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Diante das incertezas em torno das economias global e doméstica, o próximo ano promete ser desafiador para o investidor, mas também de oportunidades, aponta relatório Onde Investir 2023 da XP, que vê a renda fixa como protagonista no novo ano e sugere seletividade na Bolsa. Bancos, shoppings e empresas do setor elétrico são as apostas da instituição financeira.
No documento, os analistas da corretora confirmam a redução na projeção do preço justo do Ibovespa – principal índice da B3 – no ano que vem, de 135 mil para 125 mil pontos, sinalizando maior cautela com a renda variável – que seria afetada pelo cenário de maior volatilidade previsto para 2023.
“Lá fora, os riscos de recessão ainda permanecem altos em meio a juros das principais economias em território contracionista [que busca conter a inflação], o que pode levar a novas revisões de lucros das empresas para baixo”, afirma Fernando Ferreira, estrategista-chefe e head do research da XP. “Na economia doméstica, a trajetória de política fiscal ainda é bastante incerta, o que deve manter a volatilidade no mercado em alta”.
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Nesta quarta-feira (7), o Senado Federal aprovou o texto-base da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição em dois turnos. O texto é considerado fundamental pela equipe de Lula para viabilizar o pagamento do Bolsa Família (programa que será retomado no lugar do Auxílio Brasil) em parcelas de R$ 600 mensais e um adicional de R$ 150 a famílias com crianças de até seis anos, além de outras promessas feitas durante a campanha eleitoral.
Ferreira explica que a preocupação com as consequências fiscais da PEC – que amplia o teto de gastos em R$ 145 bilhões em 2023 e 2024 – tem elevado os juros futuros do País, aumentando a rentabilidade da renda fixa e reduzindo a atratividade da renda variável. O movimento explica o ajuste na projeção do preço justo do Ibovespa.
Diante da aparente política fiscal mais expansionista (aumento de gastos) do novo governo, a XP postergou a expectativa para o início da queda da taxa básica de juros da economia nacional, a Selic, atualmente em 13,75% ao ano.
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“Acreditamos agora que o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) manterá a taxa Selic em 13,75% até o final de 2023”, prevê o documento. “Com maior previsibilidade na dinâmica da dívida, a taxa Selic poderá voltar gradativamente a um patamar mais neutro – em torno de 5% em termos reais – a partir de 2024”, completa o texto.
Apesar do movimento, Ferreira lembra que a Bolsa brasileira está barata e alguns segmentos oferecem boas oportunidades para o investidor.
Onde investir em 2023?
Em meio ao cenário de incertezas domésticas e globais, as apostas da XP dentro da Bolsa brasileira estão focadas principalmente no setor de commodities – especialmente no segmento de óleo e gás, que deve se beneficiar da dinâmica de oferta e demanda ainda favorável para os preços de energia no médio prazo.
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Ferreira diz que ainda estão no radar para 2023 empresas com teses pouco relacionadas com o crescimento econômico e companhias de qualidade negociadas a preços razoáveis e com perfil mais resilientes a uma perspectiva macro desafiadora.
Neste sentido, Ferreira diz observar com atenção o setor elétrico – defensivo e que gera muito caixa. No setor, a preferência da XP vai para a Eletrobras (ELET6).
O segmento de shopping também está no radar da instituição financeira, que pode se beneficiar com uma recuperação econômica e estabilização da inflação. Iguatemi (IGTI3) e Multiplan (MULT3) estão no radar, sinaliza o estrategista.
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Há uma visão positiva também para o segmento de bancos e serviços financeiros, que deve ter um ano de estabilização na inadimplência e leve expansão na margem financeira – atribuída principalmente ao forte crescimento do crédito e potencial recuo dos juros no segundo semestre de 2023.
“Também vemos um ano de recuperação nas atividades do mercado de capitais, com retomada de novas emissões e maior volume de negociações das ações na bolsa”, reforça Renan Manda, head de serviços financeiros da XP. Neste segmento, o Itaú (ITUB4) tem a preferência da corretora.
Luz amarela para as estatais
Ferreira afirma que estatais como Banco do Brasil (BBAS3) e Petrobras (PETR4,PETR3) também se enquadrariam no perfil de empresas de qualidade negociadas a preços razoáveis. No entanto, ele afirma que, por enquanto, prefere ficar de fora das companhias.
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“Ainda há muita incerteza em relação às estatais e projetamos muita volatilidade pela frente”, explica. “Não sabemos ainda detalhes sobre novos gestores e políticas e, por isso, preferimos esperar [um cenário mais consolidado]”, completa.
A XP sugere também evitar empresas com valuations (preços) muito esticados, perfil que inclui companhias de crescimento em setores como o e-commerce, por exemplo. A luz amarela também atinge as ações de segmentos voltados para o consumo.
Papéis negativamente correlacionados com taxas de juros em alta também estão fora do radar da corretora. Neste grupo, estão inseridas as construtoras, que são afetadas por incertezas fiscais.
