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Fundos de ações que investem no exterior rendem 15% e atraem depósitos; quais as apostas após onda tech?

Gestoras diminuem posição em ações ligadas à tecnologia nos EUA e aumentam exposição a papéis de bancos, consumo e maquinário agrícola

Bruna Furlani

(Getty Images)
(Getty Images)

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A alta das bolsas americanas neste ano, aliada à visão de que os juros nos Estados Unidos se aproximam do pico, impulsionaram um fluxo de investimentos para fundos de ações que aplicam no exterior neste mês. Fatores que também se somaram à perspectiva de queda dos juros no Brasil já na reunião do Banco Central deste mês, além da busca por internacionalização.

Neste mês, até segunda-feira (24), os fundos de ações com investimento no exterior lideram a captação dentre as carteiras de renda variável, com depósitos líquidos (quando há mais aportes do que resgates) de quase R$ 1 bilhão. Os fundos de ações, como um todo, têm saques líquidos de R$ 120,1 milhões em julho. Ambos os dados são da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Além das captações, o retorno também chama atenção. Neste ano, os fundos de ações que investem no exterior apresentam alta de 14,91%, na média – segundo ganho mais elevado entre as diversas categorias de renda variável, segundo dados da Anbima.

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Na lista de destaques estão o Geo Empresas Globais em reais FIC FIA, que possui hedge (proteção) cambial e avançou 14,55% no primeiro semestre. Já o fundo Geo Empresas Globais em Dólares FIC FIA IE, sem hedge cambial, acumulou ganhos de 6,21% no período.

Daniel Martins, CEO da GeoCapital, explica que uma parte dos ganhos veio de ações europeias, como uma posição em Louis Vuitton, além de companhias ligadas à cadeia de viagens, como Booking (BKNG34) e Visa (VISA34).

Outra parte do avanço está ligada a empresas de inteligência artificial e tecnologia, com alocações em empresas como Meta (M1TA34), Alphabet (GOGL34) e Microsoft (MSFT34). Ambos os fundos alocam diretamente em ações de outros países, e não via BDRs (recibos de ações de empresas estrangeiras negociadas na B3).

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Mercado antecipou alta da inteligência artificial

Ao olhar para a alta de mais de 133% dos papéis da Meta e de outras empresas de IA, Martins reconhece que o mercado já “antecipou muito dessas histórias” e admite que a relação de risco e retorno ficou “menos benéfica”.

“Não vou contra essas empresas, porque acho arriscado”, avalia. “Isso não quer dizer que não possa ser saudável reduzir um pouco as posições e aproveitar empresas que ainda não tiveram essa alta”. O executivo conta que vem reduzindo posições em Meta e Microsoft, por exemplo. “Já tem muita notícia colocada no preço”.

Balanços de Microsoft, Meta e Alphabet

Nesta semana, as três companhias reportaram balanços. No caso da Microsoft, a empresa registrou lucro líquido de US$ 20,1 bilhões no quarto trimestre fiscal. O resultado representa uma avanço de 20% em relação ao ganho de US$ 16,7 bilhões apurado em igual período de 2022.

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O lucro ajustado por ação chegou a US$ 2,69 – acima da previsão de analistas consultados pela FactSet, que era de US$ 2,55.

Apesar do bom resultado, Martins lembra que as ações caíram na sequência da divulgação. Para ele, a explicação é uma só. “Isso fala menos sobre a qualidade da empresa e mais sobre a grande expectativa que já estava embutida nos preços das ações”.

Já a Meta reportou lucro líquido de US$ 7,78 bilhões no segundo trimestre, uma alta de 16% na base anual. O ganho por ação superou a projeção de US$ 2,91 dos analistas do mercado, ao fechar em US$ 2,98. A receita da companhia, por sua vez, ficou em US$ 32 bilhões no período, um aumento de 11% na base anual.

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Enquanto isso, a Alphabet registrou um lucro líquido de US$ 18,37 bilhões no segundo trimestre, crescimento de 14,80% ante o resultado de US$ 16,002 bilhões de igual período do ano passado.

Já o lucro por ação ajustado ficou em US$ 1,44, de US$ 1,21 anteriormente, também acima da previsão de US$ 1,34 dos analistas ouvidos pela FactSet.

Ao olhar para os balanços das empresas americanas divulgados até agora, o sócio da Portofino Multi Family Office, Adriano Cantreva, avalia que os números estão surpreendendo para cima, mas não porque as receitas aumentaram muito – o que seria melhor.

O executivo observa que o lucro cresceu porque o custo das companhias caiu. “De agora em diante, o foco estará na expectativa de crescimento de receita, com alta de preços ou um eventual aumento de clientes”, defende Cantreva.

Na avaliação do profissional, é preciso acreditar que “tudo dará certo” para que as ações de várias empresas continuem surpreendendo e tenham novas valorizações, caso dos papéis de tecnologia.

Nesse sentido, a casa conta que também optou por fazer alterações no portfólio ligado a big techs. A gestora ainda carrega ainda ações da Alphabet na carteira.

A Portofino possui fundos de ações com investimento no exterior que também garantiram um bom desempenho neste ano, como o Speciale Equity FIA, com ganhos de 11,46% no primeiro semestre, ainda que a alta tenha sido puxada por posições em ações no Brasil.

Apostas para o futuro

Menos otimista com ações de big techs, o executivo conta que tem analisado oportunidades em setores que ficaram para trás, como ações de bancos – papéis que foram duramente afetados pelo estresse bancário vivido nos Estados Unidos em março deste ano.

Após a divulgação de vários balanços, à primeira vista, os resultados que mais agradaram foram os do Morgan Stanley e do Bank of America (BofA), na opinião da equipe de análise da XP.

Em relatório divulgado nesta semana, os especialistas da casa destacaram que o BofA reportou resultados acima do esperado, após um desempenho positivo no segmento de trading (negociação).

Já o Morgan Stanley teve destaque no segmento de gestão de patrimônio, que avançou 16% na comparação anual e compensou outras linhas de negócio que contraíram no período, segundo a XP.

A surpresa com o Morgan Stanley não é à toa e veio após um ciclo de demissões e corte de custos, diante de um cenário macroeconômico mais desafiador, com a elevação de juros e a restrição de crédito.

Outro setor que também está no radar é o de consumo, com destaque para companhias como a Estée Lauder, de cosméticos.

Martins, da GeoCapital, defende que as ações foram afetadas após problemas em um free shop específico da China, mas pondera que a questão seria “passageira” – com a retomada da economia do país e das viagens após o período mais duro da Covid-19.

Já entre as posições que cresceram no fundo da GeoCapital está o da John Deere (DEEC34). Para o gestor, o valor mais elevado das commodities agrícolas levou os fazendeiros a investir em troca de maquinário e se animar com a chance de ganhos de produtividade, o que tenderia a beneficiar a companhia, já que ela é fabricante de máquinas agrícolas.

Martins também chama atenção para o fato de que a empresa tem reportado números melhores do que o guidance apresentado pela empresa. “Ela está num momento de relação risco e retorno mais benéfico”, resume o executivo.

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