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Investidor ignora ESG, mas “inflação verde” começa a impulsionar retornos: “Faça pelo seu dinheiro”

Transição energética requer mais dinheiro, e companhias vão ao mercado tentar captar – gerando oportunidade

Monique Lima

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Apesar de fenômenos como El Niño, com secas e ondas de calor, a estratégia de investimento ESG (sigla em inglês para designar responsabilidade ambiental, social e de governança) está perdendo espaço no mundo. Recentemente, o JPMorgan fechou dois fundos após resgates sem precedentes.

Mas, hoje ignorado, o investimento “verde” tenta chamar atenção novamente, agora por motivos menos nobres: a necessidade de capital subiu, e os retornos estão mais atrativos.

As principais oportunidades de investimento estão no exterior, diante da necessidade de financiamento da transição energética das economias, e do custeio de desastres naturais. Segundo a Schroders, cerca de US$ 100 trilhões precisam ser gastos em toda a indústria até 2050.

O exemplo da Índia é ilustrativo. O país quer gerar 450 gigawatts de energia renovável até 2030. Todo o mercado eólico offshore global gera atualmente cerca de 18 gigawatts por ano.

Em paralelo, novas minas de outras matérias-primas cruciais para as energias renováveis estão sendo perfuradas. Porém, até que estejam prontas e com uma boa estrutura para dar lucros levará anos.

“As políticas de mitigação climática reforçam a demanda por commodities como cobre e níquel. Isso, por sua vez, está levando à chamada inflação verde, que é definida como um aumento acentuado no preço dos materiais usados na criação de tecnologias renováveis”, escrevem os analistas da Schroders.

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A adoção de veículos eléctricos está aumentando a procura por lítio, níquel e cobre, com a procura de lítio potencialmente quadruplicando até 2030, conforme estimativas do BofA. A platina é crucial para o armazenamento de hidrogênio, e a busca poderá aumentar 24 vezes no mesmo período de tempo. Os investimentos em energia eólica afetam a procura por zinco, silício e prata, frequentemente explorados na China.

“Como resultado, espera-se que os preços dos minerais aumentem, possivelmente afetando os consumidores, uma vez que os produtores enfrentam custos mais elevados na sua cadeia produtiva”, diz o relatório do banco americano.

Qual é o tamanho da oportunidade?

Uma pesquisa da Schroders com 23.950 investidores, publicada em outubro,  verificou que quase a metade (46%) dos respondentes que querem uma alocação de até 30% em ações dá prioridade a ativos focados em infraestrutura e energia renovável.

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Analistas da gestora afirmam que as tecnologias necessárias para descarbonizar uma economia oferecem oportunidades de maiores retornos para os investidores. Eles calculam ganhos de 8,5% a 10% ao ano em fundos ativos, e destacam os seguintes setores:

Para José Pugas, sócio da JGP e responsável pela área ESG da gestora, o aumento do preço das commodities é natural, porém temporário.

“Estamos em um processo de desenvolvimento de infraestrutura para conseguir a matéria-prima de forma mais fácil e menos custosa. O que é preciso ter em mente é que essa inflação faz parte do processo, são mecanismos de ajuste”, diz Pugas.

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O executivo pondera que a inflação climática, associada aos desastres naturais, e a inflação dos combustíveis fósseis, que sofre interferências geopolíticas, atualmente custam muito mais para a sociedade do que a inflação verde.

“As políticas de estímulo dos governos servem para corrigir essas distorções que são naturais de uma transição de modelo, e elas estão sendo feitas. Mas é um processo até que as velhas alternativas se tornem menos vantajosas do que as energias renováveis”, diz o sócio da JGP.

Para o sócio da JGP, será impossível não considerar prejuízos climáticos e ambientais nos investimentos em cerca de dois anos.

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“O momento é de antecipar essa análise e já considerar esses riscos agora e ter uma atitude mais responsável com o dinheiro”, diz Pugas.

Se você não faz isso por questões de sustentabilidade e preservação do planeta, faça isso pela proteção do seu dinheiro.”

Como investir

É possível investir em energias renováveis, empresas com práticas sustentáveis entre outras teses por meio de fundos ativos, como os fundos de investimento, ou fundos passivos, como os ETFs.

Nos Estados Unidos, há fundos passivos com teses variadas, como para hidrogênio verde, energia nuclear, eólica e solar.

Porém, o conselho dos analistas neste momento é focar em fundos ativos ou empresas pontuais, visto o cenário restritivo dos juros americanos que prejudica ativos de risco. Veja alguns exemplos de fundos internacionais:

Ticker  Nome  Fundo  Retorno 2023 Retorno 5 anos 
TAN Invesco Solar ETF ETF -37,65% 17,58%
ICLN iShares Global Clean Energy ETF ETF -29,50% 11,10%
CNRG ETF SPDR Kensho Clean Power ETF -21,65% 17,42%
FNARX Fidelity Natural Resources Fund Mutual fund 3,58% 10,73%
GAAEX Guinness Atkinson Alternative Energy Mutual fund -13,82% 13,45%
VGENX Vanguard Energy Inv Mutual fund 5,18% 2,51%

Contra crise, caminhão de dinheiro

Os 10 principais eventos climáticos extremos custaram bilhões globalmente em 2022.

Segundo análise da organização britânica Christian Aid, o prejuízo foi acima de US$ 3 bilhões por evento. Somente a onda de calor que assolou o verão da Europa acumulou US$ 20 bilhões em perdas. No Brasil, a seca deu um prejuízo de US$ 4 bilhões, estima a organização.

Estes números consideram apenas as perdas seguradas, o que significa que os custos reais foram ainda maiores, enquanto os custos humanos muitas vezes não são nem contabilizados.

Estudos do Bank of America (BofA) apontam que o custo anual associado à destruição climática em 2070 poderá ser mais do que o dobro dos custos anuais de investimentos associados à prevenção ou mitigação de danos.

Na Europa, onde a transição energética já possui mais regulamentação, cerca de US$ 500 bilhões foram investidos em infraestrutura de energia renovável no ano passado, uma quantia que deve crescer para US$ 1,3 trilhão por ano até 2030, conforme dados da Agência Internacional para as Energias Renováveis.