IPCA + 8%? Analistas projetam taxas do Tesouro Direto acima do nível pré-impeachment

Correção só viria a partir do segundo semestre de 2025 e está atrelada a “avanços no equilíbrio fiscal”

Leonardo Guimarães

(Foto: Freepik)
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Os juros reais do Tesouro IPCA+ estão se aproximando do patamar visto pela última vez há mais de oito anos, quando o Brasil vivia uma crise política e econômica marcada pelo impeachment de Dilma Rousseff. Nesta terça-feira (17), a rentabilidade real dos títulos públicos de inflação chegou a 7,80%. Analistas consultados pelo InfoMoney projetam taxas ainda mais altas no curto prazo. 

O Tesouro IPCA+ 2035 pode ser usado como referência na comparação entre 2016 e o cenário atual, já que esteve disponível no mercado primário na última década. O papel atingiu a taxa mais alta de 2016 em 22 de janeiro, quando pagava 7,80% além da inflação. Desde então, os juros do título atingiram a mínima em novembro de 2019, quando chegaram a 2,89%.

Hoje, em mais uma sessão de abertura de taxas, o ativo paga IPCA + 7,28%, nível mais alto em 2024. 

Veja a evolução das taxas do Tesouro IPCA+ 2035 e Tesouro IPCA+ 2035 com juros semestrais: 

IPCA + 8%? 

“Considerando o ambiente atual de desconfiança fiscal e incertezas econômicas, enxergamos a possibilidade de que os juros reais se aproximem ou até ultrapassem o patamar observado em 2016”, diz Gianluca Di Matina, especialista em investimentos da Hike Capital.

Josias Bento, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital, também projeta o teto dos juros reais acima de 2016 e justifica: “os fatores que fizeram o juro real superar 7% lá atrás são muito parecidos com os do momento atual, com risco fiscal e pressão inflacionária (em foco)”. 

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Para os analistas, a ausência de novidades no âmbito fiscal já seria suficiente para, aos poucos, fazer o juro real encostar nos 8%. “As medidas de longo prazo podem continuar se deteriorando caso o governo não consiga apresentar medidas efetivas de controle de gastos”, diz Marcelo Mello, CEO da SulAmérica Investimentos. Ele argumenta que o pacote fiscal anunciado pelo governo no fim de novembro “ainda precisa de aprovação no Congresso e pode ser ainda mais desidratado”. 

Bento, da GT Capital, ainda lembra que o dólar alto e “uma economia global menos previsível” também são fatores negativos para o cenário atual na comparação com 2016, o que justifica as expectativas de juros mais altos. 

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Por outro lado, Ian Lima, gestor de renda fixa da Inter Asset, pondera que “o contexto macroeconômico é muito diferente hoje; temos inflação mais baixa e sem represamentos, além de atividade econômica crescendo acima do potencial e desemprego figurando nas mínimas históricas”. Por isso, ele diz que “hoje, uma decisão política resolve, pois o macro ainda é bom”.

Oportunidade durante a crise

Mas os especialistas encontram unanimidade ao analisar as oportunidades que a abertura dos juros criou. “A tempestade não é eterna, se você tiver estômago e paciência para usar a venda antecipada com marcação a mercado, vai gerar bons rendimentos na sua conta’, diz Jeff Patzlaff, especialista em mercado de capitais e planejador financeiro CFP, ao avaliar os prefixados, com taxas de até 15,57% ao ano atualmente. 

Di Matina, da Hike Capital, explica que a curva de juros precifica juros de até 15,5% no futuro, enquanto o Banco Central vem sinalizando alta da Selic até 14,25%, o que cria um “momento oportuno para comprar prefixados públicos e bancários”. 

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Os títulos de inflação, que têm parte da rentabilidade prefixada, também são recomendados pela maioria dos analistas. “É difícil encontrar pelo mundo ativos de risco soberano com juro real acima de 7% pelos próximos 30 anos, mas esses títulos ainda podem apresentar volatilidade no curto prazo”, alerta Mello.

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Os lucros com marcação a mercado só virão se as taxas caírem, o que os agentes projetam, já que “é muito custoso para qualquer país carregar uma dívida contratada com um juro real acima de 7% no longo prazo” como lembra Marcelo Mello. Mas essa queda não viria tão cedo. 

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Gianluca Di Matina espera reversão “gradual” das taxas a partir do segundo semestre, movimento que ele e outros analistas relacionam a “avanços no equilíbrio fiscal e sinais mais claros de desaceleração da inflação”.