SÃO PAULO – Toda vez que a gestora publica uma carta, investidores prestam atenção. A qualquer declaração pública feita, o mercado analisa se o tom está mais otimista ou pessimista com relação ao Brasil e ao mundo. Se há uma chance de reabertura do fundo, investidores se alvoroçam.
A gestora em questão é a Verde Asset, do lendário fundo de mesmo nome, com um histórico para lá de invejável na indústria brasileira. Não à toa, o fundo CSHG Verde FIC Multimercado lidera o ranking InfoMoney-Ibmec 2020 na década e a gestora também marca presença na premiação de multimercado referente aos três últimos anos.
Sob a gestão do renomado Luis Stuhlberger, o CSHG Verde, que investe 100% dos recursos no fundo master, acumula ganhos de 274% em dez anos, ante um CDI de 154% no período e uma valorização da ordem de 68% do Ibovespa.
O Verde foi criado em 1997. Em 23 anos, só perdeu para seu referencial em três deles. Com isso, acumulava, até o fim de 2019, um retorno de nada menos que 17.893%, contra um CDI de 2.161,12%.
Fechado para novas captações, há quem pense que o Verde sempre foi um produto dirigido apenas aos investidores mais afortunados, mas o início foi justamente o oposto. “O Verde começou com R$ 5 mil [de aporte mínimo]. Não nascemos no mundo dos clientes de alto patrimônio”, conta Luiz Parreiras, sócio da Verde e braço direito de Stuhlberger.
Ainda que a origem possa ter sido mais humilde que o imaginado, é fato que a Verde, assim como grande parte das gestoras brasileiras, tem notado um crescimento da base de cotistas pessoas físicas apenas no cenário mais recente, a partir do ingresso em plataformas.
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Diante da consistência de resultados, a demanda sempre supera a oferta no caso de possibilidade de ingresso no fundo lendário. Não à toa, em 2014, o Verde foi obrigado a fazer um movimento inverso ao desejado e devolveu R$ 7 bilhões aos cotistas. O tamanho ainda pouco expressivo do mercado brasileiro à época e a dificuldade em manobrar o patrimônio pesaram sobre aquela decisão, a primeira do tipo no Brasil.
Os anos passaram e a gestora chegou a reabrir o fundo para captações em 2018 e, desde então, se mostra confortável com o tamanho administrado. Hoje, a Verde está entre as 20 maiores gestoras do Brasil, com um patrimônio de R$ 45,6 bilhões no fim de 2019.
Fama de pessimistas
Outra lenda formada em torno do Verde e contestada por Parreiras diz respeito à fama de pessimista com relação à Bolsa. O fundo tinha uma alocação média de 30% em ações de 2003 a 2011. “A percepção de que éramos mais pessimistas começou em 2012 e durou até 2017”, diz o gestor.
Naquele período, a exposição caiu para a média de 5% e, de 2014 a 2016, a Verde ficou quase zerada em ações e teve seu grande teste, apostando numa inversão negativa de rumo da economia brasileira. “Enfrentamos o desafio de estarmos certos, mas talvez um pouco cedo”, lembra Parreiras. “2014 foi um ano muito doloroso, tínhamos uma aposta de que o mercado bateria no muro.”
Naquele ano, o fundo Verde rendeu 8,80%, portanto abaixo do CDI (10,81%), mas, em 2015, ganhou mais de 28%, ante a variação do benchmark da ordem de 13%.
A montagem de posições na Bolsa brasileira só foi retomada em 2017, com a maior dificuldade em capturar ganhos no exterior. Hoje, o Verde destina cerca de 20% para Bolsa no Brasil e apenas 2%, ao exterior.
Mesmo com a pequena exposição em ações no mercado externo, foi justamente a alocação no exterior a responsável pelos maiores ganhos do Verde na última década. Desde a saída de Artur Wichmann da gestão de ações globais da Verde, no ano passado, a estratégia está sendo comandada pelos analistas formados em sua equipe.
Embora a história da Verde Asset tenha começado em 2015, Stuhlberger e Parreiras trabalham juntos há quase 20 anos. Parreiras iniciou sua carreira em 2002 na Hedging-Griffo, cujo controle foi comprado pelo Credit Suisse em 2007, e desenvolveu sua experiência dentro da gestão do fundo Verde.
Com mais experiência de casa, Stuhlberger começou a carreira na Hedging-Griffo em 1981. Passados 11 anos, estruturou e implementou a área de gestão de fundos e, em 1997, lançou o Verde. “Trabalhamos juntos e temos nuances de diferenças. A alocação das classes de ativos e o jeito que vemos o Brasil é o mesmo”, diz Parreiras.
Hoje a Verde conta com 65 pessoas na equipe, das quais 40 na gestão.
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