Inflação dos EUA “azedou” investimentos? Veja como ficam ações, renda fixa e FIIs

Mercado reforça aposta em renda fixa e adiciona dose de cautela para a Bolsa; FIIs devem manter tendência de alta

Wellington Carvalho Paulo Barros

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O pessimismo tomou conta do mercado após o índice de preços ao consumidor dos Estados Unidos (CPI) subir mais do que o previsto em março. Na sessão desta quarta-feira (10), a Bolsa brasileira registrou queda de 1,41% e o dólar bateu R$ 5,07, maior patamar desde outubro do ano passado. Diante do cenário, como ficam os investimentos no Brasil?

“O CPI acima do esperado deu uma azedada no humor geral”, reconhece Rodrigo Marcatti, CEO e economista da Veedha Investimentos. “Com uma inflação mais resiliente, o mercado começou a projetar um corte a menos do que era esperado para os juros nos Estados Unidos”, explica.

Reflexo da percepção, acrescenta o especialista, as taxas dos títulos do Tesouro dos Estados subiram e o movimento tende a gerar uma fuga de capital para estes papéis – considerados mais seguros e, agora, mais rentáveis.

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Desta forma, essa migração mexe no comportamento dos ativos pelo mundo, como ocorreu com Ibovespa e o próprio câmbio no Brasil nesta quarta-feira (11).

Confira o que esperar em cada classe de ativo após a mudança de cenário para a inflação e juros nos Estados Unidos.

Renda Fixa

Diante do cenário, a renda fixa deve ter cada vez mais espaço cativo no portfólio dos investidores, avalia Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.

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“A gente ainda vai manter a renda fixa como maior alocação do portfólio recomendado para a maior parte dos investidores”, confirma. “Tem muita companhia pegando recursos no mercado, trocando as dívidas contraídas em 2022 (quando os juros estavam maiores) por dívidas mais baratas e gerando bons produtos de renda fixa para o investidor”, completa o economista, destacando o crédito privado.  

Cruz explica que a previsão de juros no Brasil está um tanto exagerada para o ano que vem – na casa de dois dígitos – e isso gera oportunidades em taxas prefixadas. Ele vê um cenário mais desafiador para papéis atrelados à inflação – que no Brasil veio abaixo do esperado em março – e que agora vale menos, em caso de resgate antecipado.

Mas para quem tem esta classe de ativo e não tem necessidade de resgatar antes do prazo, os papéis ainda podem executar função importante na carteira de investimentos, orienta André Campos, operador de renda fixa na Nova Futura.

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“Os títulos já comprados atrelados a inflação possuem uma importante função no portfólio e esta função vai se tornando mais e mais importante no longo prazo”, contextualiza. “A divisão da alocação entre pós, prefixado e inflação deixa a diversificação trabalhar a favor do investidor”, sugere.

Ações

Na sessão desta quarta-feira (10), apenas cinco ações do Ibovespa fecharam no azul após o resultado da inflação nos Estados Unidos. Entre os papéis que tiveram resultado positivo, boa parte está ligada ao setor de petróleo – cujo preço subiu por causa das tensões no oriente médio.

O fechamento do pregão anterior reflete o sentimento de Roberto Motta, da Genial Investimentos, que sinaliza um pouco mais de cautela para a Bolsa brasileira diante do novo cenário para os juros nos Estados Unidos.

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“Tem coisa boa na nossa Bolsa, mas com o novo cenário de juros eu evitaria empresas muito alavancadas (endividadas)”, sugeriu o analista em live da corretora. “Mesmo com um Ebitda (lucro antes de juros, impostos depreciação e amortização, na sigla em inglês) sensacional, essas companhias devem sofrer na última linha [da demonstração financeira] quando forem pagar os juros”, projeta o analista, prevendo que as taxas permanecerão alta por muito tempo.

Na XP, a crença é de que “os atuais preços podem representar um ponto de entrada interessante em nomes cíclicos domésticos”, desde que sejam mantidas as perspectivas de mais cortes de juros na Selic nos próximos meses, e com as projeções de lucros melhorando, disseram o head de alocação, Rodrigo Sgavioli, e o analista de alocação, Eduardo Melo, em relatório na terça-feira (10).

FIIs

Diferentemente das ações, os fundos imobiliários se apresentam menos prejudicados com os novos indicadores econômicos nos Estados Unidos e não devem sofrer tanto no curto prazo, projeta Marcatti, da Veedha.

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“Os FIIs estão mais relacionados à Selic que, no curto prazo, não deve mudar de rota”, opina. “Você pode até ter uma realização por conta do movimento [volatilidade do mercado], mas é uma classe que sofre menos com a expectativa dos juros nos Estados Unidos e deve manter a tendência positiva ao longo do ano com a possibilidade rendimentos acima de 1% ao mês”, finaliza.  

Renda fixa nos Estados Unidos

Em relatório da Julius Baer, Markus Allenspach, chefe de pesquisa de renda fixa da gestora, lembra que a casa já havia alertado que o mercado de títulos de dívida dos Estados Unidos enfrentaria um cenário mais desafiador e o comportamento dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos confirma a expectativa.

No documento, ele aponta que as taxas dos títulos de dez anos do país subiram para 4,54%, contra 4,40% da semana passada e dos 3,87% no final de 2023.

“Não esperamos que os rendimentos alcançarão os níveis de outubro de 2023”, relembra. “[No entanto,] consideramos que as taxas dos Estados Unidos vão atingir um nível atrativo”, projeta o analista, que reforça recomendação para títulos corporativos de qualidade – boa classificação de risco.

Wellington Carvalho

Repórter de fundos imobiliários do InfoMoney. Acompanha as principais informações que influenciam no desempenho dos FIIs e do índice Ifix.