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SÃO PAULO – O ESG – movimento que reúne preocupações com meio ambiente, sustentabilidade e governança corporativa – vem sendo discutido há anos, inclusive no mercado financeiro. Para a gestora de private equity EB Capital, o tema ganhará ainda mais relevância em um mundo pós-pandemia: a sustentabilidade ambiental e social será a nova queridinha dos investidores, depois da tecnologia. Em inglês, o lema é green is the new tech.
Empresários experientes estão por trás dessa tese de uma “retomada econômica verde e social” após a pandemia. A EB Capital foi fundada por Eduardo Sirotsky Melzer (ex-CEO do Grupo RBS), Luciana Antonini Ribeiro (ex-diretora de desenvolvimento de negócios e estratégia no Grupo RBS) e Pedro Parente (CEO de Grupo RBS, Bunge Brazil, Petrobras e BRF). Fernando Iunes também se juntou ao grupo, após sua experiência no Itaú BBA como sócio e diretor de Investment Banking. Todos estão concentrados na EB Capital atualmente.
A gestora administra mais de R$ 3 bilhões em investimentos como a holding de internet Alloha Fibra (ex-EB Fibra); o e-commece Loja do Mecânico; e as escolas técnicas Enferminas e Essa. A EB Capital está formatando desde abril deste ano um novo fundo de R$ 1 bilhão, batizado de Preferred Futures Fund I. Essa captação ainda está em andamento, sem data para conclusão.
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“Não tenho dúvida de que o engajamento do mercado financeiro pode ser um propulsor para essa retomada verde e social. Como gestores de recursos, temos a transformação como responsabilidade”, afirmou Luciana em entrevista ao InfoMoney. “Cada vez mais gestoras e empresas se adaptam a essa realidade de reduzir sua pegada e ter práticas mais diversas, seja por amor ou por pressão, inclusive de consumidores.”
A sócia da EB Capital também falou sobre por que teremos essa “retomada econômica verde e social” na economia; sobre a importância da COP 26, conferência mundial sobre mudanças climáticas que começa no próximo domingo (31); e sobre como funcionam investimentos em private equity, incluindo sua falta de correlação com indicadores da macroeconomia. Confira os principais trechos da entrevista:
Como funciona o investimento em private equity tradicionalmente? E o que estava faltando, para vocês decidirem montar a EB Capital?
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No Brasil, o private equity consiste em você investir na economia real a partir de empresas com modelos de negócios comprovados. O gestor de private equity identifica indústrias interessantes e negócios com capacidade de crescimento. O gestor ajuda as empresas a se expandirem, de forma mais ou menos ativa. Depois de um ciclo de quatro a cinco anos, cria valor para a empresa e retorno ao investidor. Então, sai desse investimento.
Nosso objetivo era entrar no private equity com uma visão diferente da usual: termos a prosperidade compartilhada como a alavanca para esse retorno financeiro. Isso se faz investindo nas empresas que solucionam lacunas estruturais brasileiras.
Levamos fibra óptica para as franjas das grandes cidades, ou para cidades secundárias e terciárias. Também aportamos em uma plataforma de comércio eletrônico que apoia pequenos e médios empreendedores. Investimos ainda na educação profissionalizante, já que a falta de qualificação de mão-de-obra é um gargalo imenso para o desenvolvimento do país.
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Investir nesse país é um exercício tanto de empreendedorismo quando de excelência operacional. Acreditamos nisso porque temos a característica comum de vir do mundo da operação empresarial com propósito. O Parente tem experiência no setor público, enquanto eu e o Melzer trabalhamos com comunicação. Não viemos do mercado financeiro e sabemos que nem sempre nosso trabalho tem glamour. É preciso conquistar o interesse dos funcionários para uma estratégia ou um propósito, ajustar um call center, desenhar processos ou implantar um sistema de gestão. São essas atitudes que fazem ativos florescerem.
Essa prosperidade compartilhada passa por uma “retomada econômica verde e social” depois da pandemia, na visão da EB Capital. Pode falar mais sobre essa retomada?
A gente vem de uma sociedade focada na extração máxima de recursos das empresas aos acionistas. Algumas parcelas da sociedade já debatiam sobre repensar o capitalismo, tornando-o mais consciente e inclusivo em termos de responsabilidades ambientais e sociais.
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Com a parada na atividade econômica provocada pela pandemia, o mundo percebeu que nossos problemas estavam conectados. Uma situação do outro lado do mundo pode se tornar global – desde uma doença até o aquecimento dos polos ou a pobreza. O problema de um se torna o problema de todos, os efeitos são em cadeia. Então, como vamos resolver esses problemas em um novo capítulo da humanidade, após a pandemia?
