Susto com IPCA-15 eleva juros dos títulos públicos, mas movimento deve ser pontual; vale aproveitar?

Mercado foi surpreendido com prévia da inflação acima das expectativas, o que afetou a curva de juros

Leonardo Guimarães

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O IPCA-15 de agosto deu um susto no mercado financeiro nesta sexta-feira (25). O indicador, considerado a prévia da inflação, ficou em 0,28% no mês, contra mediana de projeções de 0,17%. O número, considerado ruim, faz investidores ajustarem expectativas para a Selic, principalmente no curto prazo.

Perto das 15h, a taxa do contrato futuro de DI para janeiro de 2025 subia para 10,52% ao ano, ante 10,4% do ajuste anterior. Já a taxa do DI para 2026 avançava de 9,96% para 10,08%.

Segundo analistas, o principal efeito do IPCA-15 foi frustrar a expectativa por uma aceleração no ritmo de corte da taxa básica de juros para 0,75 ponto percentual. “As quedas de 0,5 p.p. já estão precificadas até o fim do ano, mas parte do mercado ainda insistia em precificar aceleração, o que acho exagerado”, diz Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed.

Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, diz que “quem apostava em um corte de 0,75 ponto percentual na Selic até o fim do ano pode estar reajustando sua posição”.

Agora, somente uma surpresa positiva com indicadores deve fazer o mercado voltar a acreditar em uma aceleração da magnitude de cortes. Enquanto isso não acontece, um ritmo de -0,5 p.p. por reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) é a regra.

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E meu investimento com isso?

Nos investimentos, a nova dinâmica se traduz em aumento das taxas dos títulos públicos. Após a divulgação do IPCA-15, o Tesouro Prefixado 2026 tinha rentabilidade de 10,18% ao ano ante juro de 10,07% no início do dia. A taxa do prefixado para 2029 subia de 10,79% para 10,87%.

O efeito da prévia da inflação, no entanto, é limitado. Isso porque nem todos os agentes do mercado precificavam aceleração no corte de juros. Daniel Leal, estrategista de renda fixa da BGC Liquidez, acha que o movimento de hoje não será permanente: “Há espaço para fechamento da curva, o que depende se os próximos dados de inflação permitirão que o Banco Central acelere os cortes daqui para frente”.

Para o especialista, ainda é tempo de aproveitar a rentabilidade real acima de 5% ao ano: “Os títulos atrelados ao IPCA seguem com taxas muito atrativas”.

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Os pós-fixados também não devem ser descartados, segundo os especialistas. “O curtíssimo prazo ainda entrega taxa de juros em dois dígitos, por isso ainda faz sentido ter pós-fixados em 2023”, diz Ricardo Jorge.

Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, lembra que “momentos de estresse como o que estamos passando agora podem ser boas oportunidades para entrar em ativos de renda fixa”. Isso porque não há perspectiva de alta estruturais nas taxas nos próximos meses. Portanto, pode ser uma boa aproveitar quando o mercado toma sustos como o de hoje.

Olho no Congresso e no Fed

Por mais que o IPCA-15 faça preço no mercado, o grande tema continua sendo as reformas econômicas. A aprovação do arcabouço fiscal já puxou as taxas para baixo e, agora, o mercado espera a votação da reforma tributária no Senado. “O que vai definir a dinâmica da curva de juros é o avanço de reformas”, comenta o sócio da Quantzed.

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Se a reforma tributária aprovada no Congresso agradar o mercado, Leal enxerga espaço para queda nas taxas dos títulos de inflação para até 4,5% ao ano: “Vejo potencial de aceleração da queda nas taxas de títulos de inflação longos”.

Além dos indicadores de inflação, os investidores ainda ficam de olho no que acontece lá fora. Hoje, a parte mais curta da curva de juros foi afetada pelo discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (o Fed, banco central dos EUA). Ele disse que a autarquia está preparada para elevar ainda mais a taxa de juros do país caso seja necessário.

‘O mercado vem esperando discursos mais suaves do Fed, mas isso não vem acontecendo. É um movimento que impacta a gente aqui”, lembra Daniel Leal.