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SÃO PAULO – O mercado brasileiro recebeu na última segunda-feira (3) a notícia da prisão de Marcos Eduardo Elias, que dentre várias participações no mercado financeiro foi responsável pela gestão do já extinto fundo Galleas e um dos fundadores da Empiricus Research. Elias foi capturado na Suíça em junho, acusado de apropriar-se de US$ 750 mil de instituições financeiras de Nova York usando falsificações de documentos de clientes brasileiros, mas a extradição para os EUA – onde ele responde o processo – só aconteceu no dia 28 de agosto a mando do FBI.
A informação demorou para se propagar mesmo entre os conhecidos do mercado financeiro. “Fiquei sabendo um dia antes de sair na mídia. Olhei a última visualização no WhatsApp dele e aparece o dia 6 de junho”, disse ao InfoMoney um ex-sócio.
A opinião de pessoas que conviveram e trabalharam com o gestor é praticamente unânime. Com inteligência e potencial inquestionáveis, ele acabava arrumando problemas em boa parte dos lugares onde trabalhava. “É difícil fazer um perfil dele. É um cara inteligentíssimo, mas com vários parafusos a menos”, afirma o ex-sócio. “Infelizmente uma notícia dessas não chega a ser surpresa”.
Engenheiro mecânico formado pela Escola Politécnica da USP com MBA nos EUA, Elias era considerado um prodígio: aos 30 anos chegou ao cargo de analista-chefe do banco francês BNP no Brasil. Seu primeiro estágio foi no banco de investimento Bozzano Simonsen. “O estágio em engenharia na Poli só podia ser iniciado no quinto ano, mas eu precisava ganhar dinheiro antes. Foi assim que entrei no mercado financeiro”, disse o próprio Elias em 2014 durante entrevista concedida ao InfoMoney.
Com 22 anos ele já havia se tornado analista de ações. Como sempre gostou de correr riscos, usava o bônus que ganhava (comum no mercado financeiro) para fazer operações a termo – que possibilitam alta alavancagem. “Se eu recebesse um bônus de R$ 50 mil, o [mercado a] termo me permitia alavancar 10 vezes este valor”, explicou naquela mesma entrevista.
No mercado acionário, o investidor se orgulhava de ter ganhado bastante dinheiro antes dos 30 anos com três papéis: Cimento Itaú, Brahma e Embraer. A Cimento Itaú ele comprou perto do fechamento do capital e obteve um alto retorno. Com ações da Brahma o rendimento veio devido ao forte crescimento da empresa, reflexo das aquisições bem-feitas que multiplicaram as do grupo. Já na Embraer, enxergou um típico caso de turnaround. Com esta estratégia, ele se vangloriava de ter acumulado seu primeiro milhão ainda na casa dos 20 e poucos anos.
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De analista, Elias passou a gestor de fundos e empreendedor do mercado financeiro. Em 2001 começou a trabalhar na gestora Gas, que anos depois foi comprada pela Vinci Partners – gestora criada por ex-diretores do Pactual e que hoje possui mais de R$ 22 bilhões em ativos sob gestão. Em 2010, foi um dos fundadores da casa de análise independente Empiricus Research, de onde saiu em 2012. Além disso, foi diretor da Guiar Investimentos, da Gradual Investimentos, professor da FGV e sócio da Link Investimentos. Chegou até a apresentar um programa quinzenal na TV InfoMoney em 2009.
Em seu perfil no Linkedin, aparece atualmente como sócio da empresa de análise Modena Capital. Um dos sócios, no entanto, afirmou que a operação da empresa foi encerrada no início de 2018.
Polêmicas: do fundo Galleas ao diretor “enólogo de araque”
A carreira de Elias tem alguns episódios marcantes e polêmicos. Em novembro de 2008, o fundo Galleas, do qual era gestor desde 2006, teve de ser liquidado após desvalorizar cerca de 75,5%. A queda chegou a 38,6% apenas no mês de outubro daquele ano.
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A política do fundo chamava atenção na época pela agressividade. De acordo com entrevistas do próprio gestor, 10% do patrimônio era aplicado em títulos públicos, enquanto 90% eram investidos em ações de pequenas empresas com pouca liquidez. No momento de “lock up” do fundo (quando os cotistas ficam vetados de vender a cota), o patrimônio havia caído para R$ 50 milhões, ante R$ 200 milhões no primeiro semestre de 2008.
Na Empiricus, chegou a ter seu registro de analista suspenso por um ano após pedir, em relatório, a demissão de Ricardo Florence, na época diretor financeiro e de RI do Marfrig (MRFG3), chamando-o de “executivo metido a besta e enólogo de araque”. Ele deixou a Empiricus pouco antes da casa de análise ser comprada pelo grupo norte-americano Agora Inc.
Elias moveu um processo contra a empresa pouco tempo depois, alegando que a compra pela Agora Inc já estava em andamento quando teve sua saída forçada. De acordo com reportagem de 2017 da Revista Exame, Elias pedia uma indenização de R$ 10 milhões aos ex-sócios.
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Com uma carreira promissora, o fato é que o gestor não conseguiu se manter em nenhum projeto de longo prazo e viu muitos de seus ex-sócios ganharem bastante dinheiro depois que ele saiu do negócio. Seu jeito impulsivo e difícil de lidar – apesar da conhecida aptidão no mercado financeiro – o traiu na maioria das vezes. “É um cara brilhante e inteligente, mas que infelizmente fez muita besteira. Ele se descontrola facilmente e apesar de ter ideias fora da caixa não consegue implementá-las. É uma pena tudo o que aconteceu”, finaliza um colega.
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* A reportagem foi atualizada às 19h30 para melhor refletir as acusações do governo americano