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ESG é “subjetivo”: o que pensa o criador do “ETF do mal” que investe em apostas e drogas lícitas

Thomas Mancuso, fundador de ETF "anti-ESG", defende visão controversa e comenta expectativas para empresas “do contra”

Monique Lima

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Os critérios que priorizam a proteção do meio ambiente, as causas sociais e a governança corporativa (ESG, na sigla em inglês) ganham cada vez mais espaço no mercado financeiro. Somente em 2022, o fluxo líquido de entrada em “fundos sustentáveis” somou US$ 115 bilhões globalmente, enquanto os fundos tradicionais fecharam o ano com saída de US$ 565 bilhões, segundo o Morgan Stanley.

Mas há quem prefira a direção oposta.

Os Estados Unidos protagonizam um movimento anti-ESG que não aceita o uso dos critérios ESG para a escolha de ativos financeiros. Os adeptos afirmam que o objetivo de um fundo de investimento deve ser o retorno financeiro, não critérios “politicamente corretos”.

Para investir em empresas “órfãs” dos critérios ESG, Thomas Mancuso criou em 2021 a The BAD Company. Seu objetivo era lançar um fundo para investir em ações controversas, que não atendem às novas regras do mercado. O nome do ETF já entrega seu objetivo: B.A.D. — “ruim” em português e acrônimo de Betting (apostas), Alcohol (álcool) e Drugs (drogas).

As três indústrias são a base de investimento do ETF, que também tem participação de até 10% do portfólio no mercado de cannabis.

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Segundo Mancuso, muitas das empresas que são negligenciadas por não atenderem aos critérios de sustentabilidade, ações sociais e de governança são centenárias, resilientes, com um longo histórico de atendimento à sociedade e aos acionistas. “Elas sobreviveram às pressões inflacionárias em todos os ciclos econômicos. Estão por aí há centenas de anos. Isso é verdadeiramente sustentável”, disse em entrevista exclusiva ao InfoMoney.

O ETF BAD foi lançado em dezembro de 2021. Desde então, teve 16% de desvalorização. No acumulado de 2023 até junho, o fundo registrou 1,5% de ganhos. Estes números, entretanto, não preocupam Mancuso. Segundo ele, o objetivo de retorno do fundo é para o longo prazo.

Com menos de dois anos no mercado, o ETF BAD já atingiu um volume de ativos sob gestão e ações em circulação superior ao do fundo AdvisorShares Vice (VICE) – um ETF de premissa similar que existe desde 2018, antes da nomenclatura anti-ESG ganhar força nos EUA. O VICE tem 340 mil ações em circulação e US$ 9,7 milhões de ativos sob gestão. Já o BAD tem 820 mil ações em circulação e US$ 10,4 milhões de ativos sob gestão.

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Atualmente, 57 empresas fazem parte do portfólio de ações “ruins” do ETF BAD, que tem uma taxa de administração de 0,75%. As cinco principais participações são:

Ticker Nome Setor Preço (US$) % no ETF
CRON CRONOS GROUP INC Cannabis 1,97 3,17%
ABEV AMBEV SA Álcool 3,18 2,89%
MGPI MGP INGREDIENTS INC NEW Álcool 106,32 2,89%
STZ CONSTELLATION BRANDS INC Álcool 246,63 2,85%
BF-B BROWN FORMAN CORP Álcool 67,03 2,84%

O InfoMoney conversou com Thomas Mancuso sobre o movimento anti-ESG e as premissas do ETF BAD. Leia a entrevista completa:

O que significa o movimento anti-ESG no mercado financeiro?

Ser anti-ESG, na minha opinião, pode significar muitas coisas. Especificamente para mim, ser anti-ESG é priorizar retornos financeiros sobre estigmas sociais ou agendas políticas que algumas pessoas querem levar em consideração quando se trata de investimentos. Eu vejo como cuidado com nossos investidores, colocando-os como nossa principal prioridade. Alguns desses critérios ESG podem prejudicar os resultados financeiros de uma empresa e as companhias que atendem vão gastar mais dinheiro, podendo atrapalhar seu balanço no final do dia. E tudo isso não necessariamente vai maximizar os retornos para os acionistas.

