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Talvez você já tenha ouvido falar dos chamados “dividendos sintéticos”, estratégia que permite obter ganhos utilizando opções de compra (call) e venda (put) – mas é possível que tenha deixado a alternativa para lá, já que à primeira vista ela parece complexa.
É esse modelo, no entanto, que a gestora brasiliense Buena Vista Capital, com R$ 68 milhões sob gestão, vai adotar em um ETF (fundo de índice) de renda listado na B3. A estratégia utilizada será “covered call” ou venda coberta de opções de compra – uma operação na qual o investidor tem uma posição comprada em um ativo e deve vender opções de compra sobre o mesmo papel para gerar renda.
A prática é muito comum no mercado americano, motivo que levou Renato Nobile, sócio e gestor da Buena Vista Capital, a usar o índice S&P 500 como referência – o indicador reúne as maiores empresas de capital aberto dos Estados Unidos.
Focar o ETF no mercado americano também tem a ver com a liquidez, maior que a das opções de Ibovespa, por exemplo, com alternativas de vencimentos mais escassas.
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Como vai funcionar o ETF?
O ETF da Buena Vista vai comprar cotas de outro ETF listado nos EUA, o NEOS S&P 500 High Income ETF (SPYI). Ele busca distribuir renda investindo nos ativos do índice S&P 500, aliando uma gestão ativa com opções de compra.
Lá fora, o SPYI paga dividendos mensais e nos 12 meses até junho registrou dividend yield (taxa de retorno com dividendos) de 12,11%. A meta do ETF é entregar 1% ao mês aos investidores. Na cesta de ativos, os principais são as ações de Apple (7,77%), Microsoft (6,88%), Amazon (3,15%), Nvidia (2,84%) e Tesla (1,97%), além de Alphabet, dona do Google; Meta, dona do Facebook; Berkshire Hathaway, holding de Warren Buffett; e Unitedhealth Group.
Como no Brasil não é permitida a gestão ativa de ETFs, Nobile explica que o fundo que será lançado pela gestora deve seguir um índice encomendado à provedora americana MerQube, replicando a cesta e a metodologia do ETF SPYI. O índice deve ser entregue à gestora nesta quarta-feira (26), segundo Nobile.
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O ETF brasileiro, que deve ser batizado SPYI11, será rebalanceado a cada três meses para ajustar os pesos dos ativos.
Segundo o gestor o SPYI investe nas 500 empresas do S&P 500 individualmente e paralelamente vende opções de compra em prazos diversos para gerar prêmios. “Não tem um risco elevado, o maior risco é ser executado, mas ainda assim ganha-se o prêmio”, destaca Nobile. As opções são de S&P 500, e não dos ativos individuais.
Para o SPYI, um mercado “de lado” (com pouca variação) ou em queda é vantajoso, diz Nobile. “Isso porque o ETF ganha prêmio e não é executado, ou seja, acaba caindo menos que o S&P 500”, explica.
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Já a desvantagem ocorre quando o mercado americano sobe demais, porque o SPYI tende a ficar para trás, já que as opções são executadas e o ETF precisará recomprar papéis. “Observando o mercado, vemos que teremos um longo período com juros mais altos e a Bolsa de lado, sem crescimento acelerado, então o SPYI tende a ficar muito atrativo”, defende o gestor.
Nobile reforça que o SPYI não adota alavancagem. O ETF tem atualmente US$ 200 milhões de patrimônio líquido.
Remuneração mensal de 1%
Assim como o SPYI, a meta do ETF brasileiro será entregar ao investidor 1% ao mês em dividendos. Os proventos do fundo serão uma junção dos dividendos pagos pelas empresas da cesta – que, segundo o gestor, representam menos de 3% – além dos prêmios fruto das operações com opções e um benefício de compensação fiscal do ativo.
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Nobile explica que o ETF vai trabalhar com uma estratégia de linearização de dividendos. Desta forma, nos meses em que tiver lucro excedente acima de 1%, os recursos devem ser colocados em caixa ou parcialmente reinvestidos em opções de vencimentos mais longos e novas empresas. “Se em um mês houver algum prejuízo esta reserva ajuda a completar o pagamento do 1% aos investidores”, diz. Ele reforça que o objetivo será entregar 12% ao ano, mas em bons períodos o ETF pode oferecer até 15%.
Entre as vantagens do produto, ele cita a previsibilidade. Por conta do provisionamento, a gestão deve publicar um calendário com “data com” e datas de pagamento dos dividendos, dando ao investidor transparência de quando é possível comprar as cotas para garantir os ganhos.
“Para o investidor brasileiro as vantagens são estar comprado nas melhores empresas do mundo, ter um pagamento mensal na conta de 1% ao mês e o patrimônio dolarizado, descorrelacionado do risco Brasil”, pontua Nobile. Os dividendos serão pagos aos investidores em reais, já convertidos pela gestora.
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Taxas e impostos
Nos Estados Unidos, os dividendos pagos pelo ETF SPYI são tributados em 30%, mas Nobile explica que por se tratar de investidor institucional, a Buena Vista deve receber os proventos isentos e pagar o imposto apenas no Brasil. Atualmente, a tributação para dividendos de ETFs brasileiros é de 15%.
Embora esta tributação não seja bem-vista por boa parte dos gestores brasileiros, para Nobile isso torna o ETF local ainda mais atrativo, considerando que quem investe direto no SPYI no exterior teria que pagar 30% de imposto em cada provento recebido. A taxa de administração ainda não foi definida.
“Queremos manter uma taxa de administração tão competitiva como a do SPYI”, afirma. O ETF lá fora cobra 0,69% pela administração dos recursos.
O próximo passo da Buena Vista será protocolar o registro do ativo na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). “Queremos ser o primeiro ETF que paga dividendos da B3”, comenta o gestor. Segundo o InfoMoney apurou, o lançamento deveria ocorrer até setembro para cumprir este objetivo.
Além do ETF da Buena Vista, o WISE11, um fundo de índice da Wise Capital que pagará dividendos, também pode chegar ao mercado em breve.
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