Com captação maior que a dos bancos, gestoras independentes devem crescer com fundos imobiliários e previdência

Estudo da XP mostra que casas independentes captam mais recursos do que perdem desde 2016; 5 maiores bancos ficaram no vermelho em 2018 e estão repetindo o movimento em 2019

Beatriz Cutait

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SÃO PAULO – Não é de hoje que as gestoras de recursos independentes têm conseguido se destacar no Brasil. Em meio ao maior interesse dos investidores pelo mercado de capitais, com uma taxa de juros cada vez menor como pano de fundo, e com o crescimento de plataformas de investimento, as casas desvinculadas dos grandes bancos vêm ganhando espaço.  

Segundo um levantamento da XP feito com base em dados da Economatica, as gestoras independentes do Brasil têm hoje uma participação de 34% no patrimônio total do setor, ante 66% dos cinco maiores bancos do país (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, Itaú e Santander). Em 2015, a fatia das independentes era de apenas 31%.

Talvez mais representativos que os dados de patrimônio sejam os de captação. Depois de sofrerem resgates maiores que os aportes em 2015 na soma das classes de ativos, as gestoras independentes têm saldo líquido positivo em todos os anos desde então, ou seja, captam mais recursos do que perdem. 

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Já os bancos ficaram no vermelho em 2018 e estão repetindo o movimento em 2019, o que significa que os saques têm superado os investimentos.

Segundo Gustavo Pires, head de fundos da XP, os primeiros beneficiários desse novo contexto de mercado foram os fundos macro, com uma taxa anual de crescimento de patrimônio de 40% de 2015 a 2018; seguidos pelos de ações, com expansão de 28% ao ano no período; e pelos de crédito privado, com aumento de 30%.

Neste ano até maio, 95% das captações líquidas dos fundos macro têm partido das casas independentes; na categoria de ações, elas respondem por 66% do total e, em crédito privado, por 61%.

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E a aposta de expansão dos independentes recai agora sobre os fundos Imobiliários e a indústria de previdência. As informações foram apresentadas durante o evento Asset Management Conference, realizado em junho em São Paulo. 

Fundos Imobiliários

Embora a indústria de fundos imobiliários esteja em maior evidência, com um aumento de 120% no número de investidores nos últimos 12 meses, para 342 mil, ela ainda é pequena.

O patrimônio líquido dos FIIs listados na B3 era de R$ 59 bilhões em maio, ou 1,2% da indústria de fundos brasileiros (R$ 5 trilhões), enquanto, no mercado americano, por exemplo, os chamados REITs (Real Estate Investment Trust) operam na casa do trilhão de dólares e respondem por 13% da indústria de fundos como um todo, assinala a XP.

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Pires vê um grande potencial de crescimento para os fundos imobiliários, que teriam condições de alcançar uma representatividade de 5% da indústria de fundos do Brasil, diante de juros menores, vacância em queda, aumento real nos aluguéis, estoques elevados de imóveis corporativos, maior entrada de fundações no mercado e ampliação do número de investidores via plataformas.

De acordo com a XP, com base em informações da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), 85% das gestoras no Brasil não têm fundos imobiliários. “É um mercado pouco penetrado”, frisou Pires.

Previdência

No caso dos fundos de previdência, a XP observa que 92% do patrimônio está concentrado nos cinco maiores players do mercado. E o diagnóstico em termos de oferta não é animador. Dentre os cinco maiores fundos de previdência (quatro da Brasilprev e um do Bradesco), nenhum tem retorno acima do CDI desde o início.

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“Há hoje R$ 850 bilhões investidos em previdência aberta e 2019 pode ser o primeiro ano da história com captação negativa dos bancos”, afirma Pires. Em 2018, a captação líquida das gestoras independentes em previdência superou a dos bancos, com R$ 19 bilhões contra R$ 15,1 bilhões, segundo informações da Quantum Axis.

A XP enxerga um potencial de R$ 235 bilhões de injeção de recursos em previdência e, a exemplo dos fundos imobiliários, é esperado que mais gestoras entrem no segmento, já que hoje 80% não têm oferta de fundos previdenciários.

Bancos x Independentes

Para o professor William Eid Júnior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas, o surgimento e o crescimento de plataformas de investimentos independentes provocou uma mudança muito grande no mercado em termos de oferta, e a forte alta da Bolsa tem sido especialmente favorável para as gestoras pequenas, que costumam ter fundos de ações, com maior atração da pessoa física. “E há uma busca, ainda que menor, por multimercados, então existem três bons motivos para ter um crescimento das assets independentes”, observa.

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O lado sombrio do mercado, diz o professor, é que muitas dessas gestoras não devem ter vida longa, dados os altos custos do negócio. Segundo Eid Júnior, uma gestora precisa de um patrimônio a partir de R$ 400 milhões para ser sustentável. “Não é fácil manter a estrutura, por isso que vemos tantas assets pequenas com uma mortandade imensa.”

De toda forma, o professor avalia que o movimento é irreversível e, no futuro, espera que grandes bancos fiquem responsáveis apenas pelas “commodities” do mercado financeiro, lançando produtos para a grande massa. Os sofisticados ficarão a cargo quase que exclusivo das gestoras independentes.

Otávio Vieira, sócio da gestora de patrimônio da Taler, pensa parecido. Para ele, a maior parte dos bancos não têm capacidade de fazer uma gestão profissional e captarão, cada vez mais, recursos para fundos de casas independentes. “Os produtos do varejo são muito ruins. Acho que, no futuro, vai faltar produto, porque os fundos dos bons gestores estarão fechados”, avalia.

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Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.