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A indefinição das eleições na Argentina às vésperas do resultado do segundo turno, previsto para ser anunciado no domingo (19), tem agitado o humor de agentes financeiros do País e de vizinhos, como o Brasil.
Na maioria das sondagens, o candidato de extrema-direita Javier Milei aparece à frente do peronista Sergio Massa, mas o cenário permanece incerto, já que os números indicam possível empate técnico.
No entanto, as dúvidas vão além de quem será o ganhador: analistas ainda tentam encontrar formas de projetar quais medidas cada um poderá tomar caso assuma na Casa Rosada, e como elas afetariam os mercados.
Tarefa que dificulta o trabalho de fundos com foco em traçar cenários mais prováveis sobre o resultado do pleito, que se debruçam sobre os dados para traçar suas próximas apostas. É o caso do multimercado Gauss Zaftra, da Gauss Capital.
“Tentamos prever qual vai ser a reação dos preços em função de cada resultado. Buscamos algumas assimetrias. Pensamos em ganhar, mas se houver perdas trabalhamos para que elas sejam pequenas”, pondera Fabio Okumura, CIO e sócio fundador da Gauss Capital.
Renda fixa e ações no radar
Uma das opções que estão em avaliação pela casa para ganhar nos dois cenários é a montagem de uma posição em renda fixa argentina. Okumura explica que ela pode ser uma opção interessante, já que está precificando um calote (default) da dívida soberana.
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A aposta, porém, se baseia na chance de os candidatos adotarem postura um pouco mais ortodoxa, com intenção de efetuar o pagamento da dívida.
“Se os candidatos anunciarem no começo do governo que pretendem pagar a dívida, o mercado poderia reagir e dar o benefício da dúvida”, afirma Okumura.
A Exploritas é outra casa que vê oportunidades na renda fixa, com destaques para bonds soberanos da Argentina e de províncias grandes, como Córdoba e, principalmente, Buenos Aires. Os papéis têm sido negociados com desconto, ampliando os ganhos em cima do valor de face, que já são altos pelo prêmio de risco envolvido.
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Apesar de o índice Merval ter perdido força após fortes ganhos em 2023, a Gauss cogita montar uma posição em ações argentinas.
Para o CIO da gestora, a saída de Patrícia Bullrich da disputa eleitoral, candidata que era mais benquista pelo mercado, levou a um “pessimismo exagerado” por parte dos agentes financeiros com o resultado das eleições, o que penalizou muito os papéis. “Acreditamos que, passado esse evento, os ativos não teriam muito mais para sofrer”, destaca Okumura.
O gestor faz uma comparação com o Brasil e lembra que a Bolsa estava sofrendo muito com o aumento do prêmio colocado sobre os ativos com as eleições. Depois do evento, o sócio da gestora afirma que uma parte dos investidores voltou a realocar em Bolsa, já que o aumento do prêmio de risco em função do pleito havia saído do radar.
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O fundo é um dos primeiros no mercado internacional a utilizar esse tipo de estratégia que envolve investir em ativos com base no resultado das eleições. O produto foi criado em abril deste ano e é focado em investidores com mais de R$ 10 milhões em aplicações financeiras (profissionais).
Desde então, já analisou o pleito ocorrido no Turquia, Argentina e Polônia. O fundo acumula retorno de 12,41%, contra 7,32% do CDI. Os dados vão até o dia 14 deste mês.
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Um desafio: montar posição em Argentina
Embora esteja de olho em oportunidades, a casa não esconde que montar posições com foco nas eleições argentinas está cada vez mais complexo. “É difícil cravar qual dos dois candidatos seria melhor para tal posição”, pondera.
Na avaliação de Okumura, há dúvidas sobre como será a governabilidade de Javier Milei, que teria uma minoria no Congresso. Ele também chama atenção para a questão da dolarização proposta pelo candidato, o que envolveria abandonar o peso argentino. “Se há um plano, ele não divulga. Há uma incerteza de que como ele vai dolarizar a economia sem reservas”, observa o gestor.
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Já sobre Massa, o especialista lembra que o mercado acredita que ele poderia adotar uma postura mais ao centro, mas há desconfiança se isso irá se concretizar. “Essa eleição tem um desafio maior porque não tem aquela de bem contra o mal para o mercado. Ninguém sabe quem é o vilão entre os agentes“, avalia.
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Outra preocupação está no acirramento da disputa a dias do resultado. Um dos destaques do fundo envolve a análise do cenário político por meio de algoritmos. Quem coordena essa parte é Maurício Moura, doutor em economia e política e sócio do fundo Zaftra.
O profissional já atuou no comando do Instituto Ideia e explica que a principal função do algoritmo é montar uma curva que oferece uma distribuição de probabilidade para o resultado por meio de dados passados e obtidos na campanha, além de informações disponíveis em redes sociais.
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Disputa voto a voto
Com uma base de dados mais ampla do cenário eleitoral em relação ao resto dos tradicionais fundos multimercados, Moura chama atenção para alguns aspectos diferentes vistos nessa eleição. Um deles envolve a presença de bolhas cada vez maiores no pleito.
Os eleitores passíveis de convencimento são cada vez menores, o que limita o poder das campanhas de que alguém mude de lado.
Maurício Moura, doutor em economia e política e sócio do fundo Zaftra
Para Moura, a grande variável dessa eleição será o nível de comparecimento. O profissional explica que o bom desempenho de Milei nas primárias foi em função do comparecimento. Segundo dados da Câmara Nacional Eleitoral, 69% dos argentinos participaram das prévias, percentual abaixo dos 76,4% vistos nas eleições de 2019.
Da mesma forma, o especialista cita que Massa foi beneficiado no primeiro turno, quando o índice de comparecimento atingiu o segundo nível baixo desde 1983, ano do retorno da democracia no País.
“Se tiver um nível de comparecimento significativo e próximo de 2015, as chances de Milei são maiores. Se tiver um nível perto do primeiro turno, Massa se beneficia”, pondera Moura, que acrescenta que a cidade que terá peso maior na eleição do próximo presidente será Buenos Aires.
Na visão do doutor em economia e política, o cenário de Massa parece mais “estável”, do ponto de vista político. “Ele parece que vai adotar uma postura mais parcimoniosa, sem mudanças econômicas chocantes, tipo a dolarização”, avalia.
Já Milei parece representar um caminho mais “incerto”, diz Moura. “Ele manifesta que vai cortar ministérios, além do ele teria um problema maior do que o Massa, porque possui uma minoria no Congresso.”