R$ 500 a mais na conta: o que fazer (e o que não fazer) com o dinheiro do FGTS?

Entenda o que a liberação de recursos do FGTS pode representar para suas aplicações financeiras

Beatriz Cutait

Publicidade

SÃO PAULO – “Quando a esmola é demais, o santo desconfia”, diz o sábio provérbio, que cai como uma luva para os brasileiros nesta quinta-feira.

Depois de muita expectativa, alimentada em grande parte pelo próprio governo, mas também pelos efeitos gerados por iniciativa semelhante adotada no governo Temer, foi anunciada uma nova liberação de recursos do FGTS.

Pelas regras divulgadas, será possível resgatar até R$ 500 neste ano de contas ativas (referentes a contratos de trabalho atuais) e inativas (de contratos finalizados) do FGTS e do PIS/Pasep. A partir de 2020, cotistas do fundo, ou seja, qualquer trabalhador registrado pelo regime CLT, poderão sacar, anualmente, uma parcela do saldo de suas contas ativas.

O objetivo principal é incentivar a economia, com o potencial de injeção de R$ 42 bilhões na economia, dos quais R$ 30 bilhões neste ano. A ideia é que a medida atinja um total de 106 milhões de pessoas.

A preocupação do governo é legítima. O Brasil vive um momento delicado, de atividade enfraquecida, nível de desemprego ainda elevado e de endividamento preocupante. Dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostram que o percentual de famílias endividadas atingiu, em junho, 64%, o maior nível mensal desde 2013. E a dívida média do brasileiro orbita na casa dos R$ 3,2 mil, segundo informações da CNDL e do SPC Brasil, valor 41% maior que a renda média mensal do trabalhador, de R$ 2.291.

Com base nesses números, já fica claro como, ainda que positiva, a liberação do FGTS não vai fazer nem cócega para o endividado. O que não significa dar licença para esse grupo sair por aí gastando o dinheiro com outras finalidades. Se você tiver dívidas e for um dos contemplados, use o valor para ao menos abater parte do valor devido.

Continua depois da publicidade

Presumindo, contudo, que você não faça parte dessa seleção de endividados e que possa destinar o recurso para o que bem entender, o conselho é fazer o máximo para investir bem esses recursos.

É pouco dinheiro, sem dúvida, mas pode (e deve!) ser aplicado, seja para marcar seu primeiro passo no mercado ou para aprofundar sua relação nesse universo.

Como mostrou a repórter Mariana d’Ávila em matéria publicada em junho, não é preciso ser milionário para ingressar no mercado financeiro. Mas há, claro, algumas barreiras que limitam as ambições.

Continua depois da publicidade

Alternativas de investimento

O Tesouro Direto é uma opção, já que, com R$ 30, é possível começar a investir. No entanto, em meio a uma queda tão expressiva da taxa de juros, você deve estar se questionando se ainda vale a pena investir em títulos públicos. E a resposta é depende…

Se você estiver começando a investir e não contar, portanto, com nenhuma reserva financeira, o papel Tesouro Selic, o mais demandado pelos investidores em junho, segue como uma boa alternativa. Sem risco, barato, seguro e líquido, o título permite a você alocar os recursos mais voltados para eventuais despesas de curto prazo.

E segue como opção atrativa nesse nicho específico, ao lado de fundos do tipo DI com taxas de administração de até 0,25% ao ano (valor da taxa de custódia do Tesouro Direto) e CDBs de bons emissores, que ofereçam a possibilidade de resgate diário e que paguem pelo menos do CDI.

Continua depois da publicidade

Infelizmente, essa última categoria será a mais difícil de encontrar com R$ 500. Produtos bancários como CDBs, LCIs e LCAs tendem a exigir investimentos a partir de R$ 1 mil.

Mais risco

Se a ideia for aumentar a fatia alocada em risco, por incrível que pareça, há, sim, boas opções de fundos de ações e multimercados que exigem valores baixos de investimento. Fundamental, contudo, se atentar à qualidade do fundo a ser escolhido, sua volatilidade e liquidez, já que é comum haver um pedágio de um mês ou mais para poder sacar o dinheiro aplicado.

Ainda na seara da renda variável, é claro que o investidor pode investir diretamente em ações, ETFs ou fundos imobiliários, mas, se só dispor dos R$ 500, tenderá a concentrar o risco em poucos papéis, além de possivelmente ser obrigado a aplicar via mercado fracionário (nos dois primeiros casos), o que é tido como menos vantajoso, principalmente do ponto de vista da liquidez.

Continua depois da publicidade

Há ainda que se atentar aos custos cobrados na aplicação, que podem prejudicar os retornos no caso de valores investidos muito baixos. Nesse caso, melhor dar preferência aos fundos.

E vale sempre lembrar da categoria previdenciária, maior destaque dos últimos tempos. Com R$ 500 é possível contratar bons planos, especialmente com o ingresso de cada vez mais gestoras independentes no segmento. Não só o valor pode ser uma contribuição esporádica, como pode representar o início de uma contratação para o longo prazo.

Invista os recursos do FGTS com quem entende: abra uma conta na XP; é gratuita!

Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.