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SÃO PAULO – Uma empresa só terá êxito na implementação de sua política ESG se o “G” dessa sigla, que significa governança, for o pilar da estratégia. A avaliação é de Sandra Guerra, fundadora da consultoria Better Governance. ESG é a sigla em inglês para “environmental, social and governance”, referente às melhores práticas ambientais, sociais e de governança, em português.
“Na perspectiva dos investidores, a questão é que não há ‘E’ ou ‘S’ se não houver o ‘G’. Se não tiver uma governança adequada, dificilmente uma empresa estará de fato perseguindo melhorias nas questões ambiental e social”, disse Sandra, durante painel especial do Melhores da Bolsa 2021, realizado pelo Infomoney e pelo podcast Stock Pickers.
Guerra afirmou que as empresas devem traduzir os conceitos em práticas e extrair valor dos pilares da governança. Esses pilares são dizem respeito a transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa. No entanto, avaliou que parte das empresas não está convencida de que as práticas de governança possam trazer resultados.
“Ao longo da história, temos mais empresas avançando em governança pela dor. Elas enfrentam algum problema ou dificuldade e aí ficam mais abertas para a transformação”, afirmou.
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Andrea Bottcher, líder da área de ESG na Neo Investimentos, concorda que o “G” é a base das políticas de ESG e que, para a estratégia dar certo, ou seja, se transformar em resultados, é preciso que essas práticas sejam implementadas em toda a empresa, começando pelos escalões mais elevados. Em resumo, é uma mudança de cultura dentro da companhia.
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“É importante ter essa cultura alinhada desde cima. Essa cultura tem que ser disseminada na empresa como um todo. Por essa razão, na Neo gostamos de olhar a questão de relevância e materialidade”, disse.
Essa relevância irá determinar se a empresa dará maior ênfase às práticas ligadas ao meio-ambiente ou sociais. No caso de uma mineradora, Andrea afirma que as questões ambientais serão mais relevantes. Já em empresas do setor de educação e saúde, as políticas sociais ganham um peso maior.
E conseguir traduzir isso em prática também dependerá do estágio de cada empresa. Uma companhia que abriu o capital há pouco, muitas vezes precisa de mais tempo ou orientação para avançar nas práticas ESG. Como exemplo, Andrea citou a Vivara, que, após o IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês), realizado em 2019, passou a exigir dos fornecedores de matéria-prima certificados de origem que precisam ser elaborados por uma auditoria independente.
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Olhar do Investidor
Embora não seja tarefa simples, Sandra, da Better Governance, afirma que os investidores, ao avaliar o ESG dentro de uma empresa, precisam primeiro identificar quais são os recursos naturais essenciais para o negócio. A partir dessa informação, verificar se a empresa comunica quais medidas está adotando em relação ao melhor uso desses recursos, o que irá garantir a sustentabilidade do negócio.
Já as empresas devem se preparar para o momento do esgotamento de um recurso natural levando em conta não apenas o negócio, mas os demais agentes envolvidos. Novamente tendo como exemplo uma mineradora, a consultora afirma que, após o fechamento de uma mina, é necessário saber o que será feito com o entorno no término das operações e isso precisa ser discutido com a comunidade local.
“A empresa estará continuamente sendo precificada em relação ao seu comportamento e atitudes. O custo de capital vai aumentar quando houver uma incerteza em relação às motivações”, observou Sandra.
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Essa incerteza pode minar a reputação que uma companhia demorou anos para construir. No entanto, a consultora afirma que, mesmo em casos graves, é possível que uma empresa recupere a confiança dos investidores. Não será de imediato, mas se a companhia souber reconhecer os erros que cometeu e corrigi-los, revertendo, assim, o problema.
Andrea afirma que os investimentos da Neo, feitos com base em análise fundamentalista, só são concluídos após se conhecer os acionistas de referência (em geral, os controladores). Segundo ela, esse conhecimento é importante para saber se há um alinhamento entre o objetivo do fundo, que tem uma visão de longo prazo, e os da empresa.
“Quando esse alinhamento não ocorre mais no ciclo de investimentos, saímos do papel”, disse.
Ao falar das empresas que fazem a abertura de capital em outros países, em especial nos Estados Unidos, Andrea lembra que essa prática muitas vezes é estimulada pela menor liquidez no mercado brasileiro. Ainda assim, reconhece que algumas companhias veem como atrativo as bolsas que permitem aos controladores ter um conjunto de ações com maior poder de voto e que isso, no longo prazo, pode gerar algum conflito de interesse.
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Já para Sandra, a existência de uma “super share” pode ser útil no período de amadurecimento de um negócio, mas que o princípio da governança é que os poderes políticos de uma empresa estejam alinhados aos econômicos. Dessa forma, caso adotada essa “super share” no momento do IPO, o ideal é que a assimetria seja reduzida ao longo de alguns anos.
O ranking Melhores Empresas da Bolsa é realizado anualmente e elaborado pela provedora de serviços financeiros Economatica e pela escola de negócios Ibmec. Esse levantamento adota critérios quantitativos e qualitativos para analisar as companhias de capital aberto. A análise considerou um período de três anos, de 31 de dezembro de 2017 a 31 de dezembro de 2020. Os dados quantitativos foram avaliados pela Economatica e os qualitativos, pelo Ibmec.
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