Executivo de hedge fund famoso diz que seria “totalmente justificado” corte de 1 ponto da Selic em agosto

Em carta obtida pela Bloomberg, profissional disse que economia subjacente do país, além de melhora da inflação exigem um corte maior do que 0,25 ponto

Bruna Furlani

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A menos de um mês do próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, analistas de mercado buscam sinalizações sobre o início do ciclo de cortes que será adotado pela autoridade monetária.

Em trecho enviado a clientes e obtido pela Bloomberg, o executivo Greg Coffey, responsável pelo hedge fund macro da Kirkoswald Asset Management, afirmou que seria “totalmente justificado” se o Banco Central cortasse a Selic em um ponto percentual em seu próximo encontro. A autoridade monetária se reúne entre 1º e 2 de agosto.

Em sua justificativa, o profissional defendeu que a “economia subjacente do país, a melhora fiscal estrutural e, mais importante, a dinâmica da inflação, exigiriam muito mais do que” uma redução de pouco mais de 0,25 ponto percentual precificada pelo mercado.

Economistas consultados pelo Banco Central no Relatório Focus têm revisado para baixo as projeções para a inflação neste ano e nos próximos três anos (2024, 2025 e 2026).

Segundo as estimativas divulgadas nesta segunda-feira (17), agora o mercado espera que o IPCA encerre 2023 em 4,95%, abaixo dos 5,12% vistos quatro semanas antes.

Já para 2024, 2025 e 2026, as projeções estão em 3,92%, 3,55% e 3,50%, respectivamente, contra 4,00%, 3,80% e 3,80% um mês antes.

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Também houve uma melhora nas projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2023, por exemplo, a expectativa do mercado é que o indicador encerre o ano em 2,24%, acima dos 2,14% registrados quatro semanas antes.

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No mercado de opções digitais da B3 na última sexta-feira (17), a probabilidade implícita de um corte de 0,25 ponto da Selic colocada por agentes financeiros estava em 64%, enquanto as apostas em uma queda de 0,50 ponto estavam em 28%.

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Na ata do Copom divulgada no fim de junho, o relatório mostrou divergência sobre o ajuste a ser adotado no encontro de agosto entre os membros do Comitê. No documento, a maior parte do colegiado avaliou que a continuação do processo desinflacionário em curso poderia trazer a “confiança necessária” para iniciar um “processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião”.

Já outra parcela dos dirigentes defendeu que era preciso cautela – ao reforçar que a dinâmica desinflacionária ainda refletia o recuo de componentes mais voláteis e que a incerteza sobre o hiato do produto gerava dúvida sobre o impacto do aperto monetário feito até aqui.

“Roberto [Campos Neto] liderou o ciclo de alta quando o Fed gritou [que a inflação] era transitória e, sem dúvida, será o ‘portador da tocha’ para os banqueiros centrais em todo o mundo se tornarem agressivos no ciclo de cortes em agosto”, defendeu o profissional, ao se referir ao presidente do BC.

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Coffey ganhou destaque e é conhecido no mercado americano como o “Mágico de Oz”, por causa dos retornos elevados que seus produtos oferecem.

Mercado se divide sobre corte mais agressivo ou não

No Brasil, algumas gestoras também têm precificado a possibilidade de que a autoridade monetária realize um corte mais agressivo da Selic. Em carta divulgada neste mês, a Legacy Capital se mostrou mais otimista com a melhora da inflação corrente e das estimativas.

Superada a discussão sobre eventuais mudanças na meta, a expectativa da casa é que a mediana das projeções de inflação continue a reduzir para este ano e para os anos subsequentes. “A convergência da inflação à meta sugere haver espaço para um ajuste de juros superior a 400 pontos, o que permitiria ao BC iniciar o ciclo a um ritmo mais significativo”, disse a casa.

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Em carta divulgada a clientes, a Persevera Asset Management também destacou que a importância da definição de uma meta de inflação de 3% e que passará a ser contínua pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) no mês passado.

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Segundo a gestora, eventuais rumores sobre mudanças estavam “inflando” as projeções de longo prazo de inflação. “Acreditamos que essas projeções deverão cair ainda mais, convergindo para próximo da meta de 3%”, disse. “As estimativas em queda retroalimentam os modelos de projeção do Banco Central, de forma que deveremos ver, nas próximas reuniões do Copom, quedas relevantes das projeções de inflação da autoridade monetária, acrescentou.

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Nesse sentido, a casa defendeu que o BC deve iniciar o ciclo de cortes em agosto – possivelmente, com uma redução de 0,50 ponto. Para as próximas reuniões, a gestora avalia que a combinação de uma inflação corrente e de projeções do IPCA em queda levarão a autoridade monetária a acelerar futuramente os cortes, para 0,75 ponto percentual ou mais.

“Não descartamos reduções de 1 ponto percentual ao longo deste ciclo. Mesmo com toda a queda já observada na taxa de juros projetada para um ano, os juros reais vistos hoje ainda estão próximos das máximas dos últimos 10 anos”, ressaltou a gestora.

Por outro lado, há outras que preferem adotar uma postura um pouco mais cautelosa, caso da AZ Quest, que acredita que o BC deve iniciar o ciclo de cortes em agosto com um corte de 0,25 ponto.