Índice de BDRs dispara mais de 9% com combinação de bolsas em alta em NY e avanço de 4% do dólar

Nos EUA, mercados refletem bons números da inflação e perspectiva de elevações menores de juros; no Brasil, problema é preocupação com questão fiscal

Mariana Segala

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Uma combinação de otimismo nos mercados americanos com o clima de pânico que impera no brasileiro nesta quinta-feira (10) fez os BDRs (Brazilian Depositary Receipts) negociados na B3 a disparar. O BDRX subia 9,65% às 16h58 horas, aos 11.466 mil pontos.

Entre os destaques de alta, estavam algumas empresas de tecnologia. Dentre os papéis que compõem o BDRX, os da Advanced Micro (A1MD34) eram os que mais subiam, com uma alta superior a 18%. Os da Nvidia (NVDC34) avançavam mais de 17% e os da Amazon (AMZO34), 15,5%. Entre as dez maiores altas ainda era possível ver Zoom Video (Z1OM34), de 15%; e Adobe (ADBE34), de 13%.

O movimento, em algum grau, reflete o que se vê nas bolsas dos Estados Unidos. Entre os três índices de ações mais populares do país, o Nasdaq – que tem a maior concentração de companhias de tecnologia – foi o que subiu mais. A alta era de 6,31% no mesmo horário..

Lá fora, os investidores foram surpreendidos por uma inflação ao consumidor mais suave do que o esperado nos Estados Unidos em outubro – o índice de preços ao consumidor (CPI), divulgado pela manhã, acumula 7,7% em 12 meses, ante um consenso de mercado que esperava 8%.

Ao mesmo tempo, o número de pedidos-desemprego subiu a 225 mil, acima do que a maior parte dos economistas esperava, que eram 220 mil. O número foi lido como um indicativo de que o mercado de trabalho americano está desacelerando, como é a intenção do Federal Reserve (Fed, banco central americano), que vem agindo na política monetária para reduzir o ritmo da economia e desacelerar a inflação.

As informações levaram otimismo aos mercados lá fora – afinal, sugerem que o Fed não precisará manter uma elevação de juros tão grande como tem feito nos últimos meses por lá. Nas últimas reuniões de política monetária, a alta foi de 0,75 ponto percentual. Hoje, o mercado calcula uma probabilidade de mais de 80% de que a próxima alta seja de apenas 0,25 ponto percentual.

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Mas não apenas os bons ventos de fora beneficiam os BDRs nesta quinta. A desestabilização dos mercados aqui no Brasil também teve sua parcela de contribuição.

Os BDRs são recibos de ativos negociados em bolsas estrangeiras e listados no mercado local. “Na B3, a variação [da cotação] dos BDRs é igual à variação da ação original mais a variação do câmbio. E hoje o dólar estressou bastante”, explica Felipe Paletta, sócio da Monett.

O dólar era negociado com alta acima de 4% por volta das 17h. “O dólar está caindo sobre todas as moedas, menos o real. Estamos na contramão total”, diz Rodrigo Marcatti, sócio da Veedha Investimentos.

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A explicação está na política. Soluções fora do teto de gastos para viabilizar o antigo Bolsa Família de R$ 600 por mês ganham força e preocupam agentes financeiros, em meio a um cenário cheio de ruídos com a indefinição sobre o novo ministro da Fazenda. “Esse discurso pegou mal com o mercado. A turma está muito preocupada com a questão fiscal”, afirma Marcatti.

Para completar, durante a tarde o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, anunciou novos nomes que integrarão a equipe de transição de governo. Dentre eles, as atenções se voltaram para o de Guido Mantega, o mais longevo ministro da Fazenda do País (2006-2014) e que também comandou o Ministério do Planejamento (2003-2004). O economista deverá integrar o grupo que se debruçará sobre o debate orçamentário.

“Isso incomodou, porque é um nome conhecido do período em que houve o maior estrago para a economia brasileira. Então, a queda foi acentuada”.

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Mariana Segala

Diretora de Redação do InfoMoney