Dez FIIs de “papel” baratos que pagam dividendos acima da Selic de 13,75% ao ano

Destaque da lista, o fundo imobiliário HCTR11 é negociado por 85% do valor patrimonial e ostenta um dividend yield acima de 14% em 12 meses

Wellington Carvalho

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De queridinhos do mercado, os fundos imobiliários de recebíveis passaram a ser observados com certa desconfiança nos últimos meses por causa da deflação e viram suas cotas perderem valor na Bolsa. No entanto, analistas apontam que a desvalorização nas cotações abriu oportunidades entre as carteiras, que passaram a ser negociadas abaixo do valor patrimonial.

Focados no investimento em títulos de renda fixa atrelados a índices de inflação ou à taxa do CDI (certificado de depósito interbancário), os FIIs de recebíveis – ou de “papel”, como também são conhecidos – turbinaram os dividendos diante da elevação dos juros e dos preços até meados de 2022.

Quando o indexador do título sobe, a receita do fundo cresce e o dividendo distribuído aos cotistas pode ser elevado também. A dinâmica explica os rendimentos altos dessa classe de fundo até então. Quando o indexador cai – como ocorreu no último trimestre – a receita do fundo encolhe e acaba refletindo nos dividendos pagos aos investidores.

A possibilidade de redução nos rendimentos distribuídos pelos FIIs de “papel” estimulou a venda dos fundos e, consequentemente, houve queda no valor das cotas na Bolsa. Em alguns casos, os fundos passaram a ser negociados com desconto na B3.

Com dados da Economatica, plataforma de informações financeiras, o InfoMoney compilou os dez FIIs de “papel” com maiores descontos atualmente e que pagam – mesmo com a redução nos últimos meses – dividendos acima da taxa básica de juros da economia, a Selic, atualmente em 13,75%.

Para o levantamento, foi considerado o P/VPA (preço sobre valor patrimonial) dos FIIs. Quanto mais próximo de 1 o indicador, mais perto o fundo está do valor justo. Acima deste patamar, a carteira está negociando com ágio e, abaixo deste nível, com desconto.

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Considerando só os fundos que compõem o Ifix – índice dos FIIs mais negociados na B3 – O Hectare (HCTR11) encabeça a lista. O fundo é negociado por 85% do valor patrimonial – o que significaria um desconto de 15%. Nos últimos 12 meses, a carteira ostenta um dividend yield (taxa de retorno com dividendos) acima dos 14%. Confira a lista completa:

Ticker Fundo P/VPA Dividend Yield – 12 meses (%)
HCTR11 Hectare 0,85 14,27
DEVA11 Devant 0,91 14,85
HSAF11  HSI Ativos Financeiros 0,91 14,49
RECR11 REC Recebíveis 0,94 14,18
PLCR11 Plural Recebíveis Imobiliários 0,94 14,46
BARI11 Barigui 0,95 14,22
FEXC11 BTG Pactual Fundo de CRI 0,95 14,25
OUJP11 Ourinvest JPP 0,96 16,10
VCJR11 Vectis Juros Real 0,96 14,64
BTCR11 BTG Pactual Crédito Imobiliário 0,96 13,84

Fonte: Economatica – 23/10/2022

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Valor da cota do FII de “papel” importa, e muito

Considerar a relação preço sobre o valor patrimonial é essencial para a análise de um fundo de “papel”, afirma Felipe Ribeiro, diretor de investimentos alternativos do Clube FII.

O especialista em fundos de recebíveis foi o convidado da edição desta terça-feira (25) do Liga de FIIs, programa produzido pelo InfoMoney que tem apresentação de Maria Fernanda Violatti, analista da XP, Thiago Otuki, economista do Clube FII, e Wellington Carvalho, repórter do InfoMoney.

“De fato, você consegue encontrar oportunidades entre os FIIs de ‘papel’ quando o P/VPA estiver abaixo ou bem próximo de 1”, reforça Ribeiro. “Se o preço sobre o valor patrimonial do fundo está muito próximo de 1,10 ou 1,15, não é uma oportunidade”, alerta.

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Ribeiro lembra que, em 2021, o HCTR11 chegou a ser negociado com até 30% de ágio e hoje apresenta desconto relevante. A tendência, explica, é sempre a cota voltar para o valor justo.

Após a análise do P/VPA, o especialista sugere atenção a pontos como diversificação do portfólio do fundo, dividend yield e o endividamento da carteira. As informações estão disponíveis nos relatórios gerenciais – documento divulgado pelos gestores mensalmente.

Embora acredite que o pior para os FIIs de “papel” já passou e que já observa oportunidades no mercado, Ribeiro não descarta novas quedas nas cotações em função da dinâmica desta classe de ativo.

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Como funcionam os FIIs de “papel”

Entre os títulos de renda fixa que podem compor o portfólio de um fundo de recebíveis está o CRI (certificado de recebíveis imobiliários), instrumento usado por empresas do setor para captar recursos no mercado.

Na prática, as companhias “empacotam” receitas futuras que têm para receber (como aluguéis ou parcelas pela venda de apartamentos, por exemplo) em um título (o CRI) que é vendido aos investidores – entre eles, os fundos imobiliários. Em geral, o CRI oferece um rendimento prefixado mais a correção monetária, seguindo algum indicador, que normalmente é a taxa do CDI ou o IPCA.

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Em setembro, o IPCA fechou com uma taxa negativa de 0,29%, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi o terceiro mês consecutivo de deflação. Em agosto, o indicador ficou em -0,36% e, em julho, -0,68%. Durante o período, os FIIs de “papel” reduziram a distribuição de dividendos em até 88%.

Em outubro, porém, a prévia do IPCA subiu 0,16%, sinalizando a volta da inflação – que elevaria novamente os dividendos dos fundos de recebíveis. Mas o movimento não é imediato, lembra Ribeiro.

Segundo ele, os fundos levam até dois meses para incluir a correção da inflação no dividendo distribuído ao cotista. Ou seja, a deflação de setembro ainda deve pesar nos rendimentos de novembro e o possível resultado positivo do IPCA de outubro só chegará ao investidor no final do ano, pondera.

O cenário de dividendos ainda em queda – por conta da defasagem no repasse da inflação – explica a cautela de Ribeiro, sobre a recuperação das cotações dos FIIs de “papel”. O dividendo ainda tem muita influência na tomada de decisão do investidor, aponta.

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Confira mais dicas e análise de Felipe Ribeiro na edição desta terça-feira (25) do Liga de FIIs. Produzido pelo InfoMoney, o programa vai ao ar todas as terças-feiras, às 19h, no canal do InfoMoney no Youtube. Você também pode rever todas as edições passadas.

Wellington Carvalho

Repórter de fundos imobiliários do InfoMoney. Acompanha as principais informações que influenciam no desempenho dos FIIs e do índice Ifix.