Não tenho dúvida de que o engajamento do mercado financeiro pode ser um propulsor para essa retomada verde e social. Como gestores de recursos, temos a transformação como responsabilidade. Nossa crença é a de que green is the new tech, acompanhando o crescimento da linha de investimento ESG.
Cada vez mais gestoras e empresas se adaptam a essa realidade de reduzir sua pegada e ter práticas mais diversas, seja por amor ou por pressão, inclusive de consumidores.
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Ainda estamos na infância desse movimento e existe muito greenwashing [promover um discurso ambientalmente responsável, mas sem atitudes correspondentes], com empresas jogando suas metas lá para 2050. Mesmo assim, já vemos outras que realmente aderem ao ESG, com a visão de colocar dinheiro no que deve ser feito e conquistar retornos maiores em médio e longo prazo. Afinal, colocar dinheiro em um negócio que não está olhando para o futuro tende ao insucesso.
Pensando ainda nessa “retomada verde e social”, quais são as teses da EB Capital?
Primeiro, estamos de olho em negócios que olham para a temática em seus processos, independentemente de o produto ser ligado ao meio ambiente ou a uma iniciativa social. Por exemplo, um batom em si não é um produto ESG. Porém, os processos de fabricação da Natura trazem preocupações ambientais e sociais.
O segundo e atual passo da EB Capital é investir em empresas que se proponham a resolver tais problemas como núcleo de sua atividade. Não vamos resolver todos os problemas, mas queremos cooperar para escalar soluções concretas para problemas efetivos no país. O Brasil deve se tornar protagonista em soluções verdes e sociais.
Na temática ambiental, olhamos para redução da pegada de carbono principalmente no agronegócio. Também olhamos para a economia circular, com a reciclagem de plásticos e outros tipos de resíduo. Essas duas teses se apoiam na tendência de olhar aos recursos naturais como finitos. Nossa crise hídrica atual mostra como não podemos consumir recursos de forma linear. Na temática social, olhamos para a inclusão em educação e em saúde.
Neste final de semana, começa a COP26. Qual a expectativa de vocês para o evento?
A conferência será essencial neste ano porque especialistas alertam que os países precisam realizar movimentos rápidos e urgentes no uso dos combustíveis fósseis caso desejem evitar os impactos mais imediatos na mudança climática.
Alcançar uma economia de emissões líquidas zero exigirá mudança de todas as partes, o que certamente mobilizará uma força-tarefa gigantesca e de muito comprometimento. Significará abandonar o fator que tem sido o motor da economia global e agora é a maior ameaça à sua estabilidade: o carbono.
Será possível alcançarmos este objetivo? Acredito que sim. Mas, para chegarmos lá, novamente: cada instituição financeira, empresa e investidor terá que ajustar modelos de negócios, desenvolver planos de transição e efetivamente os implementar.
Qual a análise do fundo sobre as atuais condições macroeconômicas do Brasil? Elas afetam o portfólio?
Operamos companhias por quase 20 anos e sabemos que o país tem ciclos constantes: esse não é o primeiro e não será o último momento de grande volatilidade. Então, você precisa colocar dinheiro em negócios que naveguem bem por essa volatilidade, que sejam desatrelados a ela. Por exemplo, um negócio que se guia pelo Produto Interno Bruto do país está atrelado à sua volatilidade.
Por outro lado, nossa empresa de fibra óptica cresceu dez vezes durante a pandemia, porque é um serviço cada vez mais essencial. Todas as nossas empresas cresceram durante as crises frequentes do país. Temos a tese de que nossos investimentos em problemas relevantes e estruturais têm demanda reprimida e crescimento sustentável, portanto são resilientes no tempo. Não participamos das subidas e quedas da Bolsa.
Qual a taxa de retorno que vocês buscam com os investimentos atuais? E quais são as classes de investidores da EB Capital?
Buscamos retornos acima de 25% ao ano. Atualmente, temos mais de R$ 3 bilhões sob gestão. São family offices nacionais e internacionais, investidores institucionais e investidores de varejo por meio da instrução CVM 400.
Um futuro investidor em private equity deveria ficar de olho em quais pontos?
O private equity é um investimento alternativo, o que se traduz em iliquidez. O brasileiro está acostumado a ter uma liquidez quase automática, mas esses são investimentos de longo prazo. Outros exemplos de investimentos alternativos são venture capital, infraestrutura ou imóveis, ainda que tenham setores, perfis de risco e expectativas de retorno diferentes entre si. Mesmo dentro do private equity, existem fundos mais e menos de turnaround [reestruturação dos negócios]. Em comum, são oportunidades que se maturam em um prazo de até dez anos, contando os períodos de investimento e desinvestimento.
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