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Fundos de pensão usam papéis de inflação e ativos dolarizados para driblar incertezas

Repique dos juros no Brasil faz indústria trilionária mitigar riscos e seguir "receita de bolo"

Matheus Prado

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Com repique de alta dos juros e a inflação acima da meta, no cenário interno, os fundos de pensão brasileiros têm apostado em duas estratégias “padrão ouro” para proteger o capital dos investidores: títulos atrelados ao IPCA (NTN-Bs) e ativos dolarizados.

No caso das NTN-Bs, isso acontece em planos de benefício definido (BD), com boa parte dos participantes aposentados ou pensionistas; enquanto nos ativos internacionais o destaque fica por conta das bolsas americanas, para planos mais jovens, de investidores majoritariamente ativos e em fase de acumulação.

A reversão do ciclo de afrouxamento monetário pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) colocou os juros brasileiros em sentido oposto ao das maiores economias do mundo.

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Dessa forma, em um momento em que incertezas fiscais e o baixo nível de confiança dos agentes se sobrepõem às expectativas de taxas mais moderadas ao redor do globo, os fundos de pensão refazem suas contas.

Assim, diante do que será, no mínimo, uma postergação do esperado ambiente de juros mais baixos, investidores calibram suas carteiras para ponderar parte dos riscos tomados nos últimos meses e se proteger de possíveis avanços adicionais das taxas e, principalmente, da inflação.

Fundos de pensão: tamanho da indústria

Com foco no longo prazo, meta atuarial definida e R$ 1,27 trilhão de reais sob gestão, segundo dados do fim do ano passado da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), os fundos de pensão são como transatlânticos, se movem e mudam de direção com menos velocidade.

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Não obstante, gestores ouvidos pelo InfoMoney relatam movimento de ajuste de posições.

Paulo Werneck, diretor de Investimentos da Vivest (antiga Funcesp), nota que, atualmente, o mundo espera reversão parcial do aperto monetário feito pelos principais BC do mundo para patamar mais civilizado.

Por outro lado, entende que há várias incógnitas no Brasil, seja pelo patamar demasiadamente elevado do juro real ou pelas incertezas fiscais.

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“Não vemos os juros baixando muito porque o endividamento do país está crescendo e as reformas necessárias não estão sendo feitas”, diz.

Menos risco

A decisão foi, então, no sentido de reduzir riscos e ‘duration’, e aumentar o caixa, à espera de oportunidades. Werneck diz que, como a curva de juros brasileira está ‘flat’ por conta da discussão fiscal em pauta, “podemos comprar NTN-Bs curtas e esperar”.

“Se eu achasse que o juro iria ceder rápido, alongaria. Como eu não tenho essa convicção, prefiro encurtar por ora”, afirma. A casa tem cerca de R$ 38 bilhões sob gestão.

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Na outra ponta da mesma curva, comprada em vencimentos mais longos, está a Funcef, segundo Gustavo Portela, diretor de investimentos e participações da casa, que tinha cerca de R$ 107 bilhões sob gestão no fim do primeiro semestre.

Para ele, deve ocorrer uma desaceleração da atividade no próximo ano, dado o patamar contracionista da política monetária. E, combinando esses fatores, talvez vejamos um ambiente de menores pressões e espaço para cortes na Selic ainda em 2025.

“A estratégia predominante tem sido a imunização do passivo por meio da aquisição de NTN-Bs, visando proteger a carteira de investimentos dos efeitos da variação das taxas de juros e inflação. A Funcef adicionou à carteira do seu principal plano mais de R$ 11 bilhões em NTN-Bs desde janeiro de 2023. ”

Conforme Portela, a estratégia predominante tem sido a imunização do passivo por meio da aquisição de NTN-Bs, visando proteger a carteira de investimentos dos efeitos da variação das taxas de juros e inflação.

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A Funcef adicionou à carteira do seu principal plano mais de R$ 11 bilhões em NTN-Bs desde janeiro de 2023.

“E como esses papéis pagam cupons semestrais, a Fundação tem feito também o casamento entre os fluxos de recebimento dos títulos públicos e os compromissos de pagamento de benefícios aos aposentados e pensionistas.”

Média e longa duração

A Previ, com cerca de R$ 267 bilhões sob gestão, também foi às compras e adicionou às carteiras de benefício definido R$ 12 bilhões em papéis de média e longa duração atrelados à inflação no primeiro semestre de 2024, afirma o diretor de investimentos Claudio Gonçalves, no que chamou de “uma intensificação do trabalho de imunização de seu passivo para proporcionar mais segurança para os investimentos”. 

Nota, adicionalmente, que os investimentos em renda variável estão sendo gradativamente migrados para a renda fixa nas carteiras BD, representando 62% dos ativos hoje contra 32% em 2012.

De acordo com Gonçalves, isso reflete-se em uma situação mais confortável em termos de solvência, permitindo que a casa só faça movimentos em momentos de maior convicção.

Para carteiras mais jovens e de contribuição variável (CV), no entanto, a Previ tem buscado diversificação via gestores parceiros, em renda variável e alocação no exterior. No caso da segunda, ele diz ser uma classe com grande horizonte de crescimento para alocação e a mais rentável da casa em 2023 e 2024.

“E acreditamos que a trajetória de queda da taxa de juros nos EUA levará o investidor institucional estrangeiro a investir em ativos de maior risco, em mercados emergentes, e que o Brasil poderá se beneficiar”, completa.

Ativos dolarizados

Posicionamento em ativos globais também teve destaque nas carteiras da Funcef, com retorno de 20,64% no primeiro semestre o ano. Portela diz que ativos dolarizados exercem papel fundamental em portfólios que possuem exposição ao risco de mercado, funcionando como um ‘hedge‘ natural e reduzindo o risco do portfólio.

Em relação à bolsa brasileira, Portela opina que cenários de estresse geram oportunidades.

“Nos nossos planos jovens, aproveitamos o momento de recuo da bolsa no primeiro semestre do ano para fazer um aporte de R$ 200 milhões. A renda variável faz parte da nossa alocação estratégica, sendo fundamental para o retorno dos nossos participantes no longo prazo. A carteira é formada por empresas saudáveis, com bons fundamentos e resilientes na geração de caixa. A expectativa é de continuidade de recuperação.”

Werneck, da Vivest, diz que tem olhando mais para a bolsa americana, que hoje em dia é pautada pelo crescimento das techs. Ademais, defende que momentos como o atual são bons para estudar o mercado e organizar as carteiras.

“Mercado se desenvolveu muito nos últimos anos. Temos ETFs, outras estruturas seguras. Mercado de crédito também está interessante.”