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Uma modalidade de investimentos há muito tempo aguardada pelos investidores brasileiros finalmente está prestes a ficar disponível na B3. Nesta semana, a Bolsa brasileira indicou que a listagem de ETFs (fundos de índice) que pagam dividendos estará disponível no primeiro trimestre de 2023. Com isso, gestores já organizam os preparativos para lançar novos produtos e garantir o seu espaço entre os investidores.
Uma das gestoras que já tem um ETF pronto para sair do papel é a Wise Capital – que tem expertise no mercado imobiliário americano com investimentos em REITs (Real Estate Investment Trust, equivalente a fundos imobiliários americanos). No Brasil, desde 2008, a Wise Capital tem montado joint-ventures com a Aberdeen Standard Investments – uma das maiores casas de investimentos do mundo com cerca de US$ 600 bilhões sob gestão – para seus investimentos de adição de valor durante os ciclos imobiliários do país.
Flávio Mantesso, sócio-fundador da Wise Capital, antecipou ao InfoMoney que a gestora trabalha no lançamento de um ETF que vai replicar o índice S&P Global REIT e pagará dividendos. O fundo vai investir em cerca de 500 REITs para reproduzir a performance do índice.
“É um diferencial, porque muitos ETFs internacionais hoje investem em outros ETFs estrangeiros para conseguir replicar um índice lá fora. O nosso vai investir em todos os REITs para trazer essa exposição ao investidor ”, explica Mantesso, reforçando que a tecnologia do ETF será da própria Wise Capital, permitindo ao investidor ter as cotas dos REITs sem intermediários.
Segundo o gestor, o ETF de REITs deve pagar dividendos trimestralmente e em reais para os investidores pessoas físicas que aplicarem nele pela B3.
O ETF da Wise está previsto para chegar ao mercado no primeiro trimestre de 2023, assim que for liberada a listagem pela B3. Mas ideia de construir um ETF que paga dividendos, segundo Mantesso, surgiu há dois anos, quando o gestor, acompanhando o interesse dos investidores pelos ETFs, solicitou à Bolsa a listagem desse novo tipo de produto.
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A gestora negocia atualmente a distribuição do ETF com grandes bancos para o investidor ter acesso nas prateleiras das instituições. Um ETF que paga dividendos replicando o índice S&P Global REIT já existe na Austrália e, segundo o gestor, o brasileiro será o segundo do tipo no mundo.
De acordo com Mantesso, a Wise Capital já monitorava o mercado de REITs desde 2014, acompanhando mais de 2.500 deles no mundo todo. “Vejo uma demanda de investimento imobiliário lá fora, com alocação global, mas sem distribuir dividendos o investidor não se animava muito. Acho que o pagamento de dividendos vai impulsionar o segmento de ETFs de REITs”, afirmou.
Além da Wise Capital, outras gestoras também estão se preparando na corrida por ter ETFs que pagam dividendos. Um exemplo disso é a Investo, que já manifestou publicamente o seu interesse em ser pioneira na categoria.
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Cauê Mançanares, CEO da Investo, afirmou ao InfoMoney que desde o primeiro ETF lançado pela gestora, em julho de 2021, a possibilidade é solicitada pelos clientes. Para Mançanares, receber proventos faz parte da cultura do investidor brasileiro.
Para ele, o produto deve atender um novo perfil de investidor, que ainda não comprava ETFs porque não havia opções que pagavam dividendos. Além disso, será uma alternativa adicional de diversificação de portfólio com estratégias que geram renda.
Mançanares afirmou que a gestora já tem alguns produtos como fortes candidatos para esta categoria, mas não pretende desenvolver nenhum lançamento até a B3 finalizar a fase de testes, garantindo segurança operacional desse novo tipo de fundo de índice. Ele não descarta focar em ETFs de ações internacionais ou mesmo de REITs, criando novos produtos customizados para esta estratégia – replicando índices já existentes ou desenvolvidos em parceria com um provedor.
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“O investidor brasileiro está voltando a olhar o mercado internacional, algo que não ocorreu nos últimos 11 meses”, completou.
Focada em teses internacionais, a Investo era conhecida por criar ETFs que investem em cotas de outros ETFs estrangeiros para replicar índices internacionais. Contudo, para os ETFs que pagam dividendos, a gestora pretende seguir uma estratégia semelhante à da Wise Capital – comprando os ativos incluídos nos índices. “Hoje estamos pensando em comprar os ativos diretamente, acho que um produto com essa característica requer a montagem de uma cesta customizada”, apontou.
Provedores de índices estão prontos
Atualmente, os índices presentes no mercado brasileiro e replicados por ETFs são do tipo total return – também conhecidos como índices de acumulação. O cálculo do seu desempenho compreende tanto a valorização (ou desvalorização) dos ativos que os compõem quanto a distribuição de dividendos.
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Os ETFs que replicam índices total return não distribuem aos cotistas os dividendos que recebem das empresas em que investem. Os proventos são reinvestidos no próprio fundo, seguindo a mesma lógica do índice.
