SÃO PAULO – Em tempos de maior volatilidade dos mercados, com cenário externo adverso, crescimento mundial que caminha a passos lentos e inclusive de preocupação com uma recessão nos Estados Unidos, investidores mais conservadores, que preferem se expor menos às emoções das altas e baixas da Bolsa, recorrem aos famosos dividendos para tentar defender suas carteiras de fortes oscilações, mas garantir retornos ainda atrativos ao patrimônio.
Seja por meio de ações mais defensivas, de empresas conhecidas pela estabilidade, alta geração de caixa e baixa necessidade de reinvestimento, ou via fundos imobiliários listados em Bolsa, que têm a obrigação de dividir os lucros com os investidores periodicamente, os dividendos são particularmente interessantes para pessoas físicas, devido à isenção de Imposto de Renda sobre o provento distribuído.
No caso dos fundos imobiliários, o benefício é válido desde que as cotas sejam negociadas na Bolsa de Valores ou no mercado de balcão organizado; o fundo tenha, no mínimo, 50 cotistas; e nenhum cotista detenha 10% ou mais do total de cotas do fundo, nem receber rendimento superior a 10% do total de rendimentos do FII.
Levantamento feito pelo InfoMoney com base em dados da Economatica revela que, nos últimos 12 meses, os fundos imobiliários têm se destacado quando o assunto é proventos, com uma mediana de dividend yield (o retorno com dividendos) de 7,84% até julho.
De um total de 117 FIIs, uma parcela de 75% superou o CDI apenas com a distribuição dos dividendos. Do lado das ações, a mediana de dividend yield dos 67 papéis do Ibovespa ficou mais baixa no período, em 3,67%.
Lembrando que retorno passado não é garantia de rentabilidade futura e que os riscos e a liquidez dos produtos são diferentes, se tivesse que escolher uma das classes de ativos para chamar de sua, qual seria mais vantajosa?
O InfoMoney conversou com especialistas do mercado para apresentar as vantagens e desvantagens de ações e fundos imobiliários, no que tange à distribuição de dividendos, e para que fique claro o processo de seleção de cada ativo.
Segundo eles, uma carteira bem diversificada pode conter os dois produtos, mas de forma diferenciada. O consenso foi de que nem um nem outro é mais vantajoso e de que a escolha varia de acordo com o perfil de risco do investidor, embora a análise de alguns critérios possa ajudar o investidor a tomar uma decisão.
Dentre eles está a volatilidade. Ainda que ambos os ativos sejam negociados em Bolsa e sofram oscilação diária em suas ações ou cotas, o mercado acionário tende a estar exposto a maior volatilidade. “Um ativo imobiliário também vai ter variação na cota, mas ele tende a ser menos volátil por estar vinculado aos imóveis, ou seja, à vacância, ao tipo de inquilino e aos contratos estabelecidos”, destaca Eduardo Akira, sócio no escritório Vero Investimentos.
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Outro fator que deve pesar sobre a escolha diz respeito à periodicidade dos rendimentos, visto que, enquanto os FIIs costumam pagar dividendos mensalmente, as empresas listadas em Bolsa possuem calendários próprios, sendo na maioria das vezes trimestral, semestral ou anual. “O fundo imobiliário é interessante para o investidor que precisa de uma renda mensal, porque ele tem uma distribuição mais uniforme; ele sabe que todo dia ‘x’ do mês o dividendo vai pingar na conta dele”, afirma Rodrigo Marcatti, sócio-diretor do escritório Veedha Investimentos.
Além dos proventos mais recorrentes, nos fundos imobiliários, há uma lei que determina a distribuição de, no mínimo, 95% do lucro auferidos, apurados segundo o regime de caixa, que reconhece as receitas e despesas apenas quando elas efetivamente entram no caixa da empresa.
No caso das ações, a Lei das S/As indica que os acionistas têm o direito de receber como dividendo obrigatório, em cada exercício, a parcela dos lucros estabelecida em estatuto. Se o mesmo for omisso, o dividendo obrigatório não pode ser inferior a 25% do lucro líquido ajustado da empresa.
“Enquanto uma empresa não consegue cravar dividendo, nem lucro, os FIIs possuem contratos predeterminados, então, se nada mudar, o investidor vai saber qual será o rendimento. Os fundos são mais previsíveis”, avalia o professor do InfoMoney Arthur Vieira de Moraes.
Há de se lembrar, contudo, a menor quantidade de fundos imobiliários listados em Bolsa, assim como é fundamental se atentar à liquidez de cada ativo, seja uma ação ou um FII.
