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Em meio a um ano de saques volumosos em fundos multimercados e de ações, os fundos de previdência conseguiram remar contra a maré negativa e caminham para terminar 2022 com mais depósitos do que resgates.
A captação líquida (depósitos menos resgates) soma R$ 10,5 bilhões neste ano, até dia 14. Os dados são da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Apesar de terem escapado do movimento massivo de resgates, os fundos de previdência ofereceram retornos abaixo de índices de referência, na maior parte dos casos. É isso o que mostra estudo feito pela Quantum Finance, empresa de soluções para o mercado financeiro, a pedido do InfoMoney.
No caso de fundos de previdência do tipo renda fixa, as carteiras tiveram rentabilidade de 10,29% de janeiro até a última terça-feira (13), considerando a mediana dos resultados. Durante esse período, o retorno do CDI alcançou 11,65%.
Da mesma forma, fundos de previdência do tipo multimercado registraram ganhos de 7,61%, percentual inferior aos 11,65% do CDI. O número também ficou abaixo da média dos multimercados de gestão ativa no Brasil, medida pelo Índice de Hedge Funds Anbima (IHFA), que acumula um retorno de 12,44% até o último dia 13.
Retorno de fundos de previdência em 2022 |
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Classificação do fundo | Mediana de rentabilidade |
Renda Fixa | 10,29% |
Multimercado | 7,61% |
Ações | -6,19% |
Fonte: Quantum. Os dados têm como base retornos de 3/01/22 a 13/12/2022. Estudo segue a classificação de fundos da CVM.
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João Arthur Almeida, CIO da Suno Wealth, explica que fundos de previdência do tipo renda fixa com títulos prefixados e atrelados à inflação foram penalizados porque os juros subiram muito e os preços dos papéis recuaram, o que teve efeito negativo sobre os ativos e as cotas.
Já no caso dos multimercados, a explicação para o desempenho pode estar na amostra. Almeida explica que o mercado ainda tem um legado de fundos de previdência antigos – o lançamento de multimercados de casas renomadas e com melhor histórico de retorno é um fenômeno recente. Tanto é que os fundos multimercados convencionais (e não de previdência) superam o CDI, na média.
Carolina Oliveira, coordenadora de análise de fundos da XP, chama atenção também para a diferença de retornos oferecidos por produtos de plataformas e de bancos. Segundo ela, ao separar as rentabilidades, é possível perceber que os ganhos obtidos por fundos de previdência disponíveis em plataformas de investimentos tende a ser mais próximo do CDI ou do IHFA ao longo do ano.
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De olho na segurança: comece pelos pós-fixados
De olho no patamar de juros atual, quem está pensando em dar o pontapé inicial nas economias para a aposentadoria em 2023 deve optar por fundos pós-fixados atrelados ao CDI, na opinião de Carolina. A expectativa de boa parte do mercado é de que a Selic permaneça em 13,75% ao ano ao longo de 2023, com os primeiros cortes iniciando gradualmente em 2024.
Almeida, da Suno Wealth, recomenda ainda que o investidor escolha fundos de previdência com ativos high grade – ou seja, com menor risco – se optar por opções com crédito no portfólio.
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A explicação é que produtos que alocam em ativos prefixados ou atrelados à inflação podem ser afetados negativamente pela marcação a mercado caso as taxas de juros sigam em alta, defende o executivo.
Durante a existência de um papel, seu preço é marcado diariamente conforme as taxas que o mercado precifica a cada dia. Na prática, títulos atrelados à inflação e prefixados costumam desvalorizar quando as taxas de juros estão em tendência de alta. O contrário também é verdadeiro: os preços dos papéis normalmente sobem quando as taxas de juros caem.
Ulisses Nehmi, CEO da Sparta, que possui fundos de previdência com foco em crédito privado, acredita que 2023 será – mais um – ano da renda fixa. Mas defende que a melhor aposta para o ano que vem está em opções com retorno atrelado à inflação.
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Para Nehmi, a vantagem é que tais produtos podem proteger contra uma eventual surpresa inflacionária, dado o perfil fiscalmente expansionista do novo governo, além de “travar” uma taxa de juros acima da inflação elevada por mais tempo.
“Se as taxas de juros voltarem a cair, o investidor que entrou em fundo atrelado à inflação vai ter um retorno maior porque travou [a rentabilidade] com taxas reais bem altas”, resume o executivo.
De acordo com o Relatório Focus divulgado nesta semana, economistas esperam que a Selic termine o ano que vem em 11,75% ao ano e que a inflação fique em 5,17% em 2023.
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Com a expectativa de que a Selic se mantenha elevada por mais tempo, gestores de fundos de previdência com foco em renda fixa têm sido mais seletivos na escolha dos ativos. Rodrigo Mendonça, sócio da Valora Investimentos, alerta que tem diminuído gradativamente a alocação em setores afetados pelo cenário de juros altos e inflação persistente, como o varejo e a construção civil.
Por outro lado, a gestora tem olhado com mais atenção para segmentos resilientes, como energia elétrica, saneamento e o setor bancário.
A casa também acredita que fundos que possuem uma carteira mais sofisticada, alocando em produtos estruturados, poderão sofrer menos com a volatilidade no ano que vem. Hoje, uma parcela do portfólio dos fundos de previdência da gestora está em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e do setor imobiliário (CRIs), além de fundos de direitos creditórios (FIDCs).
