É hora de repensar a renda fixa? Veja os ajustes dos gestores nas carteiras com Selic mantida em 13,75%

Especialistas recomendam avaliar o prazo das aplicações e proteções oferecidas pelos ativos atrelados à inflação

Neide Martingo

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O mercado já esperava pela manutenção da Selic em 13,75% ao ano na última reunião deste ano do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central . Mas com a confirmação, a hora é de fazer avaliação das carteiras. Pelo menos uma vantagem a taxa nas alturas oferece ao investidor que opta pela renda fixa: uma boa rentabilidade.

O diretor de renda fixa da gestora Empírica, Renato Lázaro Ramos, espera que, a partir de agora, a taxa de juros permaneça nesse patamar por um período de tempo considerável. Para ele, não é só a Selic que está alta.

“Os juros reais presentes nas NTN-Bs [títulos atrelados à inflação, chamadas no Tesouro Direto de Tesouro IPCA+] estão na faixa de 6% ao ano, patamares também bastante atrativos. Por outro lado, as taxas prefixadas, apesar de nominalmente altas, estão sujeitas ao risco de variações de preços importantes por conta de incertezas fiscais pelo lado interno, e ao cenário de juros reais altos e crescimento baixo nas principais economias do mundo”, diz.

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Nesse cenário, avalia Ramos, uma carteira que privilegia investimentos de prazos médios e longos indexados ao IPCA parece uma boa estratégia: NTN-Bs e fundos de crédito privado atrelados à inflação, que possibilitam agregar um spread de crédito significativo (embora com riscos) aos juros reais já altos. “Isso para recursos com horizonte de médio e longo prazo. E investimentos referenciados em CDI para recursos com horizonte mais curto de investimento”.

Já Mariano Andrade, sócio da Polo Capital, vislumbra em um cenário de Selic alta juntamente com a “gastança” que pode acontecer com a PEC da Transição aprovada no Senado, ponto nevrálgico do novo governo com o mercado. “Há o perigo de os juros subirem muito e as estruturas de capital ficarem insustentáveis, ou seja, a dívida vai consumir todo o fluxo que uma empresa gera por conta do CDI, não pelo spread corporativo”.

“Nós estamos sendo muito seletivos nos papéis, até termos clareza fiscal maior. Entramos em negócios menos cíclicos, como saneamento, distribuição de energia elétrica e serviços corporativos”, detalha Andrade. Outra opção é o risco bancário. “Algumas Letras Financeiras subordinadas são competitivas, no que se refere à expectativa de retorno com relação a títulos corporativos”.

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Com esse “cuidado”, a Polo Capital está saindo do segmento “consumidor’, a parte mais pressionada, segundo o especialista, e buscando duration (prazo) mais baixo, até que se tenha uma clareza maior nos juros, como uma forma de reduzir o risco.

Precauções

O mercado agora tenta se blindar do risco. “Temos preferência por ativos de empresas pouco alavancadas e em setores mais defensivos, como o de concessões, para compor portfólio”, detalha Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Órama.

O retorno, ressalta, é buscado em empresas de setores com maior risco econômico, como aluguel de veículos ou saúde, porém bem posicionadas na sua cadeia, com forte valor de marca e capacidade de repasse de preços. Esse perfil de empresa, detalha Espírito Santo, consegue se defender bem de cenários de juros altos.

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Já no ambiente de investimentos estruturados, a Órama evita, já há algum tempo, operações com estrutura de financiamento com prazos longos de pessoas físicas sem garantia. “A alavancagem dessa classe está muito elevada e, com juros altos, por consequência, o comprometimento de renda está no nível mais elevado dos últimos anos”.

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Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney