Gestores da ACE e Legacy esperam por fim da prescrição futura dos juros em reunião do Copom

Entenda como a manutenção da taxa Selic e o fim do "forward guidance" podem impactar seus investimentos

Laís Martins

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SÃO PAULO – “As condições que nos possibilitaram ter um juros de 2% não existem mais.” O diagnóstico foi feito por Gustavo Pessoa, sócio-fundador da Legacy Capital, durante live no Instagram do InfoMoney nesta quarta-feira (20). Tanto ele quanto Ricardo Denadai, economista-chefe da ACE Capital, que também participou de entrevista comandada pela especialista em investimentos Ana Laura Magalhães (a Explica Ana), porém, não esperam que uma mudança na taxa Selic ocorra já na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de 2021.

“É amplamente esperado pelo mercado que a taxa Selic se mantenha em 2% ao ano. O debate tem ficado mais quente em relação à comunicação sobre o que o BC espera para o longo prazo”, resume Denadai.

A visão não é isolada. Levantamento realizado pela XP com 32 gestoras de estratégia multimercado aponta para juros estáveis na primeira reunião do Copom no ano. Mas a mediana das projeções para o juro básico ao fim de 2021 subiu de 3,00% para 3,63%, na comparação com o levantamento feito antes do encontro de dezembro do Copom, variando de 2% (portanto sem alteração) a 5% ao ano (na avaliação de duas gestoras).

A decisão do Copom será anunciada pelo Banco Central após o fechamento do mercado, às 18h30.

Além do consenso em torno da manutenção da Selic na mínima histórica, os gestores compartilham a expectativa de que o BC encerre a indicação de forward guidance após a reunião desta quarta.

O forward guidance (prescrição futura, em tradução livre) consiste em uma ferramenta de política monetária usada pelo BC para sinalizar a projeção da taxa de juros para um determinado período e as estratégias adotadas para que a meta seja atingida. Com ele, o mercado e os investidores já sabem o que esperar da economia nacional e podem tomar decisões financeiras sem muitas surpresas.

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“Quando ele [BC] fez esse instrumento [forward guidance], a situação do mundo e do Brasil era completamente diferente. As projeções de inflação têm subido muito em relação à meta, os preços das commodities não param de subir em dólar, a questão fiscal, que também envolve o auxílio emergencial, está ruim”, analisa o gestor da Legacy.

Dessa forma, para Pessoa, o Banco Central já deveria abrir mão do forward guidance e começar o processo de regularização dos juros.

Como investir na renda fixa com juros tão baixos?

Com a taxa Selic ainda em 2% ao ano, os investimentos em renda fixa ficam pouco atrativos. Na visão de Denadai, apenas um investidor muito conservador deve deixar o seu dinheiro rendendo o CDI. Ele explica que, com a projeção da inflação para o final de 2021 em 3,5%, ao aplicar na renda fixa pós-fixada, na melhor das hipóteses, o investidor vai apenas empatar com a inflação em termos de rentabilidade.

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Assim, o gestor aponta que há outras maneiras de bater a inflação nesse cenário: “Você pode usar a renda fixa ativa para aproveitar essas oportunidades. Que não seja um fundo DI, que é renda fixa passiva. Que seja [um fundo] mais ativo, gerenciado por gente competente que consiga buscar  oportunidades na oscilação da curva de juros”.

Ana Laura Magalhães ressaltou que essa recomendação exclui a fatia destinada à reserva de emergência, que não deve ter uma estratégia de rentabilidade com risco. Ela também aponta para um movimento favorável no momento para a Bolsa: “Quando os juros estão baixos, há um fluxo maior de ativos em direção à renda variável, principalmente para a Bolsa”.

“Real fica mais atraente com a alta futura dos juros”

Outro tema debatido na conversa se refere ao câmbio, mais especificamente ao impacto de uma eventual alta da taxa Selic no dólar.

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Pessoa explica que o câmbio será muito impactado por uma possível alta de juros. Quando os juros de um país começam a subir, sua moeda fica mais atraente. Isso ocorre porque essa moeda terá um ‘carrego’ melhor, ou seja, o investidor receberá mais juros por tê-la. Assim mais investidores, nacionais e internacionais, vão querê-la.

Portanto, o gestor entende que, em um segundo momento, o preço das commodities pode oscilar menos. “Só de ter essa vontade maior de querer o real, já cai a volatilidade, no primeiro momento. No segundo momento, ela [a moeda] começa a apreciar. E o real quando começa a apreciar você tem menos pressão inflacionária, fazendo o canal de commodities e câmbio funcionar,” finaliza.

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E Agora, Ana?

O programa “E Agora, Ana?” vai ao ar às quartas-feiras, às 12h, no Instagram do InfoMoney. A série de lives, apresentadas pela especialista em investimentos Ana Laura Magalhães, traz assuntos relevantes para os investidores se posicionarem em investimentos no Brasil, levando em conta os cenários dos mercados nacional e internacional.

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Laís Martins

Analista de Conteúdo no InfoMoney. Formada em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e com passagens pela Globo e UOL. Cria conteúdos sobre investimentos, finanças, economia, mercados e tecnologia