Chammas esclareceu que a empresa “não imagina nenhuma mudança na prática de dividendos, de 75% do lucro líquido regulatório”.

Segundo o executivo, a dívida para energizar os cinco projetos que ainda serão entregues está controlada, o lucro e a receita são crescentes e os custos da operação estão sob controle. Chammas reforça que “se conseguir criar valor com sucesso, da forma que espera, o lucro líquido da companhia sobe e os acionistas vão poder aproveitar dessa criação de riqueza de alguma forma”.

“Eu não estou aqui apenas para crescer, fazer Capex, para ganhar leilão. Estou aqui para criar valor”, defende Chammas.

Carisa reforça que mesmo que a Isa Cteep mantenha a sua prática de remuneração, “quando uma companhia cresce, a remuneração do acionista cresce junto”.  Questionada se a alavancagem da empresa, no patamar de 2,74 vezes, poderia representar uma ameaça para os dividendos – de acordo com a política o payout de 75% está limitado à alavancagem de 3,0 vezes dívida líquida/Ebitda – Carisa afirmou que não deve ser uma preocupação para o acionista.

“Temos a recomposição da RBSE pela frente e cinco projetos que podem gerar para a companhia uma RAP (receita anual permitida) de R$ 500 milhões. A tendência é que a alavancagem se mantenha nesse nível”, avalia a CFO.

A companhia não deve distribuir dividendos sobre o resultado apresentado no primeiro trimestre, mas, segundo os executivos, até o fim do ano devem ser feitas as deliberações sobre novos proventos.

Carisa esclarece ainda que a prática de pagar no mínimo 75% do lucro líquido regulatório não é escrito sobre pedra, ou seja, a companhia pode maximizar valor para os acionistas quando tiver oportunidade.  “Se olhar os anos anteriores, desde 2019 o payout esteve na casa dos 80%, o que não é muito diferente dos 75% vistos no ano de 2022”, comenta. Em 2021, o payout da Isa Cteep foi atípico e chegou a 210%, segundo o site de Relações com Investidores da empresa – fruto de antecipações.

A companhia pagou juros sobre capital próprio (JCP) de R$ 1,062 por ação no dia 11 de abril. O valor é referente ao resultado do ano de 2022.

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Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.