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Efeito Ozempic: com valorização de 65% em um ano, ainda há espaço para investir na Novo Nordisk?

Para especialistas, janela de investimento ainda pode estar aberta para "febre" do emagrecedor que tomou as redes sociais recentemente

Monique Lima

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A Novo Nordisk se tornou um fenômeno. A farmacêutica cresceu tanto que superou o maior conglomerado de luxo do mundo e se tornou a companhia mais valiosa da Europa, e até ficou maior que o Produto Interno Bruto (PIB) da Dinamarca, seu país-sede. E tudo isso por causa de um único produto: o medicamento Ozempic, que promete emagrecimento rápido e, até onde se sabe, sem efeitos colaterais graves.

Somente em 2023, as ações da Novo Nordisk subiram 44%. No acumulado de doze meses, os ganhos chegam a 65%. Com tanta valorização, o investidor pode pensar que o “bonde” já passou, mas, segundo analistas, o cenário ainda pode apresentar oportunidades.

Embora o Ozempic esteja na boca do povo, a aposta do mercado é no Wegovy, remédio da Novo Nordisk aprovado em 2021 pela FDA (a Anvisa dos Estados Unidos). O primeiro é um medicamento para tratamento de diabetes tipo 2, enquanto o Wegovy serve para o tratamento de obesidade.

Ambos têm o mesmo princípio ativo, a semaglutida, que dentre suas múltiplas funções no corpo, auxilia na supressão do apetite e aumenta a sensação de saciedade. O Wegovy é o primeiro a ter ensaios clínicos comprovando redução de peso de 15% em pessoas com IMC (Índice de Massa Corporal) de 27 ou acima – até então, o teto era na faixa de 10% e, ainda assim, com efeitos colaterais perigosos.

Não à toa, a Novo Nordisk abocanhou 87% do mercado de medicamentos antiobesidade, setor que o Goldman Sachs estima que atinja US$ 100 bilhões até 2030.

Efeito Ozempic ainda dura?

O Ozempic é de 2012 e a Novo Nordisk tem 100 anos de história, mas tudo mudou com a viralização nas redes sociais do desafio #OzempicChallenge, no qual celebridades e influenciadores alardeavam quantos quilos haviam emagrecido com ajuda do Wegovy.

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No Tiktok, onde o desafio mais teve adeptos, o termo “Ozempic” tem 1,3 bilhão de visualizações em outubro de 2023. O número teve reflexo rápido nas vendas do produto. Nos primeiros seis meses do ano, as vendas do Ozempic subiram 59% em comparação com o mesmo período do ano passado.

De janeiro a junho, as vendas do Wegovy subiram 363% na comparação anual.

A GeoCapital, gestora focada no mercado internacional, tem posição na Novo Nordisk e vê potencial na empresa, mas alerta que não é uma aposta para o curto prazo. “Existem gargalos que precisam ser superados e não será um processo rápido”, afirma Yong Cho, sócio e analista da GeoCapital.

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O investimento da gestora na farmacêutica não é recente. Segundo Cho, a Novo Nordisk é referência no tratamento de diabetes, com 50% de market share, e já era um case de sucesso antes de entrar no segmento de obesidade. Ele destaca que o Wegovy, que é o fármaco que auxilia na perda de peso, surgiu de um remédio para diabetes, que é o carro-chefe da empresa.

A tese de investimento na empresa tem como base o tamanho do mercado endereçável deste medicamento mundialmente.

A Organização Mundial da Saúde estima que mais de 1 bilhão de pessoas no mundo tem obesidade. Segundo o Atlas Mundial da Obesidade, se este número não diminuir, o impacto econômico global pode chegar a US$ 4 bilhões até 2035 (cerca de 3% do PIB global), considerando custos com os cuidados com a saúde e a queda na produtividade.

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Existem incentivos claros para a sociedade querer combater a obesidade. Mas antes não tinha um medicamento eficaz, agora tem. O potencial de medicamentos como o Wegovy é revolucionário,

Yong Cho, sócio e analista da GeoCapital

Para Felipe Marchioro, assessor da Ável, o potencial é promissor, mas o momento exige cautela. “Em momentos de crise, como o que vivemos, as pessoas tendem a buscar galinhas de ouro com um produto inovador para concentrar suas apostas. É preciso cautela”, diz.

Marchioro destaca que o Wegovy ainda está em fase de testes. Em agosto, a farmacêutica divulgou os resultados de um ensaio clínico que mostrou que o Wegovy reduziu o risco de eventos cardiovasculares em pacientes obesos, como ataques cardíacos ou derrames, em 20% em comparação com um placebo. As ações subiram 17% neste dia.

“O momento é positivo, os números são animadores, mas é tudo bastante inicial”, diz Marchioro. “É importante acompanhar o andamento dos estudos e ver se os números de vendas perduram nos próximos trimestres.”

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O que esperar para ações da Novo Nordisk?

Os feitos surpreendentes das ações da Novo Nordisk estão em linha com os números apresentados pela empresa, segundo os analistas.

As vendas líquidas globais da Novo Nordisk somaram US$ 15,2 bilhões nos primeiros seis meses do ano – alta de 30% na comparação anual -, impulsionadas pelo aumento das vendas do Ozempic e do Wegovy. O lucro líquido subiu 43% no mesmo período.

As projeções para o acumulado do ano já foram revistas três vezes, sempre para cima. Atualmente, a expectativa é de aumento de 27% a 33% nas vendas e de 31% a 37% no lucro operacional.

No compilado de recomendações do Market Watch, com 28 análises, o consenso classifica os papéis da farmacêutica como overweight, ou seja, esperam uma performance acima do mercado no futuro. A mediana de preço-alvo é de US$ 107,03 para os recibos de ações (ADRs) listados nos EUA. Atualmente, os papéis valem US$ 95,5.

Para Marchioro, subiu tanto que esticou. O assessor acredita que as ações devem passar por uma correção de, pelo menos, 10% no curto prazo. A GeoCapital também optou por reduzir sua posição na empresa pelos próximos meses, e aguardar os próximos movimentos.

O Goldman Sachs identifica três gatilhos para mais valorização das ações da Novo Nordisk. São eles:

Como investir

As ações da Novo Nordisk são listadas na Dinamarca, disponíveis em corretoras internacionais que dão acesso às bolsas europeias.

Porém, um caminho mais simples é por meio dos recibos de ações na Bolsa brasileira. Na B3, a empresa tem o BDR com ticker N1VO34. Já nos Estados Unidos, há as chamadas ADRs. Na Bolsa de Nova York (NYSE), a empresa é negociada com o código NVO.

Outra forma é por meio de fundos de índice, os ETFs, que investem em uma cesta de ações. Sendo assim, o investidor fica exposto a setores inteiros, neste caso, de biotecnologia e farmacêutico.

Outras empresas já estão trabalhando em seus próprios medicamentos antiobesidade, como Amgen (AMGN), Pfizer (PFE) e Eli Lilly (LLY), que espera liberação da FDA para prescrição em casos de obesidade do Mounjaro, um medicamento para diabetes tipo 2.

Exemplos de ETFs listados nos EUA, que tem essas companhias entre suas posições, são o VanEck Pharmaceutical ETF (PPH) e o First Trust International Equity Opportunities ETF (FPXI).