Já os índices do tipo price return, por sua vez, são também conhecidos como índices de distribuição. A contabilização do seu desempenho não inclui eventuais pagamentos de dividendos – e, no caso de um ETF que replique um índice de price return, os proventos recebidos são distribuídos aos cotistas.
É exatamente o que a B3 pretende viabilizar, permitindo que os ETFs possam distribuir dividendos e facilitando a adequação do mercado a este tipo de índice.
Com a abertura para os ETFs pagarem dividendos, provedores também devem desenvolver mais índices price return aos gestores. A S&P Dow Jones Indices é uma das empresas que surfa nessa jornada. Além do índice S&P Global REIT, a provedora já recebeu outros pedidos de agentes de mercado.
“Vai ter um lançamento em breve de um índice da S&P licenciado. A gestora está apenas esperando uma janela de oportunidade. E será focado em dividendos puros, de ações internacionais”, revelou Paulo Sampaio, diretor sênior da S&P Dow Jones Índices na América Latina.
Segundo Sampaio, além de ações internacionais, a provedora tem recebido algumas demandas de gestores ligados ao segmento de REITs, para fundos de índices que pagam dividendos, mas em ativos de nicho – como shoppings ou imóveis residenciais, entre outros. “O real estate é forte. O brasileiro gosta de ter renda, os fundos imobiliários americanos pagam renda e há interesse nesse tipo de instrumento através de ETFs”, destaca.
A S&P Dow Jones Indices calcula diariamente 700 mil índices em 70 mercados diferentes. Segundo Sampaio, pelo menos mais de 100 mil são do tipo price return, o formato que permite a distribuição de dividendos. Mas mesmo com a inexistência de um índice da categoria, ele revela que o processo de criação seria simples e a provedora está pronta para trazer novas classes ao mercado, tais como índices com distribuição de dividendos ou até mesmo juros.
Em média, segundo Sampaio, a criação de um novo índice pode levar de três a quatro meses – ou até um ano, em casos de desenvolvimento mais complexo.
O que diz a B3 sobre ETFs de dividendos?
Em um evento realizado nesta quinta-feira (17) pela S&P Dow Jones Indices e pela B3, José Ribeiro de Andrade, vice-presidente de produtos e clientes da Bolsa, e Marcos Skistymas, head de produtos listados, confirmaram ao InfoMoney que o lançamento dos ETFs que pagam dividendos deve ocorrer no primeiro trimestre de 2023.
“O que faltava resolver na B3 era a questão de sistemas, incluir o ETF como um ativo que paga dividendos na central de depositários”, apontou Andrade. A informação de que a B3 trabalhava nesta estratégia foi antecipada em reportagem do InfoMoney publicada em março.
Segundo Andrade e Skistymas, do lado da B3, o sistema estará pronto para entrega no primeiro trimestre de 2023 e o surgimento de ETFs que pagam dividendos dependerá dos gestores que, em coordenação com os provedores de índices, devem criar estes novos produtos. “A prateleira está disponível para quem quiser colocar lá”, destacou Andrade.
Na visão deles, a chegada de ETFs que pagam dividendos não deve canibalizar outros tipos de fundos de índices, como os temáticos – e sim, ampliar as possibilidades para o investidor decidir se quer ou não optar por pagamento de dividendos. “Qualquer índice temático ou tradicional tem a possibilidade de pagar dividendos, embora temáticos sejam teses de longo prazo que não geram caixa”, diz Skistymas. Com a nova categoria, o investidor ganharia flexibilidade para escolher a estratégia.
A Bolsa brasileira já calcula índices de dividendos, mas do tipo total return, que não prevê a distribuição dos proventos. É o caso do Índice de Dividendos da B3 (IDIV), que reúne atualmente 52 ações destacadas como boas pagadoras.
Questionados sobre a possibilidade de os índices da B3 serem transformados em price return, Andrade e Skistymas afirmaram estar abertos à possibilidade, colocando o IDIV como uma possível alternativa. Para isso acontecer, seria necessário criar um segundo índice, nos mesmos moldes, mas com a metodologia adaptada. “Faremos na medida que tiver demanda do mercado”, afirmou Andrade.
Como será a tributação dos dividendos de ETFs?
Outro desafio manifestado pelos gestores diz respeito à tributação dos dividendos pagos pelos futuros ETFs. Skistymas, da B3, explica que atualmente quando um fundo recebe dividendos de uma empresa e distribui os valores aos investidores, os valores deixam de ser considerados proventos – e passam a ser enxergados como rendimento. Por isso, são passíveis de tributação regressiva, com alíquotas de 22,5% a 15%.
Isso acabaria gerando um conflito na indústria, dado que os dividendos de ETF seriam tributados. “É uma questão que precisamos endereçar com a Receita Federal, porque o fundo passivo investe em ações e repassa os dividendos para os cotistas, que indiretamente são os donos. Por isso, não deveria ser tributado”, explica Andrade, da B3.
A discussão de tributação deverá ocorrer próxima aos primeiros lançamentos, segundo a B3.