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Os fundos de pensão começaram a investir em private equity (PE) e venture capital (VC) há cerca de 20 anos, logo após o Brasil vencer a batalha contra a hiperinflação. No entanto, essas mais de duas décadas de alocações em investimentos considerados de risco revelam que a estratégia foi marcada por frequentes perdas.
Dos 168 fundos de private equity e venture capital que receberam recursos dos fundos de pensão no período, 46% (76 fundos) apresentaram perdas líquidas, acumulando um prejuízo de R$ 12,5 bilhões. Em 11 casos, os fundos chegaram à situação de patrimônio líquido negativo. Apenas 12% apresentaram retorno acima de 20% ao ano, o que normalmente é prometido por esses produtos.
Esses dados foram levantados pela Private Equity Bay (Pebay), uma plataforma de inteligência especializada em private equity. A empresa acompanha 1.500 fundos de PE/VC, com R$ 700 bilhões sob gestão. No estudo, foram considerados apenas os fundos lançados entre 2002 a 2021, com capital comprometido superior a R$ 4 milhões. Os FoFs foram desconsiderados.
Motivos das perdas
Ao analisar os fundos que entregaram prejuízo, o levantamento apontou algumas características em comum entre eles. Produtos lançados por gestores novatos foram responsáveis por R$ 5 bilhões (40%) das perdas – mais da metade deles investia em um único ativo, formato conhecido como “Club Deal”.
“É natural que nas fases iniciais de desenvolvimento da indústria houvesse pouca experiência acumulada. Mesmo nos mercados maduros há muitas novas gestoras sendo lançadas. Porém a seleção de gestoras novatas exige certos cuidados que talvez os fundos de pensão à época não tivessem ciência”, diz o relatório.
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Outros R$ 2,8 bilhões de prejuízo foram oriundos de gestoras com certa experiência, mas cujos fundos geridos anteriormente não apresentavam retornos atrativos. Os fundos de pensão também se valeram de FIPs para investir se aventurar no mercado de PE/VC, sem um gestor especializado – esses FIPs acumularam perdas de R$ 2,4 bilhões. Na soma negativa também entram os fundos temáticos, que representam R$ 1,6 bilhão das perdas.
Ganhos
Apesar do desempenho negativo da maioria dos fundos de capital de risco, 20 (ou 12% do total) dos produtos escolhidos pelos fundos de pensão conseguiram gerar ganhos líquidos acima dos 20% ao ano. Os fundos temáticos se destacaram, com 71% do total – ou R$ 20 bilhões em ganhos.
De acordo com o relatório, as melhores taxas de retorno foram geradas por fundos de ativos reais, com taxa líquida mediana de 15% ao ano, seguido pelos fundos de infraestrutura, com 6% ao ano. No lado oposto estão fundos de private equity tradicional e imobiliário, com mediana de -3% ao ano, e os investimentos diretos, com -1%.
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Menos risco, mais renda fixa
No início dos anos 2000, os fundos de pensão chegaram a representar 50% do valor captado por safra dos fundos de PE/VC. Na época, os investidores internacionais aumentaram os aportes globais por causa da crise do Subprime. A partir de 2011, no entanto, a participação começou a diminuir, até chegar ao atuais 2%.
Há dois tipos de fundos de pensão: as Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPCs) e os fundos de Regimes Próprios de Previdência Social (RPPSs), dos servidores públicos. Juntos, eles têm R$ 20 bilhões no segmento de private equity brasileiro, que somava R$ 750 bilhões em agosto de 2024
A queda dos investimentos dos fundos de pensões em private equity e venture capital coincidiu com a alta nos juros, segundo a pesquisa. “Com a redução dos juros ocorrida por volta de 2020, os fundos de pensão voltaram a demonstrar interesse (e necessidade) por ativos alternativos. Porém a escalada de juros após a pandemia colocou novamente um freio nesse processo, em especial com os juros superando as metas atuariais dos fundos de pensão”, segundo a Pebay.
Com cenário de taxas elevadas, a renda fixa passou a ser a “queridinha” dos fundos de pensão. A categoria de investimento foi responsável 81,4% da carteira dos EFPCs no primeiro semestre deste ano, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp). A renda variável atingiu 10,4% da carteira em junho.
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