Entrevista: Simão Silber fala sobre risco e perspectivas para 2010

Pós-crise, como o investidor reage hoje ao risco, qual a composição ideal de uma carteira e o que esperar para 2010. Confira!

Waldeli Azevedo

Publicidade

SÃO PAULO – Modalidades de investimentos, cenário macroeconômico, efeitos da crise e o que vem pela frente…

Nesta entrevista, o prof. Dr. Simão Silber* fala “um pouco sobre tudo”, respondendo, de forma clara e objetiva, a questões envolvendo o tema risco, sempre presente quando se fala em investimentos, em três aspectos: investidor, Brasil e 2010. Confira!

Investidor x risco

Continua depois da publicidade

InfoMoney – Qual a postura dos pequenos investidores brasileiros em relação ao risco?
Simão Silber – O momento é de cautela, pois passamos ainda por um período de indefinição, não somente no Brasil como no mundo todo. Dada a grande volatilidade que vemos no mercado, acredito que a exposição ao risco deva ser bastante modesta. Os preços estão muito altos hoje, em se tratando de ações. Por isso, este não é o momento adequado para se colocar boa parte da sua poupança em ativos de maior risco.

A maioria dos pequenos investidores não tem noção muito clara dos riscos, porque não acompanha o mercado com detalhes. Eles não têm, talvez, a capacidade analítica de avaliar, nem contam com uma consultoria mais especializada, que poderia apoiá-los em suas decisões. Por isso, é preciso cautela.

IM – Os investidores têm buscado alternativas conservadoras de aplicação, além da poupança? As instituições financeiras informam corretamente seus correntistas quanto aos riscos?
Simão Silber – Hoje os investidores têm, sim, consciência das opções existentes. Mencionaria, como exemplo, a emissão de passivos dos bancos, as captações a prazo, CDB, letra imobiliária e hipotecária. Eventualmente, dependendo do tamanho dos recursos, debêntures também. Há ativos de boa qualidade, basta procurar.

Continua depois da publicidade

Quanto às instituições financeiras, no entanto, acho que ainda informam o que é mais rentável para o intermediário do que aquilo que seria o melhor para o investidor.

”Maioria dos pequenos
investidores não tem noção
muito clara dos riscos,
porque não acompanha
o mercado com detalhes”
 

IM – Qual a composição ideal de uma carteira de investimentos?
Simão Silber – Hoje eu deixaria uma parte maior em renda fixa e uma menor em renda variável. Em termos percentuais, algo como 80%/20% e, em períodos muito favoráveis, chegaria a 60%/40%, no máximo, e já estaria sendo bastante agressivo. Não gosto muito de trabalhar com coeficientes fixos. Acho que esta é sempre uma composição muito razoável.

Brasil x risco

Continua depois da publicidade

IM – A população brasileira reagiu de maneira diferente de outros países em relação à crise. Por quê?
Simão Silber – Isso aconteceu por conta da posição conservadora que o mercado financeiro tem aqui no Brasil. A alavancagem era pequena, os bancos não estavam muito expostos a riscos, não havia empréstimo em demasia, em função do juro bastante alto. Houve fiscalização do Banco Central – aqui a regulamentação é forte -, ninguém tinha feito nenhuma grande besteira na política macroeconômica. Enfim, um conjunto grande de fatores que fez com que, depois de um trimestre, o brasileiro já estivesse mais ou menos convencido que seria uma crise muito passageira. Em um semestre, praticamente, tudo já havia passado.

IM – Considerando-se a crise econômica recente, como você avalia o desempenho do mercado de renda variável em 2009?
Simão Silber – Depois do pânico de 2008, quem teve o sangue frio e pegou o período em que os preços estavam muito baixos e entrou no mercado fez excepcionais negócios. Foi um ano muito favorável, sem dúvida.

IM – Os reflexos da crise econômica mundial no cenário doméstico tiveram, a seu ver, realmente características de “marola”?
Simão Silber – Não, claramente não. Há setores aqui que estão em dificuldades até hoje. O setor de máquinas e equipamentos, por exemplo, ainda está de joelhos. Os exportadores ficaram muito mal, aqueles que estavam muito focados em derivativos também foram bastante prejudicados. Em hipótese alguma tudo isso foi uma marola.

Continua depois da publicidade

Divulgação FIA  

IM – Como avalia a imagem do Brasil hoje no cenário internacional?
Simão Silber – A imagem do Brasil é uma das melhores possíveis. Hoje, quando um investidor estrangeiro pensa em diversificar suas aplicações, vai colocar altíssima prioridade: entre os primeiros, estará o Brasil. A visão do Brasil como um País responsável, sem truculência e nem mudanças das regras no jogo, é muito favorável. Não se tem uma visão tão positiva do Brasil há décadas.

2010 x risco

Continua depois da publicidade

IM – Em quais setores investiria em 2010? Em quais não investiria?
Simão Silber – Eu investiria em infraestrutura em 2010, na área de Telecomunicações (que continua em expansão) e Energia. Em contrapartida, olharia com um pouco de cuidado para empresas que vendem commodities no mercado mundial. É preciso ver se a economia mundial vai deslanchar mesmo em 2010.

Não investiria em setores que pudessem ter interferência muito forte do governo em véspera de eleição, ligados a tarifas públicas e que não sejam reajustados de maneira adequada. Eu diria o seguinte: como há alguns preços, aqui no Brasil, que são políticos, eventualmente, no curto prazo, o desempenho de uma Petrobras talvez não seja dos melhores, em função do crescimento do preço do petróleo lá fora. E aqui não vai se mexer no preço do petróleo em 2010 por causa das eleições.

IM – Acredita que as eleições afetarão o comportamento do mercado brasileiro no próximo ano?
Simão Silber – É difícil dizer cerca de um ano antes. Mas, na minha avaliação, a política econômica atual está tão consolidada que nenhum candidato irá mexer drasticamente no que vemos hoje. Acredito, portanto, que não deve ser um fator decisivo para trazer volatilidade ao mercado no final de 2010.

Em relação à política econômica brasileira atual, acredito que seja necessário caprichar na área fiscal, que não tem sido muito boa no final do governo Lula. Hoje há despesa desbragada, descontrolada. O grande cuidado é segurar melhor o caixa, controlar a dívida do governo, tentar investir um pouco mais. Acho que o caminho seria este. Acredito que qualquer governo que tenhamos pela frente irá seguir nesta direção. Teremos um governo de continuidade.

“A imagem do Brasil é uma das melhores possíveis. 
Hoje, quando um investidor estrangeiro
pensa em diversificar suas aplicações,
vai colocar altíssima prioridade: 
entre os primeiros, estará o Brasil” 

IM – Na sua visão, corremos algum tipo de risco significativo em 2010?
Simão SilberHaveria risco em 2010 se a situação dos bancos internacionais voltasse a deteriorar. A probabilidade de isso ocorrer é pequena, mas ninguém pode afirmar nada. Afinal, ninguém falaria, por exemplo, que, da noite para o dia, uma grande empresa de Dubai iria fazer moratória na sua dívida. Eu acho que ninguém hoje pode dizer que a crise bancária já está ultrapassada. Nos países desenvolvidos, creio que essa seja ainda uma grande incógnita. 


(*) Prof. Dr. Simão Silber é Doutor em Economia por Yale University e Professor Doutor de Economia na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade na Universidade de São Paulo

ACESSO GRATUITO

CARTEIRA DE BONDS