Para a XP, as smalls caps também podem enfrentar um ambiente mais difícil em 2023 por conta da maior exposição ao crescimento doméstico em comparação com as large caps. Além disso, expectativas crescentes de altas de juros no ano que vem devem continuar a pressionar essas empresas de menor valor de mercado.
Renda fixa em alta
Diante da taxa básica de juros nos atuais 13,75% ao ano – quatro pontos percentuais acima do patamar verificado no início de 2022 – a renda fixa deve ter novamente papel de protagonismo nos investimentos em 2023.
Além disso, prevê Camila Dolle, head do research de renda fixa da XP, o mercado financeiro aponta expectativas de que os juros permaneçam acima de 13% ao longo de 2023 e nos anos seguintes – devido aos desafios fiscais.
Neste cenário, a analista enxerga os ativos pós-fixados – que acompanham a taxa Selic – como boas opções de investimento conservador, se beneficiando de patamares elevados de juros na conjuntura atual.
Segundo ela, os títulos atrelados ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) são boas alternativas de proteção contra a inflação nos próximos anos, que deve continuar alta e acima da meta do Banco Central.
Mais voláteis, os títulos prefixados devem continuar a apresentar taxas elevadas, acima do que foi visto em 2022, sugere a Dolle.
“O cenário pode ser visto como uma boa oportunidade, porém, indicamos cautela em relação ao tamanho da alocação”, aponta a especialista em renda fixa. “Afinal, os títulos prefixados são os ativos mais sensíveis às oscilações de cenário macroeconômico antes do vencimento do ativo”, orienta.
Ela lembra que tanto para ativos prefixados quanto para IPCA+, o prazo deve ser levado em consideração. “O ideal é escolher prefixados entre dois a três anos de vencimento e títulos de inflação com prazo médio (duration) de até cinco anos”, recomenda.
Outro ponto que deve ser observado, de acordo com Dolle, é a diversificação – que pode levar em conta tanto indexadores, prazos, emissores, como aspectos geográficos e moedas.
Neste sentido, os bonds – títulos corporativos de renda fixa atrelados ao dólar – também aparecem como uma boa opção para composição de carteira, sugere.
“Para o próximo ano, além de expectativas de elevações de juros pelo Federal Reserve, banco central norte-americano, espera-se desvalorização do real em relação ao dólar”, finaliza.
Estabilidade fiscal: maior desafio do País
Segundo o relatório da XP, divulgado nesta quinta-feira (8), a economia brasileira encerrará 2022 com uma tendência relativamente positiva, com o PIB (Produto Interno Bruto) crescendo acima do esperado, pressões inflacionárias diminuindo e o real sendo uma das moedas que se valorizou frente ao dólar.
A manutenção deste cenário nos próximos anos, porém, depende fundamentalmente da estabilidade fiscal, classificada pela XP como o maior desafio do País atualmente.
“Os membros do novo governo têm dito repetidamente que o teto constitucional de gastos não é mais desejável e não apresentam uma alternativa”, afirma Caio Megale, economista-chefe da XP. “A nosso ver, sem uma regra clara e crível para os gastos, a dívida pública não se estabilizará no futuro previsível, pressionando a confiança dos empresários e as expectativas de inflação”.
Além do fiscal, Megale afirma que temas como a reforma tributária, o modelo das parceria público-privada, o papel do BNDES e da Petrobras também serão fundamentais para o desempenho econômico brasileiro em 2023 e nos anos seguintes.
No cenário internacional, os analistas da XP destacam que os riscos globais – recessão e juros elevados – embutem uma volatilidade ainda maior no mercado financeiro em 2023.
Alberto Bernal, estrategista-chefe global da corretora, fala em leve recessão dos Estados Unidos em 2023 e lembra da estratégia do Federal Reserve (banco central norte-americano) de aumentar as taxas de juros de forma agressiva.
Ele também projeta a necessidade de um aperto monetário ainda maior nas economias europeias diante da manutenção da tendência de alta da inflação na região.
“Uma vez que provavelmente haverá repasses adicionais da alta dos preços de energia para os preços ao consumidor”, explica. Neste cenário, prevemos uma recessão mais profunda na Europa no ano que vem”, projeta Bernal, que ainda lembra das tensões geopolíticas persistentes na Ucrânia.
Na China, afirma o analista, a atenção está voltada para as políticas de Covid zero. A persistência de medidas rígidas de lockdown ao longo do ano e os problemas no mercado imobiliário prejudicaram consideravelmente o crescimento econômico do País asiático este ano.
“Acreditamos que o PIB local crescerá em torno de 3,3% em 2022, bem abaixo da meta de 5,5% estabelecida pelo governo no início do ano”, avalia Bernal. “O aumento das tensões sociais e o avanço da vacinação de idosos devem forçar a reabertura da economia, embora o recente aumento de novos casos de Covid possa atrasar essa decisão”, pontua.