Pelo fato de possuírem uma “gordura” maior em spread (juros acima dos oferecidos pelos títulos públicos), Mendonça afirma que tais fundos costumam apresentar menor variação de preço, o que tende a reduzir a volatilidade para quem está alocado.
Segundo passo: multimercados macro podem ser boa pedida
Depois das opções com bons retornos e menor risco, o investidor poderá acrescentar um pouco de “pimenta” à carteira com fundos de previdência do tipo multimercados, na visão de Carolina, da XP. Essa categoria foi a que registrou o maior número de novos fundos: o número de carteiras passou de 1.685 em janeiro para 1.955 agora em dezembro, segundo a Quantum Finance.
A especialista da XP explica que a vantagem de alocar em fundos de previdência do tipo renda fixa e multimercados é que o investidor pode se beneficiar da estrutura de tributação previdenciária.
Nos fundos convencionais dessas duas categorias, há cobrança do “come-cotas”, recolhimento periódico e obrigatório de Imposto de Renda sobre os rendimentos feito nos meses de maio e novembro de cada ano. Nos fundos de previdência, esse desconto não existe.
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Almeida, da Suno Wealth, também defende uma alocação em multimercados com destaque para fundos do tipo macro – que podem investir em juros, moedas e Bolsa. Para ele, tais opções tendem a se destacar em 2023, já que o “insumo” do gestor é operar em cenários de forte volatilidade.
Após obter ganhos expressivos com posições que se beneficiaram da alta dos juros em países desenvolvidos, alocações que apostaram na queda das bolsas globais e em moedas como o euro, Marco Mecchi, gestor de área macro da AZ Quest, explica que a casa tem exposições táticas para o ano que vem, com foco na montagem de opções.
São posições que ganham com a valorização do real, mas apresentam uma perda limitada se ocorrer alguma mudança no cenário. Além de uma opção que se beneficia se o Banco Central brasileiro mantiver a Selic estacionada em 13,75% pelo menos até agosto, resume o gestor.
Alocações no exterior devem seguir na carteira, mas em menor medida do que neste ano. Segundo o gestor da AZ Quest, o foco agora está em exposições que apostam na alta de algumas moedas contra o dólar e que se beneficiam da queda das Bolsas americanas.
“Isso não quer dizer que a rentabilidade será menor. No ano anterior [2022], o gestor fazia um ou dois trades [posições] e ia bem. Agora, vai ter que pegar mais movimentos e menores”, observa o executivo da AZ Quest.
Ações: ponto favorável para o longo prazo
Já quem tiver um horizonte de investimento de longo prazo e estiver mais disposto ao risco, Carolina acredita que o momento é “favorável” para entrar em um fundo de previdência com foco em ações. Em uma pesquisa da XP, vários gestores destacaram que não estão otimistas com o cenário local, mas acreditam que a Bolsa está prestes a chegar a seu pior momento.
“Empresas fizeram muito ajuste de eficiência. O juro muito alto forçou a precificação das ações para baixo. Estamos num ponto de entrada favorável, desde que o investidor tenha um horizonte entre três e cinco anos”, alerta a profissional da corretora.
Apesar de que acreditar que o cenário atual apresenta uma boa janela de oportunidade, ela não esconde que os retornos devem balançar e o investidor precisa estar preparado. “É o primeiro ano de governo e estamos em um cenário internacional mais conturbado”, diz, referindo-se aos juros nos Estados Unidos, que saíram de zero para o patamar de 4,25% a 4,5% em dezembro, e à chance de recessão na economia americana e na zona do euro em 2023.
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Olho na tributação
Ainda que a sugestão de especialistas seja iniciar a alocação com produtos de renda fixa, o investidor deve ter em mente que é preciso sempre alinhar o seu objetivo de investimento com a melhor estratégia previdenciária para o seu perfil, de modo a tirar todo o proveito da estrutura tributária.
A razão é que, nesses produtos, é possível optar por alíquotas progressivas de Imposto de Renda (IR), que vão aumentando de acordo com a valor do benefício ou do valor a ser resgatado (máximo de 27,5%); ou regressivas, que partem de 35% (acumulação ou resgate em até 2 anos) e podem cair para o mínimo de 10% (acima de 10 anos).
No PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre), por exemplo, que é indicado para quem faz a declaração do IR no modelo completo, existe a possibilidade de deduzir até 12% da renda bruta tributável, dependendo das contribuições feitas ao longo do ano. Por essa razão, a dica de especialistas é ter cautela para analisar a melhor opção para cada investidor.
Depois de escolher o melhor plano, o investidor deve buscar olhar o histórico do gestor. No caso de multimercados, Carolina afirma que muitos produtos lançados recentemente por casas como Kapitalo, Garde Asset, Genoa Capital, entre outras, podem ser atrativos – a desvantagem é não haver um histórico longo do desempenho, porque a legislação de previdência passou por mudanças nos últimos anos.
Nesse caso, a especialista da XP avalia que a alternativa é olhar as lâminas dos fundos que alguns gestores replicam para verificar se são de fato parecidos com as opções que seguem a instrução CVM 555 e analisar o histórico do produto para ver como se comportou diante de ambientes de maior pessimismo local.