Os melhores pagadores de dividendos
Levantamento feito pelo InfoMoney com base em dados da Economatica mostra que o FII que mais se destacou em relação à distribuição de dividendos nos últimos 12 meses foi o BTG Pactual Corporate Office Fund (BRCR11), com dividend yield de 17,7% no período. Em seguida aparecem RB Capital Desenvolvimento Residencial II (RBDS11), com 17,1%, e o fundo imobiliário Edifício Almirante Barroso (FAMB11B), com um DY de 16,9%.
Nome | Ticker | Dividend yield |
BTG Pactual Corporate Office Fund | BRCR11 | 17,73% |
RB Capital Desenvolvimento Residencial II | RBDS11 | 17,06% |
FI Edifício Almirante Barroso | FAMB11B | 16,85% |
BB Progressivo | BBFI11B | 14,20% |
Rio Bravo Crédito Imobiliário I | RBCB11 | 14,02% |
CSHG Hedge Top FOFII | TFOF11 | 13,71% |
FII UBS (BR) Recebíveis | UBSR11 | 13,16% |
FII General Shopping Ativo e Renda | FIGS11 | 12,59 |
Polo CRI | PORD11 | 11,69% |
FII Fator Verità | VRTA11 | 11,33% |
Fonte: Economatica
Com relação às 67 ações que fazem parte do Ibovespa, o topo da lista parte da BR Distribuidora (BRDT3), com uma relação entre o dividendo pago por ação e o valor unitário de cada papel de 13,6% nos últimos 12 meses. Na sequência, aparecem Telefônica Brasil (VIVT4), com 13,2%, e Cyrela (CYRE3), com dividend yield de 11,9%.
Empresa | Ticker | Dividend Yield |
BR Distribuidora | BRDT3 | 13,57% |
Telefônica Brasil | VIVT4 | 13,18% |
Cyrela | CYRE3 | 11,90% |
BB Seguridade | BBSE3 | 11,52% |
Itaúsa | ITSA4 | 10,14% |
Taesa | TAEE11 | 10,07% |
Cielo | CIEL3 | 9,46% |
Engie Brasil | EGIE3 | 9,31% |
Itaú Unibanco | ITUB4 | 8,23% |
Banrisul | BRSR6 | 8,13% |
Fonte: Economatica
Olhar o mercado pelo retrovisor, porém, não é o movimento ideal para tomar decisões. Segundo Akira, da Vero Investimentos, os baixos dividendos pagos pelas empresas brasileiras estão atrelados a uma demora da recuperação econômica nacional, contribuindo para um cenário atípico. A expectativa é que, com a retomada da atividade, as companhias voltem a obter resultados mais expressivos, e que eles se traduzam em retorno para o investidor.
“As empresas estão muito enxutas por conta dos últimos anos, em que tiveram que fechar a torneira para sobreviver. Então entendo que qualquer incremento de receita será margem ‘na veia’ — e isso vai fazer com que o lucro das empresas cresça muito”, afirma, reforçando o consequente impacto sobre os dividendos distribuídos.
FIIs, ações ou os dois?
Na opinião dos especialistas consultados, os fundos imobiliários e as empresas tidas como pagadoras de dividendos podem e devem conviver juntos, compondo a parte de renda variável do portfólio. “Eles se complementam e são importantes para uma diversificação, que vai depender muito do perfil de investidor”, afirma Alan Feldon, responsável pela área de relação com investidores de alta renda da Claritas Investimentos.
Na visão da Claritas, um investidor conservador pode alocar cerca de 5% do portfólio em ativos de renda variável, como FIIs e ações. Investidores moderados podem subir a régua para 10%, enquanto os mais arrojados podem aumentar para 15%, mesclando ainda com ações que, mesmo não oferecendo bons dividendos, tenham potencial de valorização.
Para Akira, do escritório de investimentos Vero, investidores conservadores têm nos FIIs uma opção melhor por conta da maior previsibilidade dos dividendos e da menor volatilidade das cotas. “Se você é um investidor conservador que não tolera variação na rentabilidade, não faz sentido ter uma carteira de ações que gere dividendos. Já para uma pessoa de perfil entre moderado e agressivo, eu teria os dois ativos”, diz.
Uma diluição do risco também deve ser feita por meio da diversificação do portfólio, tanto entre ativos quanto em diferentes setores de uma mesma classe. Em outras palavras, da mesma forma que o investidor deve analisar qual a aplicação ideal a ser feita em cada tipo de produto, cabe a ele diversificar a alocação entre os setores da economia (consumo, commodities e financeiro, dentre outros), no caso de ações, e do mercado imobiliário (como lajes corporativas, shopping centers e produtos como LCIs e CRIs), no caso dos fundos.
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