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Para alguns, é uma combinação preocupante: Donald Trump de volta à Casa Branca e um presidente impetuoso da América Central que se declara o “ditador mais legal do mundo”. Mas, na opinião de investidores em bonds, uma eleição de Trump pode provar ser um grande negócio para Nayib Bukele, de El Salvador.
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A ideia se baseia na crença de que Trump poderia ajudar a desbloquear bilhões de dólares em financiamento para El Salvador, provenientes de instituições multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), que, até agora, tem sido relutante em emprestar para um país que usa Bitcoin (BTC) como moeda oficial.
“El Salvador é um trade claro” com base nesse cenário, disse Chris Preece, gestor de portfólio da Pictet Asset Management. “Se Trump entrar, o impedimento que o Bitcoin tem sido para o relacionamento de El Salvador com o FMI se torna um problema menor.”
Os títulos em dólar da nação da América Central tiveram forte desempenho nas últimas semanas, entregando aos investidores retornos de 2,8% desde 27 de junho, logo após a participação do presidente Joe Biden no debate fez com que os gestores corressem para se ajustar para maiores chances de uma vitória de Trump. Os preços dos títulos do Tesouro americano (Treasuries) avançaram na curva da terça-feira (16), com títulos de 10 anos subindo 0,2 centavos de dólar, de acordo com dados coletados pela Bloomberg.
Além do “trade El Salvador”, os investidores de mercados emergentes esperam amplamente que o dólar se valorize, já que as moedas asiáticas e o peso mexicano sofrem com a retórica de imigração e proteção comercial de Trump.
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Reeleito neste ano com quase 85% dos votos, o presidente de El Salvador, de 42 anos, tem tido um relacionamento difícil com o governo dos EUA desde que Biden se recusou a recebê-lo na Casa Branca em 2021, devido às crescentes críticas de democratas a Bukele.
O salvadornho defendeu Trump repetidamente nas redes sociais, criticando duramente o processo contra ex-presidente nos tribunais em 2023, e sugerindo que seria hipocrisia dos EUA promoverem a democracia com sua política externa. Após o atentado contra Trump, Bukele escreveu em seu perfil no X (antigo Twitter) a palavra “Democracia?”. Seu gabinete então se juntou a outros governos condenando o ataque.
Ele também se vinculou à campanha de reeleição de Trump ao convidar várias figuras importantes do meio político conservador para sua posse, incluindo o filho de Trump, e discursar em um encontro conservador próximo de Washington no início deste ano.
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Há meses, os investidores presumem que Bukele está aguardando o retorno de Trump a Washington. Embora os planos fiscais do republicano tenham assustado alguns investidores, um rosto mais amigável na Casa Branca pode inclinar a balança para El Salvador e desbloquear um acordo com o FMI após três anos de negociações. Os EUA são o maior contribuinte do Fundo Monetário Internacional e devem votar a favor dos empréstimos.
“Sou muito mais simpático à visão de El Salvador do que a qualquer outro negócio porque há realmente um caminho para chegar” a um acordo com o FMI, disse Arif Joshi, um gestor de fundos da Lazard Asset Management. “O verdadeiro obstáculo para levar esse programa até a linha de chegada é realmente o problema do Bitcoin.”
Autoridades do fundo alertaram repetidamente sobre os riscos de ter o Bitcoin como moeda legal, pedindo ao país que abandonasse a criptomoeda se quisesse os dólares do FMI. Bukele, por sua vez, se recusou a abrir mão de seu experimento com o ativo digital.
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O FMI disse em um e-mail que as negociações em andamento com autoridades de El Salvador visam chegar a um novo acordo que fortaleceria as finanças públicas, melhoraria as reservas e aumentaria a produtividade. “Abordar os riscos decorrentes do projeto de Bitcoin é um elemento-chave de nossas discussões”, escreveu um representante do fundo.
Embora a missão do FMI seja encorajar o crescimento global e a cooperação financeira entre os países, a organização geralmente atende aos interesses políticos dos EUA. “Os EUA têm muita influência em termos do FMI”, disse Anthony Kettle, gestor sênior de portfólio do RBC Bluebay. “Vejo que as pessoas querem se agarrar agora a algum tipo de narrativa positiva de reforma e, geralmente, quando você envolve o FMI, é um sinal bastante positivo.”
A campanha de Trump não respondeu aos pedidos de comentário. Representantes da administração de Bukele e do Ministério das Finanças também se recusaram a comentar.
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El Salvador tem uma dívida de cerca de 70% do PIB, incluindo o que deve aos fundos de pensão, e suas finanças públicas permanecem frágeis, refletindo vulnerabilidades estruturais de longo prazo, de acordo com a S&P Global Ratings. Um acordo com o FMI desbloquearia mais financiamento condicionado a reformas econômicas, dando aos investidores confiança de que a dívida do país é administrável no médio prazo.
O déficit fiscal cairá de 4,7% em 2023 para 3,9% do PIB neste ano em meio ao aumento dos gastos com salários e investimentos de capital, de acordo com a Fitch Ratings. A Moody’s Ratings disse em maio que o país não tem uma estratégia para lidar com os altos custos de financiamento e identificar financiamento para cumprir as obrigações da dívida no médio prazo.
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