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Com o crescimento da pauta ESG (ambiental, social e de governança) no mercado de capitais brasileiro um debate divide opiniões. Afinal, setores controversos como mineradoras, petrolíferas, frigoríficos, indústria bélica e de carvão deveriam integrar os principais índices ESG brasileiros? O investidor deveria aplicar os seus recursos nestas companhias ou deixá-las de lado?
Para Márcio Correia, sócio e gestor dos fundos de ações da JGP, quando um setor é polêmico, porém ainda necessário para a sociedade, como é o caso da mineração, o desinvestimento seria um erro.
“Não faz sentido desinvestir em mineração sendo um setor muito necessário para a transição energética, relacionado ao aquecimento global. O investidor precisa se engajar nele”, afirmou Correia no Onde Investir 2022, evento online promovido pelo InfoMoney, em parceria com a XP Investimentos.
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No entanto, direcionar o investimento para a transformação destas companhias exige uma mudança nas estratégias dos acionistas, principalmente investidores institucionais. Na JGP, por exemplo, que investe em Vale (VALE3) antes e depois de Brumadinho, houve uma mudança de engajamento.
Correia explica que antes do desastre ambiental de Brumadinho, a JGP investia na companhia por motivos financeiros, acreditando que a China teria um problema na produção de minério de ferro no curto e médio prazo que acabaria beneficiando a mineradora.
Após a tragédia, e com a pauta ESG sendo incorporada, a gestora passou a focar nas questões socioambientais da companhia.
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“Recentemente visitamos Mariana (MG), ficamos dois dias entrevistando as famílias, fizemos um estudo interno e enviamos para a empresa”, conta Correia. Segundo ele, é importante que as empresas incorporem certas externalidades antes mesmo da cobrança dos órgãos reguladores.
O gestor acredita que muitas vezes o engajamento dessas empresas na transformação pode até ser mais rápido e efetivo do que as medidas impostas pelos governos.
Para Vanessa Adachi, editora-chefe do portal Reset, os investidores precisam se engajar na transformação e financiar a transição destas companhias. “Se você não investe na empresa, quem que vai cobrar dela?”, questiona.
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Vanessa afirma que muitas pessoas acreditam que com a falta de capital e todo mundo desinvestindo, as companhias possam ser forçadas pela perda financeira a mudar, no entanto existe sempre o risco do ativo ir parar em mãos de pessoas que não se importam com questões ESG, o que seria uma perda para o debate.
Ela cita que muitas empresas se encontram em uma corrida de transição para energia limpa, vendendo usinas térmicas por exemplo.
“Engajamento é o investidor tentando junto das empresas consertar o mundo”, reforça Correia.
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A forma como o investimento é realizado também muda. A gestora JGP investe em companhias petrolíferas, por exemplo, com o intuito de engajar a empresa a construir uma saída do petróleo, transformando esta em uma empresa de energia.
É por este motivo que os fundos não participam em ofertas primárias. “Se entrarmos em uma oferta primária estaríamos fomentando o crescimento da indústria de petróleo, quando na verdade queremos que encolha ao longo do tempo”, exemplifica.
Setores polêmicos e considerados desnecessários para a sociedade brasileira também são excluídos do fundo da JGP, é o caso de empresas do setor bélico, jogos de azar, cigarro e indústria de carvão.
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Um ISE ainda complexo
Os especialistas também apresentaram a sua visão sobre o novo Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3, que lançou uma nova carteira no dia 3 de janeiro.
Entre as mudanças principais da metodologia do ISE foi reduzido o número de perguntas do questionário, com segmentação para setores, um esforço para fomentar a transparência, divulgando a nota que as companhias obtiveram em cada pilar e a parceria com consultorias como RepRisk e CDP (Carbon Disclosure Project) para avaliar mudanças climáticas e riscos reputacionais.
Vanessa Adachi destaca que o avanço foi necessário, com a tentativa do mercado e os fundos utilizar o ISE nas suas estratégias. “A B3 foi ouvir o mercado, um amplo trabalho de consulta que resultou na nova metodologia”, comenta.
No entanto, aponta que alguns dos aspectos mais criticados como o fato de o questionário ser auto declaratório, com as empresas respondendo e avaliando as próprias práticas, ainda é um fator complexo que precisa ser solucionado.
Para Correia, o ISE do passado era muito ruim e agora apresenta melhorias, porém acredita que é muito cedo para saber se o índice será aceito no mercado. “Foi muito importante ter tirado a Petrobras e passar essa mensagem da necessidade de ter uma nova fonte de energia”, diz.
Com a reformulação, empresas como a Petrobras (PETR4) e alguns frigoríficos foram excluídas, enquanto outras, como a Braskem (BRKM5) retornaram ao ISE, o que levantou debates. “[A Braskem é] uma empresa que tem políticas de sustentabilidade há muito tempo e é produtora de resina plástica, embora tenha um plástico verde. [A companhia] tem uma política de descarbonização bem desenhada mas está com um problema em Maceió, com o afundamento de bairros inteiros”, pontua Vanessa.
Correia traz outro ponto de vista: “Concordo com a Vanessa sobre os problemas de Maceió, mas o plástico é necessário para a sociedade e eles têm investido para melhorar o negócio”.
O gestor cita ainda que outros índices podem surgir e fazer competição ao ISE. Cabe lembrar que alguns fundos e ETFs ESG já replicam outros índices focados em três pilares, como é o caso do S&P/B3 Brasil ESG, que embora tenha uma metodologia qualitativa, que prioriza os pilares social, ambiental e de governança e não na capitalização de mercado, reúne algumas semelhanças com o ISE, como o uso do RepRisk.
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