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CEO da B3 diz esperar que Bolsa abra pouco mais cedo e feche pouco mais tarde em 2025

Futuros de Índice e Bitcoin podem ser primeiros a contar com horário estendido de negociação; câmbio e mercado à vista de ações também estão nos planos

Rodrigo Petry

Gilson Finkelsztain, CEO da B3, participou de debate durante Premiação InfoMoney Outliers. Foto: Divulgação
Gilson Finkelsztain, CEO da B3, participou de debate durante Premiação InfoMoney Outliers. Foto: Divulgação

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Durante a Premiação InfoMoney Outliers, que reuniu semana passada os principais gestores de recursos do país, o CEO da B3, Gilson Finkelsztain, falou sobre os planos da Bolsa para a ampliação do horário de negociação do pregão, sobretudo dos mercados futuros de índice e de bitcoin – os primeiros que podem ser estendidos.

“Estamos trabalhando para isso, conversando com os reguladores e a indústria, para, aos poucos, a gente estender um pouco (o horário de negociação) e talvez abrir mais cedo; começar a fechar um pouco mais tarde”, disse Finkelsztain, em entrevista ao InfoMoney.

Atualmente, o mercado de derivativos da Bolsa brasileira está entre os maiores do mundo, com os contratos de juros (DI), dólar e Ibovespa no top 15 global. Sobre a antecipação da abertura, isso poderia abranger o dólar e o mercado à vista de ações.

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Em relação ao cenário de gestão de recursos, ele adianta que 2025 “não vai ser um ano fácil”. Isso porque, acrescenta, o país vive um momento de “falta credibilidade”, o que deixa o investidor estrangeiro “muito cético”. Além disso, os juros seguem elevados.

“A indústria (de fundos) teve, principalmente nos produtos mais arriscados, como multimercados e fundos de ações, muitos resgates ao longo dos últimos 18 meses. Então isso traz um cenário difícil, no mínimo desafiador para o mercado.”

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Sobre o mercado de IPOs (ofertas iniciais de ações), Finkelsztain entende que ainda “vai demorar um pouquinho” para que seja retomado. Eles (IPOs) voltarão. (Só) não sei se vai ser no segundo semestre deste ano ou no início de 2026″, completou.

Por outro lado, acrescentou, o mercado local, com emissões de debêntures, CRI’s e CRA’s (certificados de recebíveis imobiliários e do agronegócio, respectivamente) cresce com liquidez, tornando-se “a primeira opção das empresas”. para captações.

A seguir, confira os principais trechos da entrevista concedida durante a Premiação InfoMoney Outliers.

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InfoMoney: Como o senhor enxerga o atual momento da indústria de fundos de investimento?

Gilson Finkelsztain: A indústria de fundos no Brasil é incrível, de um tamanho que não se compara com nenhum outro mercado emergente. Uma indústria de primeiro mundo, com uma diversificação de segmentos, que possibilitam diversos tipos de investimentos.

E a B3 está intrinsicamente ligada à indústria de fundos, com diversos e grandes clientes… Então, é importante estarmos perto desses clientes, para poder pensar em novos produtos e serviços, que possam gerar valor para as assets, os investidores e o país.

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IM: O que esperar da indústria em 2025?

GF: 2025 não vai ser um ano fácil, porque a gente está em um momento em que falta credibilidade para o país e o investidor estrangeiro está muito cético em investir no Brasil. A indústria teve, principalmente nos produtos mais arriscados, como multimercados e fundos de ações, muitos resgates ao longo dos últimos 18 meses. Então isso traz um cenário difícil, no mínimo desafiador para o mercado.

“Por outro lado, a parte boa, que devemos ver em 2025, é a continuidade do desenvolvimento do mercado de renda fixa, que evoluiu muito. Então, toda renda fixa, todo mercado de fundos imobiliários (FIIs) e Fiagros, vai continuar tendo um protagonismo muito grande.”

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IM: A B3 tem buscado diversificar sua atuação, não só no mercado de ações. Quais são as outras frentes?

GF: Apesar do mercado de ações estar estar sofrendo, ele não está completamente parado. A gente tem muito desenvolvimento de ETF, de FIIs e de BDR. Todos estes, de alguma forma, vinculados ao mercado de renda variável. E são produtos importantes para a gente evoluir.

Então, toda essa agenda de inovação, que conversa com novos segmentos, como toda indústria de ETFs, ETFs de renda fixa, ETFs de índices internacionais, tudo isso, vai contribuir para termos uma indústria cada vez mais robusta no Brasil.

IM: E no mercado de derivativos, futuros, o Brasil é um dos maiores do mundo…

GF: Sim, temos um mercado de derivativos cujos contratos muitas vezes ocupam as primeiras posições dos rankings globais. O nosso contrato de juros, o DI, nosso contrato de dólar, nosso contrato de Ibovespa, estão aí entre os top 15 no mundo. Então, é um reflexo do sucesso do mercado brasileiro.

IM: Como estão as conversas sobre a ampliação do horário de negociação do mercado futuro?

