Fundos amargam semestre com pior captação da série histórica; ETFs de renda fixa driblam maré negativa

Segundo Pedro Rudge, da Anbima, resgates representam uma forma de diversificação dos portfólios e ida para investimentos de renda fixa

Bruna Furlani

(Getty Images)
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O forte movimento de resgate visto na indústria de fundos de investimento fez com que o primeiro semestre deste ano amargasse o pior resultado em termos de captação da série histórica, que começou em 2002. Ao todo, as saídas líquidas chegaram a R$ 205,0 bilhões nos primeiros seis meses deste ano.

Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (6) pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Apesar da piora nos números, a associação destaca que é preciso levar em conta que o patrimônio líquido da indústria era bem menor, de R$ 1,5 trilhões no fim de 2002.

Levando em conta uma base de comparação melhor em termos de patrimônio líquido com dados dos últimos cinco anos, o quadro não muda muito. O movimento também reflete a sangria de resgates.

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Nesse caso, o primeiro semestre de 2021 teria sido o melhor, com os depósitos líquidos chegando a R$ 274,0 bilhões. Já em 2019, 2020 e 2022, as captações também ficaram no campo positivo e somaram R$ 167,5 bilhões, R$ 17,0 bilhões e R$ 79,1 bilhões, respectivamente.

Na visão de Pedro Rudge, vice-presidente da Anbima, a justificativa para os resgates é que boa parte do dinheiro está indo para outras alternativas de renda fixa, com destaque para as opções com isenção de Imposto de Renda, como Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs).

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“Esses dados mostram que o investidor está mais diversificando do que saindo dos fundos”, diz. “As plataformas de investimentos e os influenciadores financeiros têm ajudado nesse movimento de diversificação e de educação financeira”, acrescenta.

Apesar de estar vendo uma saída de dinheiro dos fundos de investimento, a indústria apresentou crescimento em termos de patrimônio líquido, que passou de R$ 7,2 trilhões, em junho do ano passado, para R$ 7,7 trilhões em junho deste ano, o que representa uma alta de 7,8%.

Também houve um aumento no número de contas, que passaram de 31,6 milhões, em junho do ano passado, para 35,5 milhões no mês passado. “O que tem acontecido é mais um rebalanceamento de ativos do que uma decisão de saída completa, senão teríamos uma queda no número de contas”, pondera Rudge.

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Renda fixa: movimento misto

Na contramão do forte movimento de resgate registrado na indústria de fundos de investimentos, os ETFs (fundos de índice) terminaram o mesmo período com mais captações do que saídas, no valor de R$ 370,1 milhões.

O produto que mais ajudou foram os ETFs de renda fixa, que registraram depósitos líquidos de R$ 1,1 bilhão, enquanto ETFs de renda variável tiveram resgates líquidos de R$ 747,1 milhões.

Para Rudge, o resultado tem a ver com o número de lançamentos de produtos de players internacionais, bancos e de gestoras que fizeram uma campanha mais forte junto a sua base de clientes. O executivo também cita a facilidade de investimentos devido ao fato de o produto ser negociado em Bolsa.

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Por outro lado, os primeiros seis meses foram difíceis até mesmo para fundos de renda fixa, que registraram saídas líquidas de R$ 109,9 bilhões. A justificativa está em um movimento concentrado de resgate em dois fundos de renda fixa duração baixa.

Não à toa, os resgates líquidos vistos em fundos de renda fixa duração baixa grau de investimento chegaram a R$ 53,1 bilhões durante o período.

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Resgates em fundos de ações e multimercados continua

Fundos de ações e multimercados também não conseguiram escapar da sangria. Ambos viram saídas líquidas de R$ 38,5 bilhões e de R$ 53,7 bilhões, respectivamente.

Os primeiros seis meses do ano também foram de mais saques do entradas em fundos cambiais, de previdência e em fundos de direitos creditórios (FIDCs), que acumularam resgates líquidos de R$ 920,5 milhões, R$ 3,0 bilhões e R$ 7,6 bilhões, respectivamente.

Na avaliação de Rudge, o apetite do investidor para voltar a aplicar em fundos vai depender bastante da expectativa de queda de juros, o que deve ocorrer em breve.

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O executivo observa que houve avanço com a votação do arcabouço fiscal e com a tramitação da reforma tributária, além da melhora dos dados de inflação. “Isso cada vez mais solidifica a visão de que o BC vai ter oportunidade de reduzir a taxa de juros”, disse.

Apesar de acreditar que chegará o momento de retorno dos investidores para os fundos de investimentos, Rudge aponta que é difícil precisar quão rápido isso deve acontecer, porque há uma incerteza sobre a velocidade da queda da Selic.

“Assumindo que a tendência é de uma queda de juros, quão mais rápido e de uma magnitude maior for o corte, mais beneficiada será a indústria de fundos”, finalizou.