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Então você não concorda com as métricas e as mudanças que a pauta ESG propõe?

Não. Eu acho que existe uma grande falha quando se trata de métricas ESG. Na minha opinião, não há um sistema de pontuação perfeito quando se trata de classificar algo como um fundo ESG ou uma empresa ESG, porque existem empresas ou fundos que podem pontuar muito bem no fator ambiental, mas podem ter um desempenho ruim no lado social e de governança corporativa.

As empresas de petróleo e outras que usam recursos naturais, em geral, podem pontuar bem na governança e no social dentro dessas métricas, mas vão falhar no ambiental. Então, é um problema no sistema de pontuação. Não existe uma avaliação universal, isenta de falhas. As pessoas podem tentar enganar para fazer com que a empresa atenda a certos critérios quando, na verdade, não estão marcando todas as caixas.

Os investidores devem pensar no ESG como uma coisa importante, porque todos nós queremos fazer o bem para a Terra e ter certeza de que as empresas estão indo bem. Mas, ao mesmo tempo, não queremos que as pessoas enganem seus investidores dizendo que estão investindo em algo quando não estão.

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Como as pessoas e as empresas estariam enganando os investidores sobre critérios ESG?

Alguns dos fundos ESG da BlackRock, por exemplo, têm empresas com uma pontuação terrível em alguns critérios. Existem questões que são muito subjetivas. Isso é um problema de transparência. Tome como exemplo o Elon Musk e a Tesla: a Tesla é uma empresa de veículos elétricos que atende à agenda de sustentabilidade. Mas criticaram a agenda social da empresa e tiraram ela do índice ESG do S&P 500. Mas a petroleira Exxon Mobil faz parte do índice.

Há falhas quando deixamos nossas opiniões subjetivas nos influenciarem e prejudicarem como vamos investir e quais são os critérios de pontuação de uma empresa ESG.

Qual era o seu objetivo quando criou o ETF BAD?

Investidores institucionais e de varejo têm mais informações ao seu alcance hoje do que anos atrás. Em 2020, quando houve um aumento de investimentos em meio à pandemia, a diversificação se tornou um fator muito importante. Para mim, diversificação também inclui setores que estão sendo negligenciados por não se alinharem neste tipo de agenda ESG, embora sejam boas opções para a carteira.

Em última análise, são negócios com forte fluxo de caixa, que sobreviveram às pressões inflacionárias em todos os ciclos econômicos. Essas empresas estão por aí há centenas de anos. Isso é verdadeiramente sustentável. É um produto de investimento que vai oferecer aos investidores um retorno de longo prazo ajustado ao risco.

Alguns dos setores, como apostas, drogas farmacêuticas e cannabis já eram vistos como arriscados antes do ESG. O que você vê de oportunidade nessas empresas?

São setores que estão passando por várias regulamentações. Nos Estados Unidos, mais estados estão legalizando os jogos de azar porque precisam compensar algumas receitas fiscais e impostos. É o mesmo movimento que vemos na parte das drogas lícitas, como a cannabis. Quando definidas essas regras, a tendência é que essas empresas tenham mais segurança para crescer seus negócios.

É mais ou menos a mesma coisa com as empresas biotecnológicas e farmacêuticas, que têm produtos que as pessoas usam diariamente. Elas tendem a crescer cada vez mais com o aumento de pesquisa e desenvolvimento. Aí tem o álcool: quando você olha para esse setor, é uma questão de consumo básico, as pessoas bebem álcool com regularidade — e é um grande fluxo de pessoas.

Isso nos dá um pouco de base. Podemos ver oscilações de cinco, 10 e 20 por cento [de preço nesses ativos], mas essas empresas normalmente pagam altos dividendos. Haverá um crescimento lento e constante, que é o que queremos nesse portfólio. No final das contas, acredito que estamos oferecendo aos investidores uma variedade de características e um portfólio que lhes dá crescimento de valor e também um pouco de posição defensiva para o futuro.