GF: Estamos trabalhando para isso, conversando com os reguladores e a indústria, para, aos poucos, a gente estender um pouco (o horário de negociação) e talvez abrir mais cedo; começar a fechar um pouco mais tarde. Mas o mundo caminha para um mercado com mais tempo aberto.

Obviamente, há uma preocupação com a boa formação de preço, com a capacidade do investidor atuar. E uma das coisas que a gente vai fazer já é disponibilizar também os nossos produtos aqui brasileiros em plataformas globais.

Ou seja, há demanda, por exemplo, para derivativos e ações, para investidores, pessoas físicas globais, que estejam aqui e que não são residentes. Então, isso também vai contribuir para essa agenda de horário estendido.

“Eu espero que em 2025 a gente consiga avançar, seja para abrir um pouquinho mais cedo, seja para fechar um pouquinho mais tarde, porque eu acho que essa é uma tendência global.”

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IM: E para quais mercados a B3 pode ampliar o horário de negociação?

GF: Devemos começar com os derivativos, provavelmente do índice Ibovespa e Futuro de Bitcoin. Eu acho que esses dois tendem a ser os primeiros contratos que a gente vai colocar na plataforma em horário, por exemplo, pós fechamento.

A abertura mais cedo, aí já pode ser uma gama um pouco maior de ativos, aumentaria até o derivativo de câmbio e, eventualmente, o próprio mercado à vista de ações.

Gilson Finkelsztain acompanha Premiação InfoMoney Outliers, ao lado de Guilherme Benchimol. Foto: Divulgação

IM: Sobre o Futuro de Bitcoin, ele ainda tem um valor unitário de negociação muito alto de preço. Há alguma possibilidade de fracionar mais esses contratos?

GF: Sim, sem dúvida. Essa é uma discussão constante. Estamos justamente discutindo isso agora. Se faz sentido, à medida que o contrato fique muito grande, o volume, se ele pode estar inibindo a entrada de novos investidores.

Então, acho que nos próximos meses a gente deve atuar para eventualmente diminuir o tamanho do contrato e possibilitar que mais investidores operem esse ativo.

Hoje, o contrato é um décimo do Bitcoin, o Bitcoin está perto de 600 mil reais, então um contrato (de BITFUT) está em 60 mil reais. Essa é uma discussão que o time técnico da B3 está tendo para justamente fazer esse fracionamento.

IM: Como é que vocês estão vendo essa evolução no mercado de futuro de bitcoin?

GF: Acho que é uma classe de ativos nova, bastante volátil. O lançamento do contrato do Futuro de Bitcoin foi um sucesso, a gente tem acompanhado. Então, há uma tendência da gente listar mais derivativos de criptoativos.

Na agenda desse ano também deve estar o lançamento de novos criptoativos, derivativos de criptoativos. Estamos trabalhando com o regulador para isso.

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IM: Como o senhor está vendo o cenário atual para emissões?

GF: Follow-ons, infelizmente, não está crescendo tanto. Tivemos follow-ons muito grandes ano passado, como, por exemplo, Sabesp, Eneva – Caixa Seguridade está protocolado um fallow-on, que é uma informação pública. Mas é um mercado um pouco mais incerto, por conta da taxa de juros elevada.

Já o mercado de dívida local, ele teve recorde ano passado, cresceu enormemente, foi o recorde de volume de captação, recorde de número de emissões e eu acho que é uma tendência natural de mercado. Hoje, o mercado local de capitais, de emissão de debêntures, CRIs, CRAS, está muito líquido, tem muito interesse e é a primeira opção das empresas para fazer captações.

Então, acho que 2025 não vai ser diferente. A B3 continua sendo muito ativa como mercado de renda fixa, seja para a emissão desses títulos. Estamos trabalhando bastante para incrementar a negociação desses títulos do mercado secundário, que é justamente esse círculo virtuoso que faz com que os volumes das emissões possam crescer em tamanho e em prazos. Estou bastante animado com esse mercado para 2025.

IM: E os IPOs?

GF: IPOs era um pouco da agenda do início do ano passado. No início de 2024, a gente tinha uma perspectiva de queda de taxa de juros e inflação mais próxima da meta. Mas ao longo de 2024, tivemos uma deterioração grande do cenário de inflação e aí, obviamente, uma reação da política monetária de subir juros. E juros altos combinam pouco com IPO.

“Então, acho que por isso a gente vai demorar um pouquinho para ver novos IPOs, mas eles voltarão. Não sei se vai ser no segundo semestre deste ano ou no início de 2026.”

A minha perspectiva é de que quando a gente começar a ver a política monetária fazendo efeito e a gente conseguir ter a inflação mais próxima da meta, a curva de juros deve inverter, sinalizando uma tendência de corte de taxa de juros e nesse momento é justamente onde o mercado pode retomar a sua agenda de IPO.

Rodrigo Petry

Coordenador de Projetos Editoriais. Atuou como editor de mercados e investimentos no InfoMoney, liderando o Ao Vivo da Bolsa e o IM Trader. Antes, foi editor-chefe do portal euqueroinvestir, repórter do Broadcast (Grupo Estado) e revista Capital Aberto. Também foi Gestor de Relações com a Mídia do ex-Grupo Máquina e assessor parlamentar.