Governo “tem que entrar no jogo”, diz Kinea; Ibiuna aposta em real fraco

Casas adotam cautela diante de cenário interno mais delicado e de potenciais efeitos de processos eleitorais em vários países

Bruna Furlani

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A falta de uma resposta mais concreta do Governo às pressões fiscais, aliada a um período de eleições ao redor do mundo, têm exigido uma postura mais defensiva e tática de parte das gestoras com ativos brasileiros nos últimos meses.

Em carta enviada a clientes, a Kinea Investimentos foi categórica ao dizer que o Governo Federal não tem mais opção. “[Ele] tem que entrar no jogo e fazer o mercado acreditar que o arcabouço fiscal ainda se manterá vivo”.

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Para a Kinea, o Governo precisará apresentar “soluções críveis” de que a trajetória de despesas pode ser sustentável. Nesse caso, diz, o processo não deve envolver outra revisão de meta de 2025 e 2026, sem que seja resolvida a questão maior da “sustentabilidade do arcabouço fiscal”.

Embora entenda a necessidade de ajuste, a gestora acredita que o mais provável é que o Governo apresente medidas que tentem ganhar tempo, mas que não “resolvam o problema”. Nos cálculos da casa, seria preciso enviar ao Congresso um projeto de lei que preveja um corte entre R$ 20 bilhões e de R$ 30 bilhões em termos de gastos permanentes para não fragilizar ainda mais a questão fiscal.

Declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), porém, mostram a resistência do Executivo em relação ao corte de gastos, o que traz insatisfação para o mercado e tem reflexo direto na moeda. Na véspera (1), o dólar à vista encerrou o dia cotado a R$ 5,6538 na venda, uma alta de 1,13%, no maior preço de fechamento desde 10 de janeiro de 2022.

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Posições táticas e maior cautela

De olho em um cenário mais desafiador, a Kinea está com posições táticas e moderadas em Brasil, com foco nos juros curtos. A casa defende que é “improvável” a alta da Selic ao longo das próximas reuniões, diante do cenário mais benigno que possui para a inflação.

Dentro da Ibiuna Investimentos, a visão também é de cautela. Em carta a investidores de seu principal fundo macro, a gestora afirmou que os ruídos “autoimpostos” pelos comentários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Banco Central e ao presidente da instituição, Roberto Campos Neto, trouxeram mais um mês de aversão a risco no mercado e que está com uma postura mais defensiva com ativos no país.

Na renda fixa local, a gestora está com posições aplicadas (que se beneficiam do recuo) em juros reais e com uma alocação comprada em inflação implícita, que trata de operações em que os gestores ganham quando a expectativa de inflação sobe ao longo do tempo, além de negociações de valor relativo nas curvas de juro real e implícitas.

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A Ibiuna também está com uma exposição vendida (que aposta na desvalorização) no real contra o dólar e com posições compradas e vendidas não direcionais em ações brasileiras, além de uma alocação em crédito corporativo local.

Olho atento para as eleições mundo afora

Fora o difícil jogo fiscal interno, as eleições mundo afora podem tornar o ambiente ainda mais nebuloso para o desempenho de ativos brasileiro ao longo deste ano, na visão da Ibiuna.

Em carta, os especialistas da casa destacaram que as eleições no México, Índia, África do Sul, França e Reino Unido afetaram os preços dos ativos, em uma disputa marcada por “plataformas populistas de direita e de esquerda que, em geral, exacerbam o risco de deterioração fiscal”. Porém, lembra que o principal pleito do ano, nos Estados Unidos, entrou no radar dos analistas de forma prematura, principalmente após o primeiro debate, e já foi capaz de promover efeitos no mercado.

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“O enfraquecimento da candidatura democrata [no debate] transformou uma corrida que parecia parelha em uma eleição com probabilidade maior de retorno de Donald Trump à Casa Branca e o fortalecimento potencial dos republicanos no Congresso, uma combinação crucial aos ativos globais para além das decisões do Federal Reserve [Fed, banco central americano]”, avaliou a Ibiuna.

De acordo com a casa, a eventual adoção de uma política americana que combine protecionismo tarifário, populismo fiscal, pressão potencial sobre o Fed e incertezas geopolíticas favorece a visão de que o dólar irá se fortalecer globalmente e de que a curva de juros americana poderá ter mais prêmio na ponta longa, conforme aponta consenso de analistas.

“Ainda estamos no começo da temporada eleitoral americana, mas esse cenário recomenda desde já maior cautela com ativos de risco, em particular fora dos EUA”, observa a Ibiuna.

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Em junho, a casa estava com posições tomadas em juros nos Estados Unidos e com uma pequena exposição a índices futuros de ações no país.