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A remuneração dos papéis do crédito privado foi um dos principais pontos de debate do segmento ao longo de 2024. Algumas gestoras decidiram fechar para captação seus fundos que investem em debêntures, letras financeiras e certificados de recebíveis por não encontrarem boas oportunidades para alocar os recursos que não paravam de chegar enquanto os investidores corriam para a renda fixa.
O fim do ano trouxe um movimento que parecia representar uma virada de chave: o spread das debêntures atreladas ao CDI passou de 1,8% em novembro para 5,9% em dezembro, segundo o JGP Idex. Alta da Selic, risco fiscal e medo de uma guerra comercial global causaram a abertura.
Os gestores de crédito privado aproveitaram as taxas mais altas para ir às compras, mas, com a queda dos prêmios para 2,1% em fevereiro e expectativa de manutenção da remuneração em um patamar mais baixo, agora preferem esperar oportunidades pontuais ou condições melhores de mercado.
Esse “modo de espera” é caracterizado pelo nível de caixa dos fundos, um montante alocado em instrumentos mais líquidos – e com menor rendimento – disponível para ser usado caso boas debêntures ou outros papéis de crédito privado surjam.
Na Trígono Capital, o nível caixa chegou a 30% e só caiu para os atuais 20% por conta da recente janela de oportunidade. Já a Principal Asset, que geralmente tem seus fundos de crédito privado rodando com 10% a 15% de caixa, tem hoje uma reserva de liquidez variando entre 20% e 25% do patrimônio.
Segundo Luiz Christ, gestor de crédito privado da casa, o nível alto deverá ser mantido por um bom tempo: “preferimos não fazer alocações e esperar oportunidades nos movimentos de mercado para comprar papéis a preços mais atrativos, como fizemos no final do ano”.
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Thiago Manso, gerente de vendas e negociações de renda fixa na XP, explica que “o fechamento rápido dos spreads de papéis AAA (melhor classificação de risco) faz com que os gestores fiquem mais cautelosos porque não é qualquer papel que terá fechamento de spread depois que comprarem”.
Para alguns, a solução estaria em títulos de empresas com risco e – consequentemente – remuneração maiores. Porém, com juros altos “machucando” as empresas, gestores como Marcelo Peixoto, da Trigono, acham que o “desafio de 2025 é evitar problemas”.
Ao projetar o restante de 2025, Peixoto diz que este ano “é mais de carrego do que de ganho de capital, se compararmos com 2024”. Isto porque a rentabilidade dos fundos de crédito foi impulsionada pelo fechamento de spreads no ano passado, o que não deve acontecer daqui para frente, já que os prêmios já estão comprimidos o suficiente para fazer gestores pisarem no freio na alocação.
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O gestor da Trigono ainda conta que o fundo Sirius teve retorno equivalente a 118% do CDI em janeiro “mesmo com 30% de caixa”, o que mostra por que as gestoras estão confortáveis em não ter uma parte maior do patrimônio alocado.
O que fazer agora?
Enquanto os gestores adotam uma postura mais cautelosa, os investidores de varejo parecem mais confiantes. A explicação, segundo Manso, está na preferência por papéis incentivados para aproveitar a isenção de Imposto de Renda. Isto faz com esse público olhe mais para a taxa nominal do que para o prêmio na comparação com o Tesouro IPCA+.
“Mesmo que o spread seja negativo, as pessoas físicas conseguem papéis com excelente qualidade de crédito pagando IPCA + 7,40%”, lembra o executivo da XP. Com a isenção de IR, os spreads negativos de empresas como Vale, Petrobras, JBS e Eletrobras ainda podem fazer sentido.
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Em um 2025 ainda cheio de incertezas pela frente, combinar a compra de incentivados ao investimento via fundos de crédito privado pode garantir o melhor retorno ajustado ao risco, segundo Manso. “Comprando diretamente, o investidor pode aproveitar o benefício fiscal e comprar risco corporativo AAA. Já os fundos conseguem chegar onde seria muito arriscado ir sozinho e têm excelente capacidade de escolha de ativos”.
Fora das incentivadas, as oportunidades ainda existem, só que mais escassas. Luiz Christ, da Principal, diz que o nível de dispersão dos spreads aumentou, ou seja, a média dos prêmios caiu, mas agora é possível encontrar taxas muito altas ou muito baixas, o que gera oportunidades de compra.
Nesse contexto, é importante saber separar oportunidades de ciladas. As empresas com endividamento alto são as mais penalizadas pelo mercado agora, mas até nelas podem estar bons investimentos: “se a alavancagem acontece por um plano de investimentos e vemos redução disto lá na frente, podemos aceitar níveis maiores no curto prazo”, diz Peixoto.
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O gestor diz ter aumentado para quase 30% a participação de bancos “de primeira linha” na carteira por avaliar o mercado de trabalho ainda forte no Brasil: “em um momento de cautela, é o setor certo para estar”.
Já a Principal vem encontrando nas cotas de FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) remunerações melhores com balanço positivo de risco, já que a classe não sofreu fechamento tão relevante de spread quanto as letras financeiras e debêntures, segundo Christ.
Ele complementa: “se pego uma debênture com boa classificação de risco, consigo CDI + 0,8%, o que vira 0,5% depois da minha taxa de administração; preciso, como gestor, encontrar meios de proporcionar rentabilidade atrativa para alocarem em mim e não em outro produto”.