Fundos multimercados superam CDI em 6 meses, e gestores veem recuperação em 2025

Classe registrou volumes bilionários de resgate no ano com perda de confiança sobre retornos, mas últimos meses mostram recuperação

Monique Lima

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2024 deve terminar como o ano da virada de página para os fundos multimercados. Depois de 18 meses amargando performances abaixo da referência e somando volumes bilionários de resgates, os últimos meses mostraram uma recuperação no retorno e, para 2025, a expectativa dos gestores é unânime: volta por cima

Desde julho, o desempenho dos multimercados acompanhados pelo índice IHFA registrou um retorno positivo de 6,36%, superando os demais principais índices de referência – o CDI ficou com 5,03%, o Ibovespa com 3,70% e os títulos de inflação (até 5 anos) com 3,45%. 

A alocação diversificada e flexível, com possibilidade de exposição ao exterior e investimentos alternativos como Bitcoin e moedas, são explicações para a melhora da classe. O argumento também é usado para fundamentar o diferencial dos ativos no próximo ano, quando o cenário externo se mostra com mais oportunidades do que o mercado doméstico. 

“Multimercados é um produto que consegue navegar e ir bem em diferentes cenários. Estruturalmente, sua principal característica é ser adaptável”, diz Guilherme Preciado, gestor da Opportunity. 

Fonte: Análise de Fundos – XP

Segundo os gestores ouvidos pelo InfoMoney, uma das principais dificuldades que a classe enfrentou nos últimos meses foi não haver diferentes cenários. O ciclo “inflação alta – aumenta juros – inflação cai – baixa juros” foi praticamente universal no mundo e acontecendo ao mesmo tempo. Somente agora a economia global começou a normalizar e os países voltaram a apresentar cenários próprios para os gestores “navegarem” com diferentes estratégias. 

“A força do multimercado é olhar para diferentes tendências e criar várias estratégias principalmente no exterior. Um cenário igual no mundo inteiro é muito prejudicial. A partir do momento que as teses começaram a descorrelacionar, a performance melhora”, diz Ruy Alves, gestor de portfólio da Kinea. 

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No ano, o desempenho da classe ainda é negativo: 57% do CDI até novembro, somando 5,72% de retorno, conforme o IFHA, versus 9,95% do CDI. Pode não ser o resultado número um, mas está acima dos títulos de inflação longos (-4,84%), do Ibovespa (-6%) e dos fundos imobiliários (-7,23%). 

Renda fixa x multimercados 

Alfredo Menezes, sócio-fundador, CIO e CEO da Armor Capital

Os gestores não acreditam que o motivo dos R$ 324,2 bilhões resgatados da indústria de multimercados ao longo de 2024 foi a renda fixa. Segundo apurou o InfoMoney, a dificuldade em montar posições e performar ao longo de 2023 machucou a carteira de muitos investidores e fez a classe perder credibilidade e atratividade. 

“Fundos multimercados no Brasil são vistos de forma muito correlacionada. Se um fundo vai mal, entende-se que todo o setor está mal”, diz Alfredo Menezes, sócio-fundador, CIO e CEO da Armor Capital. “Muitos fundos perderam em relação ao CDI, mas não foram todos. Teve fundos que ficaram acima da referência. Mas a descrição do cenário foi de que todos estavam mal.”  

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Mesmo agora, com o novo aumento da Selic para 12,25% e a sinalização de mais duas elevações no início de 2025, os gestores não veem prejuízo para a tese dos multimercados. Ruy Alves defende ser uma notícia boa para a classe

Segundo o gestor da Kinea, o caixa dos multimercados ficam alocados em Selic, de modo que a rentabilidade alta é vista como positiva. “Caixa em Selic e posições alavancadas em estratégias no exterior. O ambiente é muito bom”, diz Alves. 

O gestor da Armor também vê algum ajuste nas alocações depois do aumento da Selic. “Tem muita sobreposição em renda fixa, principalmente no crédito. Muitos fundos de crédito não estão refletindo os riscos reais de alguns emissores e estão pagando pouco prêmio por esse risco. Isso pode abrir espaço para reajuste de alocação, trazendo algum capital de volta para multimercados”, diz Menezes. 

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Em novembro, o setor não chegou a registrar captação positiva, mas teve uma desaceleração de 77,3% em relação aos saques de outubro, segundo a Anbima

Teses para 2025: Brasil não é uma delas 

Estados Unidos é a escolha número um. Alfredo Menezes, sócio-fundador, CIO e CEO da Armor Capital, acredita que a economia doméstica americana tem as melhores condições para crescimento em 2025. A vitória de Donald Trump e sua tendência protecionista tende a aquecer o mercado interno. 

A Armor está alocada principalmente em bancos, além de setores domésticos. O fortalecimento do dólar frente às moedas do G7 também é uma aposta da gestora. 

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Na Opportunity, a tese em Estados Unidos está focada no S&P 500. Preciado vê desafios nos preços esticados de algumas ações no índice, principalmente big techs, mas acredito que o balanceamento equal weight (pesos iguais) favorece a tese de economia aquecida em 2025. 

Pequenas empresas e indústria, além de bancos regionais, são as apostas da Kinea. “Tem empresas desses segmentos que estão no mesmo preço de dois anos atrás. Só se olhou para tecnologia nesses dois anos. Com o Trump, esses setores devem andar”, diz Alves. 

Mas há as teses específicas e globais, que são o forte dos multimercados. Alguns exemplos citados pelos gestores foram posições aplicadas (que se beneficiam da queda) em juros do Canadá e da República Tcheca. Posições vendidas em yuan, da China, e euro, na Europa. 

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E Brasil? Quem não está neutro (sem nenhuma posição) em Ibovespa, está vendido. Para o real, as posições também se dividem entre neutro e vendido. A posição mais forte é aplicada em juros reais.