Geração Z de “zero risco”: jovens investem cada vez mais cedo e adoram uma renda fixa

Ao contrário do que o senso comum pode sugerir, brasileiros entre 16 e 25 anos têm preferência pelos investimentos mais seguros – mas já estão aprendendo a diversificar

Monique Lima

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Deivyd Barros tinha apenas 14 anos quando ouviu falar de ações, bolsa de valores e investimentos pela primeira vez, após seu irmão mais velho comentar sobre formas de ter mais dinheiro. “Fiquei curioso. Comecei a ver vídeos e anotar tudo, de renda fixa a ações. Virei aquele chato que só falava de uma coisa”, conta o jovem, que hoje tem 18 anos e palestra sobre investimentos e educação financeira para alunos do Ensino Médio.

Antes de completar a maioridade, Deivyd já tinha sua própria carteira de investimentos. O jovem, que se considera de perfil moderado, tem alocação em diferentes títulos de renda fixa, ações e fundos imobiliários, e já mira exposição internacional. “Não consegui abrir uma conta nas corretoras internacionais por causa da idade”, conta entre risos. “Mas tenho uma pequena parcela em dólar com o IVVB11”, acrescenta.  

Deivyd Barros, 18 anos, fundador do Investeens, organização de educação financeira para jovens no Ensino Médio (Foto: Divulgação)

A fatia de brasileiros que começa a investir cada vez mais cedo está crescendo no país. Segundo dados da B3, em 2013, 4% dos investidores tinham até 24 anos, valor que aumentou mais de 5 vezes 10 anos depois, para 21%. Esses dados consideram apenas a renda variável, mas uma pesquisa independente sugere que é a preferência universal dos jovens é, na verdade, pela renda fixa. 

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Um levantamento feito pela Z-Invest, consultoria que trabalha com educação financeira para a geração Z, mostra que a alocação predominante de 50% dos jovens entre 16 e 25 anos é na classe de investimentos com retornos previsíveis. Ações aparecem na sequência, como escolha principal para 39% dos respondentes. A pesquisa foi feita em março de 2024 com cerca de 200 investidores da base da consultoria.  

Rafael Válio, fundador da Z Invest, não atribui a preferência por renda fixa a um conservadorismo da geração Z. “Estamos em um cenário de juros altos, oferecendo bons retornos. Acho que existe uma questão de momento”, diz. “Ações globais e criptoativos também tem uma boa adesão, o que mostra o interesse por diversificação.”  

Confira o peso de cada tipo de investimento nas carteiras de jovens entre 16 e 25 anos:

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Tipo de investimentoPredominante Moderado Baixa Não aloco 
Renda Fixa Brasil 50% 27% 17% 6% 
Ações Brasil  39% 28% 10% 23% 
Ações Globais  10% 8% 26% 56% 
Renda Fixa Global  1% 6% 14% 78% 
Criptoativos  7% 6% 22% 65% 
Imobiliários 11% 21% 15% 53% 
Multimercados 4% 15% 17% 65% 
Alternativos 5% 5% 11% 69% 
Fonte: Z-Invest (março/2024)

Questão de tempo  

Mariana Khoury, 22, sempre teve o instinto poupador, mas não sabia como tornar isso algo rentável. Aos 16 anos, pediu ao pai indicações sobre como investir, pois sabia que ele tinha aplicações financeiras. “Eu não entendia muita coisa, então fui em busca de alguma orientação ou recomendação”, conta a jovem estudante de medicina na Universidade de Santo Amaro.

A sugestão do pai foi criptomoedas – e ela investiu na pouco conhecida Cronos (CRO). “Eu sabia que não podia olhar todos os dias, ou ficaria louca. Percebi que variava muito, então esqueci e deixei lá. Faz cinco anos. Rendeu alguma coisa, nada demais, mas valeu pela experiência”, diz.

Mariana resolveu voltar a investir em 2023, mas dessa vez optou por títulos de renda fixa. Agora, busca conhecimento para tomar suas próprias decisões sobre investimentos. Algo que mais de 80% da geração Z faz em relação ao próprio portfólio, segundo a pesquisa da Z-Invest. “Não preciso saber tudo nos mínimos detalhes. Quero aprender para ter um olhar crítico e saber no que investir para usar o tempo a meu favor”, diz a jovem.  

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Tempo que favoreceu Lucas Martorelli, 23, sem ele ao menos saber. Ao atingir a maioridade, o jovem recebeu de familiares um investimento que havia sido feito desde que ele tinha nascido. “Era uma quantia significativa, e eu não fazia ideia do que fazer com todo aquele dinheiro. Coloquei na poupança quando recebi”, conta.

Aos 19, Lucas entrou no curso de Direito da Fundação Getúlio Vargas e conheceu Rafael, da Z Invest, que começou a falar de investimentos, fazer o dinheiro render, pensar no futuro. “Acabei convencido e comecei a estudar para montar uma carteira. Hoje o dinheiro está dividido entre renda fixa, ações e fundos. Também adotei o hábito de poupar uma parcela do salário todos os meses e manter uma reserva de emergência”, diz o estudante.

Futuro começa hoje  

Rafael Válio, 22 anos, fundador da Z-Invest, consultoria de educação financeira para a geração Z (Foto: Divulgação)

Antes de fundar a Z Invest, Rafael aprendeu sobre investimentos e mercado financeiro com a mãe, que vendia fundos estrangeiros para brasileiros quando ele era criança. Embora tenha se interessado pelo assunto muito cedo, ele não acredita que seja um tema natural para os jovens. “Primeiro salário o jovem quer gastar. Não tem noção de poupar dinheiro ou se preocupar com o futuro. O futuro parece distante. Não é um assunto fácil, mas isso faz com que seja mais importante de ser difundido”, diz.

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A Z-Invest surgiu em 2021, quando Rafael decidiu ensinar educação financeira para pessoas de idade próxima à sua. A consultoria faz palestras em empresas e faculdades, além de promover eventos para a geração Z, como o Z Summit, congresso que tem sua terceira edição realizada neste sábado (6), em São Paulo, e espera receber 3.000 jovens. 

Segundo Rafael, para captar a geração Z é necessário adaptar o discurso, e tratar de investimentos com leveza. Deivyd, fundador do projeto Investeens, que foca em educação para jovens do Ensino Médio, sente a mesma necessidade. “É uma questão de instigar o interesse com exemplos, histórias pessoais, fazer com que eles desliguem o celular e queiram te ouvir”, diz.

“Tempo é nosso maior recurso”, lembra Rafael. “Quando mais cedo começarmos, mais renda podemos gerar para garantir um futuro seguro.”

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